Crise hídrica: Entenda como o RS pode sofrer impacto da baixa geração de energia do Sudeste | Rio Grande do Sul


Entrou em vigor, na quarta-feira (1º), novo patamar de bandeira tarifária para as contas de luz de todo o país. Além do impacto no bolso do consumidor, a crise hídrica que ocorre no Brasil, provocando a queda do nível dos reservatórios, pode trazer outros reflexos para o Rio Grande do Sul.

A avaliação é do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Guilherme Fernandes Marques. Para o coordenador do Núcleo de Pesquisa em Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (Gespla), há risco da energia gerada ser menor do que a necessidade de consumo.

“Existe o risco, pois com o RS está recebendo energia da região Sudeste, um déficit lá irá refletir aqui. Risco de não termos energia gerada suficiente para atender à demanda”, diz.

Os principais reservatórios do estado ficam nas bacias dos rios Uruguai e Jacuí, com a maioria de usinas e centrais hidrelétricas na metade norte do estado. A mais importante do estado, a de Barra Grande, em Pinhal da Serra, no Norte do RS, é a que apresenta menor volume. Veja abaixo

Nível de reservatórios do RS (%)

Atualizado em 1º de setembro

Fonte: ONS/Operador Nacional do Sistema Elétrico

O especialista lembra que o sistema nacional é interligado. Assim, quando os estoques de água são maiores em uma região e menores em outra, ocorre um “intercâmbio de energia”. A transferência pode ser mais barata do que o aumento na geração. Contudo, quando todo o sistema está em baixa, fica mais difícil de fazer o manejo.

“Já teve época que tinha mais estoque de água aqui, aí o estado gerou excedente de energia e transferiu para o Sudeste. Agora em 2021 está acontecendo o contrário. A região Sudeste está transferindo energia para cá [Sul], a região Norte está transferindo para o Sudeste, a região Nordeste também”, explica Marques.

O professor Guilherme Fernandes Marques comenta que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estabelece políticas para equilibrar o volume e a vazão dos reservatórios.

“A estratégia da operação é tentar preservar o máximo de água dos reservatórios para poder esticar a geração. A usina hidrelétrica depende não apenas da vazão, mas também da queda d’água. Se o nível for caindo, mas mantiver a mesma vazão, a quantidade de energia gerada é menor. É preferível passar menos água pela turbina e manter o nível mais alto”, detalha.

O Subsistema Sul, que compreende barragens de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, está com volume útil de 27,23%.

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Em razão das conexões de todo o sistema, não é possível dizer que um estado é autossuficiente, ou seja, que produz energia suficiente para o próprio consumo.

O Rio Grande do Sul, por exemplo, gerava 5% da capacidade instalada no Brasil em 2017. Naquele ano, o potencial de produção do estado era de 8.240,1 MW. Os dados são da Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Mais da metade da eletricidade produzida pelo estado é oriunda de recursos hídricos. O restante é de geração eólica ou térmica (queima de carvão, óleo, gás, biomassa, entre outros). Menos de 1% é gerado por energia solar. Veja abaixo

Matriz de geração de energia elétrica no RS

Ano base: 2017

Fonte: EPE/MME

Usina termelétrica no Rio Grande do Sul — Foto: Reprodução/RBS TV

Tanto consumidores domésticos quanto indústrias estão preocupados com o aumento na conta de luz, como mostrou reportagem do RBS Notícias na quarta-feira. Veja abaixo

A empregada Marilene Macedo, de Caxias do Sul, na Serra, mora com mais duas pessoas. A cobrança, que era de R$ 120 em média, chegou a R$ 284 no último mês.

“A gente economiza o máximo que pode, com luz, com banho, com lavação de roupa. Agora a gente não sabe o que vai fazer”, lamenta.

Reajuste na conta de luz é de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos — Foto: Reprodução/RBS TV

O reajuste que passou a valer na quarta gera um custo adicional de R$ 14,20 para cada 100 kW/h consumidos. O empresário Carlos Luiz Furlan projeta reduzir a produção de sua indústria no horário de pico. A conta de luz representa 20% das despesas da unidade.

“A gente depende de energia elétrica, não tem como o moinho gerar sem energia elétrica. Porém, a gente tem administrado, por exemplo, os horários de ponta, de não produzir, que são os momentos mais críticos”, afirma.

Novo aumento na conta de luz começa a valer a partir desta quarta (1º)

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Fonte:G1