Criptomoedas estão em alta no Brasil?


De olho no crescente interesse do mercado, fintechs, bancos tradicionais e empresas do setor de varejo têm aumentado o lançamento de produtos vinculados às criptomoedas. O assunto também está na agenda do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em junho passado, por exemplo, ele participou de evento no Rio para ouvir propostas para a regulamentação do setor no País. Olhando de fora, até pode parecer desperdício de tempo para alguém que, num cenário pré-eleitoral, já enfrenta a enorme tarefa de controlar as expectativas de inflação e indicar um rumo seguro para a trajetória dos juros. Mas não é.

“É em momentos assim que surgem as oportunidades”, diz Axel Blikstad, sócio da BLP Crypto, que colocou na rua o primeiro fundo cripto do Brasil, no fim de 2017, e hoje responde pela gestão de quatro carteiras – três no Brasil e uma no exterior, totalizando R$ 155 milhões de patrimônio.

As transações com criptomoedas não existem fora do ambiente digital. Não é possível guardá-la num cofre ou carregá-la na carteira. São também “ativos descentralizados”, na medida em que nenhum órgão de governo ou país tem como controlar sua emissão e negociação. De forma resumida, o registro público das operações (quanto foi negociado, quem comprou, quem vendeu etc) é feito por meio de uma tecnologia chamada blockchain.

Sem poder de controle, muitos países têm estudado o lançamento de suas próprias moedas virtuais, caso do Brasil. Os testes para o Real Virtual – que deverá funcionar como uma extensão da moeda física e, diferentemente das criptomoedas, será garantido pelo BC – devem começar em 2023.

Estruturado a partir de 2008, esse mercado enfrenta hoje seu primeiro inverno, consequência do cenário de aumento acelerado dos juros (para enfrentar uma inflação persistente) e do receio de recessão nas principais economias do mundo. Primeiro ativo a ser negociado, o Bitcoin acumulou queda de 60% no primeiro semestre do ano, recuando de US$ 47 mil para menos de US$ 20 mil – o pior patamar desde o fim de 2020. O ativo reagiu em julho (alta de 19%), mas o alívio ainda não autoriza ninguém a dizer que os bons tempos já estão de volta.

Mas lembra o que Blikstad afirmou acima? Sobre o momento de oportunidades? No mês passado, por exemplo, a BitPreço comprou por um valor não revelado a corretora Biscoint. Seu objetivo é oferecer uma plataforma de serviços baseada em moedas virtuais, um pouco como a Galaxy vem fazendo nos EUA. Em outro movimento, têm pipocado no Brasil um número cada vez maior de bares, aplicativos de transporte e empresas especializadas em pagamentos, entre outros, que aceitam a moeda virtual. Os bancos digitais também investem nesse mercado. Só o Nubank declara já ter atingido mais de um milhão de clientes em criptomoedas.

Isso vale também para os investidores. Uma pesquisa recente feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que o brasileiro, de forma geral, ainda prefere a poupança e os títulos de renda fixa na hora de distribuir seus recursos. Mas quando o assunto é criptomoeda, ele demonstra mais apetite e arrojo do que ingleses e franceses.  A sondagem também apontou o dedo para algumas distorções, como o fato de o brasileiro manter seu foco em retorno de curto prazo – algo  inconcebível no caso de uma criptomoeda, que embute risco até maior do que em operações em Bolsa de Valores. Além disso, ele continua se guiando mais pela rentabilidade passada do que por análises sobre desempenho futuro.

Os especialistas com quem conversei fizeram uma analogia interessante. Quando a internet foi criada, em 1969,  tinha como função interligar laboratórios de pesquisa nos Estados Unidos. Essa rede pertencia ao Departamento de Defesa americano. Ou seja, era restrita. Ela se massificou depois da invenção do e-mail, gratuito e de fácil compreensão de uso. No mundo das moedas virtuais, talvez ainda esteja para surgir “o” serviço ou “o” produto que possa fazer o mesmo que o e-mail fez pela internet. O pulo do gato das criptomoedas está para acontecer?

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