Crescimento desigual, inflação e dívida pública são as ‘pedras no sapato’ da economia, diz diretora do FMI | Economia


A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, foi convidada a falar dos desafios da economia global após o choque da pandemia do coronavírus em discurso na Universidade de Bocconi, na Itália.

A apresentação marcou o início dos encontros anuais do FMI por meio do evento Think20, que tem por base discutir os desafios multilaterais para os países do G20. A economista discursou de forma remota, na sede do fundo em Washington DC.

A economista adiantou que o crescimento global projetado pelo FMI em abril, uma alta de 6% em relação ao ano passado, pode ser levemente revisto para baixo.

“Agora esperamos que o crescimento seja ‘ligeiramente moderado’ este ano”, disse Georgieva.

Para que o número não seja novamente revisto para baixo, ela compartilhou algumas diretrizes que o fundo entende como fundamentais para que a recuperação econômica global seja mais vigorosa.

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Três ‘pedras nos sapatos’

Segundo Georgieva, a pandemia do coronavírus continua atrapalhando a recuperação da economia global, como tentar andar com “pedras nos sapatos”. A economistas cita especificamente três dessas “pedras”, mas atribui sua existência à distribuição desigual de vacinas entre os países no mundo.

O primeiro problema citado é a divergência de crescimento econômico. Apesar de países como Estados Unidos e China continuarem como locomotivas da economia global e alguns países, europeus e emergentes, experimentarem certa recuperação, há países mais pobres em que o crescimento continua a patinar por falta de vacinas e pouca capacidade de criar políticas de resposta.

“E essa divergência está se tornando mais persistente. (…) Essa recuperação retardada tornará ainda mais difícil evitar cicatrizes econômicas de longo prazo — incluindo a perda de empregos, que atingiu principalmente jovens, mulheres e trabalhadores informais”, afirmou Georgieva.

A segunda “pedra” é a inflação, que a economista destaca que deve ser persistente em economias em desenvolvimento.

“Uma preocupação particular com a inflação é o aumento dos preços globais dos alimentos — mais de 30% no ano passado. Junto com os aumentos nos preços da energia, isso está pressionando ainda mais as famílias mais pobres”, disse ela.

Além de um rápido aumento nas taxas de juros e forte aperto das condições financeiras, a economista destaca que há desafio particular para as economias com altos níveis de endividamento, que poderiam complicar o manejo fiscal dos países, inclusive para manejo de gastos emergenciais no pós-pandemia.

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Segundo Georgieva, o FMI estima que a dívida pública global tenha aumentado durante a pandemia para um patamar de 100% do PIB.

Por um lado, o endividamento é uma consequência do esforço fiscal feito pelos países para formular políticas de combate e auxílio durante os momentos mais críticos da pandemia. Por outro, também reflete as perdas de arrecadação pela interrupção da produção e da atividade econômica.

“Aqui vemos outra divisão profunda, com alguns países mais afetados do que outros – especialmente no mundo em desenvolvimento. Muitos começaram a pandemia com muito pouco poder de fogo fiscal. Agora eles têm ainda menos espaço em seus orçamentos”, disse a economista.

‘Vacinar, calibrar e acelerar’

A resposta de Georgieva para os problemas constatados pelo FMI passam por políticas fortes de vacinação ampla, de políticas econômicas específicas para a realidade de cada país e realizadas de forma rápida.

“As nações mais ricas devem cumprir suas promessas de doação [de vacinas] imediatamente. E, juntos, devemos aumentar a capacidade de produção e distribuição de vacinas; e remover as restrições comerciais sobre materiais médicos”, disse.

A iniciativa não seria apenas humanitária. Pelos cálculos da economista, sem uma vacinação ampla e que elimine o peso na recuperação econômica, a perda de PIB global por conta apenas de atrasos na vacinação seria da ordem de US$ 5,3 trilhões.

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Sobre política econômica, a economista chama atenção para a necessidade de calibrar as ações, em especial entre países em desenvolvimento. Trata-se de manter um balanço adequado entre a necessidade de gasto e planejamento para o futuro com orçamentos mais apertados.

“Para enfrentar esses desafios, os governos precisam de credibilidade política: estruturas sólidas de médio prazo para garantir o equilíbrio certo entre fornecer apoio agora e reduzir a dívida ao longo do tempo”, afirmou.

Por fim, ela destaca a urgência de todas essas iniciativas, citando não só a pandemia como a emergência climática, a revolução tecnológica e a inclusão social entre os focos de atenção.

“Trabalhando juntos, podemos garantir que a transformação do sistema monetário internacional beneficie a todos”, disse Georgieva.



Fonte: G1