Credibilidade econômica | VEJA


Um dos desafios mais sérios que o governo enfrenta é construir credibilidade perante os agentes econômicos. Sem ela, investimentos são postergados e a dinâmica da economia perde energia. O início do governo Lula trouxe muitas dúvidas. Além das declarações polêmicas sobre juros e o mercado, havia questões sobre a composição da equipe, como ela se relacionaria com o Banco Central independente e, ainda, como lidaria com as pressões do mercado e com o fogo amigo do governo.

Para o mercado, Fernando Haddad não era o ministro dos sonhos. No percurso inicial, duas escorregadas desagradaram os agentes econômicos: o retorno do voto de qualidade do Carf e a criação do imposto de exportação de petróleo. Ambas as iniciativas, provavelmente, não vão prosperar. Porém, no conjunto da obra, ele e seu time estão se saindo bem. Aos poucos e em meio a trovoadas e tempestades, a equipe econômica está construindo um capital de credibilidade com os agentes econômicos.

Antes mesmo da posse, conseguiu costurar com aliados e a oposição a PEC da Transição e a aprovação do Orçamento de 2023. O acordo com os governadores sobre as perdas dos estados com o ICMS dos combustíveis também foi positivo. Nas negociações com o Congresso, ficou evidenciado o empenho pela busca de um marco fiscal decente. A proposta pode não ser a ideal mas não deixa de ter consistência. A contenção ao delírio do tabelamento do crédito consignado também foi uma mostra de pragmatismo.

“Haddad tem consolidado um núcleo racional e pragmático no governo”

Dois aspectos devem ser ressaltados. O primeiro deles é a postura calma e prudente de Haddad em meio ao tiroteio de declarações confusas e imprudentes de aliados. Ao lado da ministra Simone Tebet, ele tem consolidado um núcleo de racionalidade e pragmatismo no governo que, dada a sua diversidade, lida com peculiaridades extravagantes quase todos os dias.

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Uma delas é o fato de a maior oposição ao governo vir de seus próprios aliados. Pragmáticos e lunáticos disputam a primazia de políticas públicas em um ambiente que termina sendo arbitrado pelo presidente Lula.

A segunda consideração é que o time de Haddad construiu uma interlocução relevante com o mercado, o BC, investidores internacionais e o Congresso. Não é pouco. Sem um diálogo construtivo com o Congresso e uma reação positiva do mercado às suas intenções, as propostas do governo vão se esfarelar.

Ser ministro da Fazenda no Brasil não é fácil em qualquer situação. Dadas as circunstâncias fiscais, econômicas e políticas, o desafio é ainda maior. Tanto pela agenda posta quanto pela inevitável necessidade de desenvolver consensos em pautas complexas, além do dever de projetar expectativas positivas. O mercado e os investimentos na economia real dependem das expectativas criadas pelo time econômico.

No início de abril, o real se valorizou e a inflação veio abaixo do esperado. A bolsa reagiu positivamente. Ainda é cedo para comemorar uma eventual virada nas expectativas. Mas devemos considerar que é plausível que ocorra uma melhora no ambiente econômico. Em especial se os pragmáticos predominarem no processo decisório.

Publicado em VEJA de 19 de abril de 2023, edição nº 2837

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