A tilápia é o peixe mais cultivado e consumido no Brasil, mas uma pesquisa agrega outros valores à espécie nos segmentos de moda, farmácia e suplementação.
Pesquisadores do Departamento de Zootecnia e pós-graduação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Paraná, têm produzido peças de roupas experimentais com a pele do peixe. O processamento conta ainda com material hospitalar e farinha para suplementação alimentar.
Couro de tilápia vira matéria-prima de roupas e vários produtos
O Paraná lidera o cultivo de tilápia no país, com 209 mil toneladas em 2023, 11,5% maior em relação a 2022, representando 36% do total produzido, segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).
Com a pesquisa, parte dessa produção estadual pode se transformar em outros produtos ligados às indústrias da moda, hospitalar, farmacêutica e alimentícia, que ajudam a reduzir o desperdício na cadeia produtiva da piscicultura.
Moda
A professora Maria Luiza Rodrigues de Souza, do Departamento de Zootecnia da UEM, criou um laboratório de processamento de peles de pequenos e médios animais como peixes, coelhos, caprinos, jacarés, entre outros.
O laboratório, que iniciou suas atividades em 2004, é referência em pesquisas sobre a transformação da pele do peixe em couro, onde são aplicadas técnicas de curtimento em diferentes espécies de peles animais, que envolve análises de resistência dos couros processados e outros testes.
Para Maria Luiza, o processamento do couro de tilápia representa um potencial econômico a ser explorado por produtores e toda cadeia produtiva. Segunda ela, a pele que sobra da produção do pescado representa de 4% a 10% do seu peso.
“Independentemente de onde você vai aplicar o couro de tilápia, seja em calçados, bolsas ou outras roupas e acessórios, ele vai enriquecer muito o produto e elevar o seu preço porque se trata de algo diferenciado no mercado”, afirmou a professora.
Mercado
Durante a 2ª edição do Santa Catarina Fashion Week, que aconteceu em setembro em Florianópolis e o 58º São Paulo Fashion Week, em outubro na capital paulista, roupas confeccionadas com couro de tilápia produzido pelos pesquisadores da universidade ganharam as passarelas.
As estilistas confeccionaram em conjunto com a zootecnista Amanda Hoch, ex-aluna de pós-graduação da universidade e ex-orientanda de Maria Luiza. Ela também é coproprietária da Tilápia Leather, uma empresa especializada na produção do couro usado como base para a confecção de sapatos, bolsas e outros artigos de vestuário feitos a partir da pele da tilápia.
Além dos eventos de moda, as técnicas de curtimento também já foram amplamente apresentadas em eventos científicos internacionais que aconteceram na Argentina, Colômbia, Equador, Itália e México.
“Na maior parte dos casos, os piscicultores não sabem o que fazer com a pele e acabam vendendo ela por um valor bem baixo, de 15 a 30 centavos por quilo, enquanto nós pagamos até R$ 5 por quilo, o que para eles representa um acréscimo de 30% no valor total da produção de tilápia, que pode ser reinvestido com contratação de mais funcionários ou em melhorias de suas propriedades”, acrescentou Amanda.
Farmácia
No laboratório, foi aprimorado com a extração do colágeno da pele da tilápia e a inclusão de fármaco para a produção do biofilme para ser aplicado em feridas abertas e queimaduras, considerado um curativo biológico, que promovem a hidratação, proteção da área lesada e e acelera o processo de recuperação dos tecidos afetados.
Suplemento alimentar
Já a farinha de tilápia vem ganhando destaque como um suplemento alimentar rico em proteínas, ômega 3, ômega 6, cálcio e fósforo, valorizado por atletas e pessoas em dieta.
O processo de produção aproveita partes do peixe que seriam descartadas, como o espinhaço, costelinhas e carne que sobra da filetagem, que são cozidos, secados e moídos, gerando a farinha, que pode ser adicionada em shakes, pães, bolachas, bolos e está sendo testada em outras massas, no leite, arroz e na produção de chips.
Produção brasileira de tilápia
A tilápia é um peixe de origem africana, mas que se adaptou bem a criação em cativeiro de água doce e hoje é a espécie mais cultivada no Brasil, sendo o quarto maior produtor mundial, atrás de China, Indonésia e Egito.
Em 2023, a produção brasileira alcançou 579.080 toneladas, alta de 5,28% em relação ao ano anterior, representando 65,3% do total nacional. Nos últimos dez anos, o cultivo saltou 103%, saindo de 285 mil toneladas para 579 mil toneladas, segundo dados da Peixe BR.