Como a Petrobras ainda atrapalha os planos de Bolsonaro


A inflação influencia diretamente na popularidade dos governantes. Principalmente, em ano de eleições. Afinal, é capaz de reduzir drasticamente o poder aquisitivo dos cidadãos. Nesse sentido, governantes mundo afora enfrentam o desafio de contornar o impacto da alta dos preços dos combustíveis para preservar a sua popularidade.

Apesar de o governo de Jair Bolsonaro ter realizado mudanças na Petrobras para tentar conter o repasse dos preços, e consequentemente o lucro dos investidores, por meio de trocas sucessivas da gestão da estatal e de uma substituição de ministro de Minas e Energia, a queda dos preços dos combustíveis no Brasil não acompanha a mesma que ocorre no mercado internacional. O estabelecimento de um teto para o ICMS e a desoneração de impostos federais ajudaram os preços a cair, mas a redução poderia ser maior. “Existe uma diferença absurda entre a queda que ocorreu nos Estados Unidos e a queda no Brasil. Aqui, nos Estados Unidos, eu pagava 5,25 dólares o galão da gasolina há três meses, e hoje pago 3,19 dólares”, diz Daniel Toledo, advogado que atua junto a petrolíferas.

De acordo com o Índice de Preços Ticket Log (IPTL), em maio, o preço da gasolina no Brasil estava em média 7,594 reais, e no último dia 22 de agosto, em 5,790 reais. A queda americana é de 39,2% (em real, incluindo a variação da cotação do dólar, a queda corresponderia a 35,5%), enquanto a brasileira corresponde a 23,7%.

Para Adriano Pires, especialista em petróleo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) que quase assumiu a presidência da Petrobras este ano, os repasses no mercado brasileiro são mais lentos uma vez que a Petrobras é a única empresa que comercializa o produto no país e é controlada pelo Estado, enquanto nos Estados Unidos funciona o livre mercado, com 160 refinarias. “Na Petrobras, há o Comitê de Preços, um nome que já remete a algo comunista. Três pessoas determinando o preço de uma commodity é uma anomalia total. Precisamos acabar com isso, privatizando refinarias o mais rápido possível”.

O avanço poderia ser muito maior. “Nos Estados Unidos, o mercado funciona e os preços são determinados diariamente, mas no Brasil temos apenas o início disso, com a privatização da refinaria na Bahia (Refinaria de Mataripe, vendida pela Petrobras para a Acelen, do fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos), que segue muito mais os preços do mercado internacional que a Petrobras. Se tivéssemos várias refinarias privadas no Brasil, isso também aconteceria”, diz ele.

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