‘Com certeza, foi o pior ano para nós empresários’, diz dona de rede de lavanderias na Zona Sul do Rio | Economia


É assim que a empresária Cláudia Mendes, de 55 anos, define 2020. Sobreviver foi sua palavra de ordem ao longo de nove meses de pandemia e, às vésperas do fim do ano, mesmo sem o balanço financeiro do ano fechado, ela já considera que foi o pior período para a rede de lavanderias na Zona Sul do Rio em 30 anos de negócios.

“Não temos ainda nada fechado em relação ao ano de 2020. Mas, com certeza, foi o pior ano para nós enquanto empresários para lidar com isso tudo. Foi muito difícil e muito assustador”, disse a empresária.

Fachada de uma das três lojas da rede de lavanderias Laundry Express, em Copacabana, da empresária Cládia Medeiros Mendes — Foto: Daniel Silveira/G1

Desde o início da pandemia, o G1 está acompanhando as histórias de empreendedores que estão tentando sobreviver à crise. Veja aqui o que os mesmos empresários contaram em abril; o que disseram em maio, em julho, em setembro, e os novos depoimentos este mês:

Veja também o que Cláudia Mendes contou ao G1 nos meses anteriores:

Por se tratar de um serviço essencial, as lavanderias de Cláudia se mantiveram abertas durante toda a pandemia. O G1 a acompanha desde março, quando teve início a crise sanitária e econômica. Num primeiro momento, o faturamento caiu cerca de 70%. A partir de julho, com a retomada gradual das atividades econômicas, passou a faturar um pouco mais, algo em torno da metade do habitual.

O principal motor de seu negócio, segundo Cláudia, é o turismo, que aumenta muito a demanda por lavagens de roupa, principalmente no verão. Com a segunda onda da Covid-19, que fez os casos e mortes voltarem a subir no país, ela não vislumbra a retomada de turistas em volume suficiente para alavancar o faturamento novamente.

“Em novembro, nós sentimos uma melhora no turismo, mas apenas de brasileiros. O turista brasileiro também é bom para nós, mas nem tanto. Brasileiro viaja com muita roupa, ao contrário dos estrangeiros, principalmente os europeus, que são acostumados a viajar com uma mochila apenas. Então, o turista brasileiro não aumenta muito a nossa demanda”, apontou a empresária.

As três lavanderias da rede ficam em Copacabana, uma das praias mais famosas do mundo. A tradicional queima de fogos da princesinha do mar, como também é conhecido o principal cartão postal do Rio, não vai acontecer este ano – é a primeira vez em décadas que o réveillon carioca é cancelado. Com isso, Cláudia não tem a menor expectativa de aumentar a demanda em janeiro.

Para sustentar a empresa ao longo destes nove meses de pandemia, Cláudia contou com dois programas do governo federal para socorro aos empresários. O primeiro foi o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda, que permitiu a redução da carga horário ou a suspensão dos contratos dos funcionários. O segundo o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), por meio do qual conseguiu tomar emprestado R$ 150 mil.

“O dinheiro do Pronampe nós conseguimos administrar para que ele pudesse nos sustentar por algum tempo. Mas ele já acabou há bastante tempo, há pelo menos dois meses. Nós não temos mais dinheiro nenhum do Pronampe. A gente tem feito muito sacrifício para não atrasar as contas”, enfatizou Cláudia.

Pagar as contas é a grande preocupação da empresária, principalmente a partir de janeiro, quando começam a vencer as parcelas do empréstimo. Além disso, as lavanderias retomarão todo o quadro de pessoal. Dos 18 funcionários, três estão com os contratos suspensos e outros três com jornada reduzida.

O acordo com o governo obriga os empresários que aderiram ao programa a garantir estabilidade dos empregos aos funcionários pelo mesmo prazo em que tiveram os contratos suspensos ou reduzidos. Sem a perspectiva de ver a demanda pelos serviços voltar a crescer, Cláudia diz que não vai ter trabalho para todo mundo e que o baixo faturamento tende a dificultar ainda mais honrar com os salários de todos.

“Final de ano é sempre o momento mais complicado para o pequeno empresário, porque é aquele momento em que vem 13º e todos os impostos em dobro. Então, fica difícil para nós pensarmos que vamos ter que trazer todo mundo de volta ao trabalho por nossa conta sem que tenhamos um faturamento que justifique estarmos com todos esses funcionários”, reclamou a empresária.

Cláudia destacou que quando contratou o empréstimo via Pronampe pensava que quando tivesse que começar a pagá-lo a situação já estaria normalizada. Mas não foi o que aconteceu. “A pandemia continua, as internações continuam, o risco de contágio continua”, enfatizou a empresária.

Ela enfatizou, ainda, ter esperanças de que o governo anuncie novas medidas de apoio aos pequenos e microempresários, como a extensão do Programa de Manutenção do Emprego e Renda e do prazo para começar a pagar o Pronampe.

“Eu ainda acredito, quero acreditar, que vai acontecer alguma coisa em relação à política governamental que possa nos respaldar. Porque acredito que, assim como eu, muita gente já deve estar apavorada com o pós 31 de dezembro, que é quando acaba o auxílio de suspensão e redução de salários”, disse.

A empresária Cláudia Medeiros Mendes, dona de uma rede de lavanderias em Copacabana, Zona Sul do Rio, disse nunca ter enfrentado crise tão severa em 30 anos de negócio — Foto: Daniel Silveira/G1

Outro auxílio que a rede de lavanderias teve foi um desconto de 30% no valor do aluguel das três lojas. De uma delas, o desconto já deixou de ser aplicado há três meses. Lucro, Cláudia não teve até hoje. “Continuo apenas pagando as contas”.

Questionada sobre suas expectativas para 2021, Cláudia se mostrou desanimada, mas consciente de que, ainda assim, tem o que comemorar no encerramento do ano.

“Sem animação nenhuma. A gente está se mantendo. Eu até me acho vitoriosa por estar conseguindo manter a minha empresa. Em nenhum momento eu pensei em fechar as portas, o que nos dia de hoje é um privilégio”, ponderou.

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Fonte: G1