Com aumento de incertezas, pessimismo com a economia já atinge estimativas para 2022 | Economia


Depois do tombo de 4,1% no PIB no ano passado, a expectativa era que a economia mostrasse uma recuperação significava este ano e no próximo. Mas o pessimismo está se alastrando, e não se restringe a este ano: nas últimas semanas, parte dos bancos e das consultorias começou a revisar para baixo a projeção para o desempenho para 2022.

No relatório Focus, do Banco Central, os analistas consultados projetam que a atividade econômica deve crescer 2,5% no ano que vem. Mas já há economistas que avaliam que o PIB deve ter dificuldade para superar o patamar de 2% no próximo ano.

O banco Itaú, por exemplo, reduziu a projeção de crescimento de 2022 de 2,5% para 1,8%. Num movimento similar, a consultoria MB Associados diminuiu de 2,4% para 1,8% a previsão de alta do PIB.

A dificuldade prevista para 2022 se soma a um cenário de bastante cautela já presente neste ano diante do descontrole da pandemia de coronavírus. Com a disparada de mortes provocadas pela Covid-19 e o lento ritmo de vacinação, os economistas avaliam que o PIB deve crescer pouco mais de 3% em 2021, sem recuperar as perdas de 2020.

São vários os fatores que têm contribuído para uma visão mais pessimista para o Brasil no médio prazo. Nessa lista estão a piora fiscal enfrentada pelo país, o aumento da taxa de juros, a incerteza com a eleição presidencial do próximo ano e o comportamento da economia global.

Por ora, os efeitos diretos da pandemia de coronavírus, como a abertura e fechamento de atividades consideradas não essenciais, não são vistos como uma grande ameaça para 2022. A expectativa é que a economia comece um processo de reabertura mais consistente a partir do segundo semestre de 2021. Mas, se o Brasil falhar no ritmo de vacinação, o cenário para o próximo ano pode ser ainda mais difícil.

A situação das contas públicas tem preocupado analistas desde 2014, quando o endividamento do país passou a crescer.

No ano passado, com todas as medidas adotadas para mitigar o avanço da pandemia de coronavírus, a dívida bruta do Brasil chegou a 89,3% do PIB – o patamar é considerado elevado para uma economia emergente como brasileira.

Com o descontrole da pandemia e a lenta vacinação, a dívida bruta deve crescer ainda mais em 2021 diante da necessidade do governo de socorrer famílias e empresas afetadas pela crise sanitária. Embora haja espaço no orçamento, a equipe econômica decidiu, por exemplo, bancar a nova rodada do Auxílio Emergencial com crédito extraordinário, ou seja, com mais endividamento. Neste ano, o benefício deve custar R$ 44 bilhões.

Bolsonaro assina MP que recria auxílio emergencial

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A expectativa de piora das contas públicas e a falta de clareza com o futuro das finanças do país preocupam e afastam os investidores. Como consequência, a percepção de risco sobre a economia brasileira cresce, desencadeando uma desvalorização do real e um aumento da inflação.

“O principal ponto é o problema fiscal do Brasil”, diz Luka Barbosa, economista do banco Itaú. “O país tem uma dívida pública muito elevada para um país emergente. Esse problema eleva o prêmio de risco da economia brasileira, faz a taxa de câmbio depreciar, aumenta a inflação e torna necessária a subida de juros.”

Na quarta-feira (17), o BC deu início ao ciclo de alta da taxa básica de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu boa parte dos analistas e aumentou a Selic em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano – a aposta majoritária era de uma subida de 0,50 ponto.

Juros mais alto encarem a tomada de crédito, afetando o consumo das famílias e os investimentos das empresas.

Copom eleva taxa básica de juros de 2% para 2,75% ao ano

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Mesmo com uma atividade enfraquecida, o Banco Central tem sido pressionado pela inflação. Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 5,2% em 12 meses e ficou próximo do teto da meta do governo, que é de 5,25%.

Nas projeções da consultoria MB Associados, a Selic deve encerrar este ano em 5,5% e vai chegar a 6,5% em 2022.

“O aumento dos juros tira efeitos de crescimento especialmente de consumo e investimento”, afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. “O setor imobiliário, por exemplo, que se beneficiou da taxa de juros a 2% terá na taxa de 5,5% e 6,5% um momento mais difícil para vendas financiadas.”

Com tantos problemas na economia, o Brasil caminha para a próxima a eleição presidencial com uma serie de desequilíbrios. No debate político, a principal dúvida será como o país vai encaminhar uma agenda de reformas, sobretudo na área fiscal, para acertar as contas públicas.

Por ora, na leitura dos analistas, os principais candidatos serão o atual presidente Jair Bolsonaro e o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a ser elegível no início deste mês.

“O cenário eleitoral deve se consolidar numa disputa entre Bolsonaro e Lula. A gente acha bastante difícil uma construção de centro porque não está fácil achar um nome”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências.

Os dois candidatos despertam incerteza. Depois de mudar o comando da Petrobras, o mercado passou a questionar se Bolsonaro vai adotar uma posição intervencionista na economia e, para o futuro, qual será a cara da equipe econômica num eventual segundo mandato. Na quinta-feira (18), uma nova névoa sobre o rumo da política econômica. Foi a vez de André Brandão deixar o cargo de presidente do Banco do Brasil.

André Brandão renuncia e governo indica diretor de consórcios à presidência do BB

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Com Lula, a dúvida também é qual deve ser a cara do programa econômica apresentado pelo petista se ele participar da disputa.

“O cenário de 2022 vai ser de bastante volatilidade e de aumento de riscos, seja por essas potenciais novas políticas (econômicas) do Bolsonaro e, claro, pela disputa eleitoral, com uma dúvida de qual será a política apresentada pelo Lula”, diz Alessandra.

A consultoria Tendências projeta que o PIB de 2022 deve crescer 2,5%, mas, diante de todas as incertezas, avalia que há um risco dessa previsão ser revisada para baixo.

“A questão é se haverá uma condução da política minimamente responsável”, afirma Marcelo Fonseca, economista do Opportunity Total. “O sistema político tem de entender que é a solvência do estado brasileiro que está em xeque.”

O Brasil também lida com um cenário internacional mais desafiador.

Com a economia dos Estados Unidos dando sinais de aquecimento, o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) pode promover um aumento das taxas de juros antes do esperado pelo mercado com o objetivo de controlar a inflação.

FED mantém taxa de juros e faz previsões otimistas para a econmia dos EUA

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Uma alta dos juros nos EUA tem potencial para atrair recursos aplicados em economias consideradas mais arriscadas, como a brasileira.

“É mais um fator de incerteza, e os países que apresentam riscos maiores vão sofrer muito mais”, diz Alessandra, da Tendências.

O governo do presidente Joe Biden conseguiu aprovar um pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão, o que deve dar um fôlego extra para a economia norte-americana.

Na quarta-feira (19), o Fed decidiu manter as taxas de juros próximas de zero até 2024 e aumentou a projeção de crescimento para este ano de 4,5% para 6,5%.

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Fonte: G1