Um levantamento recente feito pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) mostra o interesse crescente dos consumidores por veículos abastecidos por eletricidade no país. Para se ter ideia, em 2012 (início da série histórica) foram vendidas 117 unidades no Brasil. Só no primeiro quadrimestre de 2022, já foram comercializadas 12.976 unidades, contra 7.290 no mesmo período de 2021.
A pandemia de covid-19 parece ter aumentado a conscientização das pessoas a respeito da escassez de recursos naturais. Além disso, o aumento do preço dos combustíveis convencionais (álcool, gasolina e diesel) pesa cada vez mais no bolso do motorista. Há também maior demanda por produtos ambientalmente responsáveis. São fatores que ajudam a explicar o crescimento da frota de carros elétricos, que para muitos especialistas é um caminho sem volta. Tanto que, segundo reportagem publicada no Jornal do Carro em abril deste ano, até 2030 a venda de veículos a combustão será proibida nos Estados Unidos e na Europa.
No Brasil, a legislação sobre o tema também tem avançado. Um projeto de lei (PRS 64/21), aprovado pelo Senado em março deste ano, criou a Frente Parlamentar Mista sobre Eletromobilidade, que trata de iniciativas para o incentivo do uso de carros elétricos e eletromobilidade no país.
Mas será que esse é o momento de investir nesse tipo de veículo? Para responder, é fundamental considerar o conjunto (nunca um fator isoladamente) de aspectos como valor do investimento, autonomia, abastecimento, manutenção, seguro, tributação e sustentabilidade.
Investimento, tributação e seguro
Sim, a média de preços de um veículo elétrico é mais alta do que dos carros convencionais. Para se ter ideia, segundo Léo Fortunatti, editor de testes de veículos em várias publicações especializadas, o modelo mais barato vendido no país custa cerca de R$ 142 mil.
Com o mesmo valor, é possível comprar modelos SUVs, sedãs e hatches com variação de motor entre 1.4 e 2.0. Caso o proprietário queira comprar um carregador (o veículo vem com um modelo básico) para turbinar o processo de carregamento, que varia entre 8 minutos (no modelo super-rápido) a 10 horas (opção simples), ele vai desembolsar entre R$ 5 mil e R$ 33 mil.
O IPVA do modelo mais barato fica em torno de R$ 5 mil (o equivalente para carros de valor similar) e o seguro também nesse valor, considerando um homem de 40 anos.
Autonomia e consumo andam de mãos dadas, porque formam a equação de consumo x kms rodados. Para não ficar dependente das informações dos fabricantes, existem metodologias internacionais de medição, como o Procedimento Mundial Harmonizado de Teste de Veículos (WLTP, na sigla em inglês) e o EPA, emitido pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA para carros fabricados nesse país. No Brasil, a medição de padrões fica a cargo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Por meio do selo da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), ele fornece informações sobre o consumo de energia e a garantia de que foi aprovado em uma série de testes de segurança, eficiência energética e de operação. Sabe o clássico selinho que vai de A a E e fica colado nos eletrodomésticos? É esse mesmo e você vai encontrá-lo colado no parabrisa do carro.
Nesse quesito, o carro elétrico deixa “no chinelo” o convencional. O Jornal do Carro, publicado pelo Estadão, comparou recentemente o custo de abastecimento do carro do ano, eleito de 2021 pela Quatro Rodas, com o modelo elétrico mais barato vendido no Brasil. Enquanto o veículo convencional gastou R$ 7.296 de combustível no ano (base R$ 7,12 por litro), o carro elétrico gastou apenas R$ 744 no mesmo período.
Em tese, a manutenção de um carro elétrico é mais barata que a do convencional. Não há centenas de peças no motor (tem peça única), troca de óleos, desgaste e a possibilidade de superaquecimento, o clássico “ferver o motor”. Além disso, não emite gases poluentes, na cidade de São Paulo estão livres do rodízio e o abastecimento é gratuito (por ora, vale reforçar). O ponto negativo é a bateria, que tem garantia de até três anos (com vida útil de aproximadamente 8 anos) e custa cerca de R$ 9 mil.
Se é verdade que carros eletrificados não emitem gases poluentes e são mais eficientes no uso de energia, é importante considerar que o processo produtivo desses veículos pode ser poluente e socialmente danoso, de acordo com as matérias-primas utilizadas e a modalidade de trabalho empregada. Por isso, para se certificar de que está investindo em um produto com pegada não poluente, é preciso pesquisar essas informações. Afinal, qual é o real valor de comprar um produto que utiliza carvão e, para piorar, vendido à base de mão-de-obra análoga ao trabalho escravo?
A boa notícia é que, como dissemos no início da matéria, cada vez mais pessoas estão focadas no consumo sustentável. Tanto que, segundo pesquisa realizada pela IBM e publicada neste ano, 49% dos consumidores pesquisados globalmente pagaram uma média de 59% a mais em produtos de marcas socialmente responsáveis nos últimos 12 meses, comprovando que o tema está na ordem do dia para cada vez mais gente.
Fonte:G1