Campos Neto nega ajuste de meta de inflação e diz que BC fará ‘o que precisa’ para estabilizar preços | Economia


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (1º) que não acredita em fixar uma “meta ajustada” de inflação para 2022, elevando o atual objetivo. Ele avaliou que isso afetaria a credibilidade do BC.

Em meio à disparada da inflação, que já atinge 9,68% nos últimos 12 meses até agosto, alguns analistas defendem a elevação da meta de inflação para 2022, que está hoje definida em 3,5% (centro).

Isso já aconteceu no passado, em 2003 e 2004. Em 2004, a meta central subiu de 3,75% para 5,5%, com intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais.

Naquele momento, o governo argumentou, entre outros, que “metas significativamente mais baixas poderiam implicar custos elevados em termos de produto [queda do nível de atividade por conta de uma alta maior nos juros] na transição para a meta de longo prazo”.

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O Banco Central define a taxa básica de juros com base no sistema de metas. Quando as estimativas para a inflação estão em linha ou abaixo das metas, o BC pode reduzir os juros. Quando previsões estão acima da trajetória esperada, a taxa Selic é elevada.

A elevação da Selic, porém, encarece empréstimos e afeta o crescimento da economia.

“Não acreditamos em metas ajustadas, acreditamos em atingir as metas. A Selic estará onde tiver de estar para atingir a meta. Metas ajustadas afetam a credibilidade. Não acreditamos que essa é a forma de fazer isso”, declarou, durante videoconferência.

“Faremos o que precisa ser feito [alta nos juros] para trazer a inflação para a meta [em 2022 e 2023]”, declarou o presidente do BC, acrescentando que, em sua visão, a estabilização de preços é o melhor caminho para o crescimento sustentável da economia.

Atualmente, após cinco elevações seguidas, a taxa básica de juros está em 6,25% ao ano, o maior patamar em dois anos.

A expectativa dos economistas dos bancos até a semana passada, segundo pesquisa realizada pelo Banco Central, é de que a taxa Selic continue avançando nos próximos meses, e que atinja 8,25% ao ano em 2021 e 8,5% ao final de 2022.

O Banco Central indicou, porém, que o ciclo total de alta dos juros tende a ser maior do que o previsto anteriormente, ou seja, que os juros vão subir com mais intensidade nos próximos meses.

Durante videoconferência nesta sexta, o presidente do BC avaliou que a inflação, que atingiu o patamar de 10% na prévia do IPCA, em doze meses, apresenta alguns “choques temporários” (como energia elétrica e combustíveis). Segundo ele, alguns choques são mais persistentes, enquanto outros já começam a se dispersar.

Bráulio Borges, economista-sênior da área de Macroeconomia da LCA e pesquisador-associado do FGV IBRE, defendeu no mês passado, em artigo, que será “muito custoso” para a atividade econômica brasileira trazer a inflação à meta já em 2022 por meio da alta dos juros, pois o IPCA deve ficar acima de 8% neste ano.

“Portanto, considerando as premissas exógenas descritas acima, um IPCA cheio subindo 3,5% em 2022, partindo de mais de 8% em 2021, demandaria que o PIB crescesse bem pouco no ano que vem (…) Uma meta de inflação ajustada para 2022 certamente ajudaria a coordenar melhor as expectativas do mercado, contribuindo para reduzir as incertezas sobre a trajetória da política monetária”, avaliou.

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Fonte: G1