‘BBB22’ também é cultura: aprenda o que é demanda, oferta, inflação e até a investir | Economia


Um participante do “BBB” trabalha duro para economizar e ser feliz nas compras da semana. Quando ele chega ao mercado, forrado de estalecas, vê que os preços de tudo subiram e ele vai conseguir comprar bem menos com a mesma quantidade de dinheiro.

A flutuação de preços no programa é um truque do “Big Boss” para causar conflito na casa, mas emula bem a que rola aqui fora e aterroriza a gente em mercados, postos de gasolina e na fatura do cartão.

Com as dinâmicas do “BBB”, é possível entender alguns conceitos básicos de economia e finanças e ainda aprender uma lição valiosa sobre o futuro.

1. Barão da piscadinha e escassez

Escassez é um conceito muito importante na economia porque é a base da decisão econômica, explica o professor de economia do Insper Fernando Ribeiro. Baseados nele, economistas conseguem entender por que as pessoas compram o que compram e quanto estão dispostas a pagar por cada produto.

No programa, os participantes têm um número limitado de coisas que podem comprar e isso gera pequenas brigas porque cada um quer uma coisa diferente e estaria disposto a pagar muito mais por algo que outras pessoas nem acham que deveria ser comprado.

Na vida, funciona da mesma maneira. A gente tem vontades infinitas – carro, celular, chocolate, vinho, carne. Mas os nossos recursos são finitos.

“Nós todos viemos sob escassez (de tempo, recursos). E ela é sempre relativa às nossas necessidades. Nunca é uma escassez absoluta, é sempre em relação ao desejo do indivíduo. É essa relação de escassez com desejo que faz a pessoa tomar a decisão se paga mais ou menos”, explica Ribeiro.

Esse conceito também vai ser a base da educação financeira, explica Liao Yu Chieh, head de educação financeira do C6 Bank. Por ter recursos finitos, é preciso priorizar contas, bens e serviços ao longo do mês por meio de orçamentos. A palavrinha que vale ouro é: planejamento.

Se não fosse a escassez e a falta de planejamento, ninguém no “BBB” precisaria brigar com o Lucas por comer um monte no café da manhã e acabar com a comida da semana sozinho.

2. VIP, xepa, oferta e demanda

Oferta e demanda também são dois conceitos que ajudam a explicar a dinâmica do mercado. A demanda é a vontade ou o ato de comprar alguma coisa que satisfaça uma necessidade, explica Ribeiro. E aí todo mundo vai disputar os bens que estão disponíveis nesse mercado. No BBB, os participantes formam essa demanda.

Já a oferta é o que tem disponível para vender. Aqui no nosso mundinho, ela depende da vontade dos produtores, diz o professor, e tem relação com preço, necessidade, tendência. Lá no programa, a oferta já está dada e eles têm poucos itens à disposição.

Quando a oferta é menor do que a demanda, ou seja, quando tem mais gente querendo comprar do que produto disponível para vender, os preços sobem porque as pessoas disputam esses bens. No programa, a dinâmica é bem parecida.

Quando os participantes têm mais estalecas para gastar, os preços no mercado sobem. Quando eles têm menos, os preços caem.

Claro que lá isso tudo é criado de modo artificial. Como explicamos no começo deste texto, o ‘big boss’ mexe na oferta aumentando ou diminuindo os preços. Por isso, não adianta querer economizar estalecas para gastar tudo em uma semana.

Na sociedade, isso ocorre de forma orgânica. “Quando o governo federal faz uma política expansionista e coloca bastante dinheiro na mão dos consumidores, naturalmente essas pessoas vão consumir mais e vai faltar produto mais rápido. Com isso, a reposição fica mais cara. Então, se tem muita gente comprando e vai faltar produto, o vendedor tende a subir os preços para aumentar o lucro e manter o estoque”, explica Yu Chieh.

3. Jade Picon e independência financeira

O quarto da bagunça de Jade Picon — Foto: Reprodução/Fantástico

E, por fim, a tão sonhada independência financeira, que Jade Picon praticamente esfregou na cara do público que tem desde os 13 anos.

Segundo Liao, ser independente financeiramente significa que uma pessoa não precisa mais “trabalhar para se sustentar e consumir”. Mas sim que essa pessoa tem rendimentos mensais suficientes para cobrir seus gastos para o resto da vida.

E esses rendimentos podem vir de várias maneiras. As principais, segundo o economista, são:

  • Juros de investimentos
  • Aluguéis
  • Dividendos de ações

“Então imagina que eu tenha R$ 1 milhão que rende R$ 10 mil por mês de juros e a minha vida custa R$ 7 mil por mês. Esse meu milhão paga minha vida o resto da minha vida”, diz.

E para isso, não é preciso muito dinheiro, diz. Se os custos de vida da pessoa forem de R$ 1 mil, por exemplo, e ela tiver algum investimento que lhe renda esse valor por mês, ela já é financeiramente independente.

Também tem meios menos convencionais de conseguir essa independência como herança ou uma bolada ganha na mega. Mas aí as chances são bem menores. Para atingi-la, portanto, é preciso sorte, cautela ou muita disciplina e passar por uns apertos. Deixar de gastar no presente e investir pensando no futuro. Uma escolha “intertemporal”, diz Ribeiro.



Fonte: G1