Após 'coma induzido' na economia, indicadores mostram recuperação, diz Campos Neto




Segundo presidente do banco Central, ‘fundo do poço’ foi no final de abril e começo de maio. Ele acrescentou que recuperação da economia global tem sido mais rápida do que na crise de 2008. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (22) que a economia brasileira passou por um “coma induzido” por conta da crise do novo coronavírus, “algo sem precedentes na história”. Segundo ele, “o fundo do poço” foi no final de abril e começo de maio, mas indicadores recentes mostram recuperação.
Campos Neto repetiu a avaliação de que a estimativa do BC para o PIB neste ano, com queda de 6,4%, é pessimista. Para o presidente da instituição, a perspectiva é melhor. Para o Ministério da Economia, o tombo neste ano será de 4,7% e, para o mercado financeiro, de 5,95%.
“É como se fosse um coma induzido, desligou tudo, não tínhamos tido nenhuma experiência na nossa história. Acho que agimos com bastante agilidade”, disse ele, em videoconferência do jornal “Valor Econômico”.
Para o presidente do BC, indicadores como consumo de energia e arrecadação de tributos mostram recuperação, na esteira do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 em cinco parcelas.
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em audiência no Senado
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Ele disse ainda ter convicção que o consumo está represado e que haverá “efeito forte” das medidas tomadas pelo governo nos próximos meses.
“A grande incerteza é o número do segundo trimestre. É ele que vai ditar PIB este ano. No terceiro trimestre vai ter menos incerteza, e no quarto também. O fundo do poço foram as últimas semana de abril e primeiras de maio”, afirmou.
Campos Neto avaliou que a retomada da economia global, neste ano, tem sido “muito mais acelerada” do que na crise de 2008, que afetou o sistema financeiro internacional, embora os emergentes estejam apresentando uma recuperação mais lenta que os países desenvolvidos. “Isso mostra a importância de não ter uma disfunção no sistema financeiro. Em 2008, a gente teve uma disfunção, ficou com a intermediação financeira interrompida em vários lugares, e isso demora muito para voltar”, disse.
De acordo com o presidente do BC, governo feito um “grande esforço” para canal de crédito continuar funcionando. “Demorou, mas depois teve vários programas saindo ao mesmo tempo, o Pronampe, o FGI, renovação do programa da folha de pagamentos”, afirmou ele. A falta de crédito para pequenas e médias empresas é uma das principais reclamações dos empresários durante a crise do novo coronavírus.
Indicadores mostram que o pior momento da crise do coronavírus na economia foi entre abril e maio
Moeda digital e imposto sobre transações financeiras
Campos Neto avaliou, ainda, que as criptomoedas apareceram no mundo pelo fato de os BC´s não terem construído um mecanismo de pagamento que fosse barato, rápido, transparente, seguro e aberto.
Por isso, acrescentou que a instituição está desenhando o PIX, sistema instantâneo de pagamento, previsto para começara a operar em novembro, e o chamado “Open Banking” – plataforma aberta que permitirá uma maior concorrência em serviços bancários.
“Tem o open banking, o PIX, e uma moeda mais globalizada, simplificada e conversível. Lá na frente, a ideia é que isso chegue em uma moeda digital, quando todos esses programas se encontrarem”, declarou o chefe do BC.
Questionado sobre a proposta de um imposto sobre transações digitais, defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, com o objetivo de desonerar a folha de pagamentos, Campos Neto afirmou que o BC não comenta sobre assuntos tributários. Entretanto, declarou que “sempre preocupa a qualquer banqueiro central qualquer tipo de imposto sobre transação que gere desintermediação financeira”.



Fonte: G1