Após 7 de Setembro, Senado deve seguir tendência anti-bolsonarista e virar trincheira contra governo


Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – O Senado já vinha ensaiando um movimento anti-bolsonarista com a CPI da Covid e a rejeição de MP de programa de empregos, e após os atos convocados pelo presidente Jair Bolsonaro no 7 de Setembro, deve seguir essa tendência e se configurar como uma trincheira contra o governo, avaliaram fontes consultadas pela Reuters.

Defensor de uma articulação pelo impeachment de Bolsonaro, o senador José Aníbal (SP), ex-presidente do PSDB, avalia que a agenda de reformas não avançará mais. O tucano disse ainda que, no que depender dele, o Senado não aprova a proposta de reforma do Imposto de Renda, que também não conta com a simpatia de uma boa parcela da Casa.

“A pequena retomada da economia está toda abortada”, disse.

A simpatia na Casa ao governo já não era das melhores, e agravou-se durante a pandemia de Covid-19. Mesmo parlamentares que não integravam a oposição apoiaram, por exemplo, a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os erros na gestão da crise do coronavírus.

Depois, em um outro sinal da insatisfação, rejeitaram na última semana, por larga margem, medida provisória que promovia minirreforma trabalhista e criava o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. Com isso, Bolsonaro fica de mãos atadas, ao menos para reeditar MP com o mesmo teor neste ano, o que é proibido.

“O clima entre os senadores não está nenhum pouco favorável. Certamente os atos e falas não estão ajudando”, disse uma fonte da Casa.

Na véspera, em manifestações convocadas para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e Avenida Paulista, em São Paulo, Bolsonaro atacou os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, e afirmou que jamais será preso por “canalhas”. Também voltou a questionar a confiabilidade do atual sistema de votação.

PRÓXIMOS CAPÍTULOS

O sentimento desfavorável não afeta apenas o andamento da reforma do IR. Segundo essa fonte, a indicação de André Mendonça ao STF enfrenta, no momento, grandes dificuldades.

“Hoje ele teria mais de 50 votos contrários”, disse a fonte. “O clima do Senado é muito contrário ao Bolsonaro.”

Há, ainda, no horizonte, a possibilidade de devolução de MPs editadas recentemente pelo governo: uma que traz um novo marco para o setor ferroviário, a despeito de projeto que já era discutido na Casa, e ainda a que limita o poder das empresas de mídias sociais de remover contas e conteúdo de usuários.

Uma outra fonte, de um partido do centrão, disse à Reuters que o clima no Senado não é beligerante, mas já foi melhor e há um incômodo crescente com as falas do presidente.

Esse desconforto deve se refletir na demora em se analisar a indicação de André Mendonça ao Supremo, que já aguarda sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) há cerca de dois meses.

A fonte oferece um contraponto e avalia que senadores ainda estão de olho em cargos e emendas, mirando a eleição de 2022. Reconhece, no entanto, que deve chegar o momento em que, diante do desgaste do presidente, eles vão “desembarcar de vez”.

Reservadamente, segundo a fonte, parte dos senadores não aposta na viabilidade eleitoral de Bolsonaro e não quer ficar atrelado à campanha a ele.

O próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem sido apontado como possível candidato a presidente da República no ano que vem.

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Fonte: Mix Vale