Ao menos 38 mil novas pessoas começaram a viver nas ruas desde o início da pandemia no Brasil | Economia

Ao menos 38.605 novas pessoas começaram a morar nas ruas no Brasil desde o início da pandemia de Covid-19. É o que mostra um levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (POLOS-UFMG), feito com base nos dados do CadÚnico, do Ministério da Cidadania.

Em 2019, 174.766 pessoas estavam em situação de rua. Em setembro deste ano, o número saltou para 213.371.

E o número ainda pode estar subnotificado, de acordo com o coordenador do POLOS-UFMG, André Luiz Dias. O levantamento considera apenas as pessoas que estão no CadÚnico. Mas, uma vez que os municípios têm dificuldade para atualização e realização de novos cadastros, especialmente por conta da pandemia, o número pode ser ainda maior.

“Em 2020, por exemplo, 33% das pessoas que viviam na rua não estavam no CadÚnico. Em 2021, o número era de 45%”, explica o pesquisador.

A região Sudeste concentra 62% dessa população. Em especial, o estado de São Paulo, que abriga 40% do total do país, onde estão quase 86 mil pessoas em situação de rua. No Nordeste, estão 15% das pessoas em situação de rua; no Sul, 14%; no Centro-Oeste, 7%; e no Norte, 2%.

A capital paulista tem a maior parte desse contingente: 2 em cada 10 pessoas em situação de rua vivem em São Paulo. Depois de São Paulo, as capitais com maior número de pessoas em situação de rua são Rio de Janeiro (12.162), Belo Horizonte (11.165), Brasília (7.308) e Salvador (6.952).

Ainda segundo o levantamento do POLOS-UFMG, 68% dessa população é negra.

“Esse é um fenômeno social complexo que, no Brasil, tem relação com o racismo estrutural. Essas pessoas são historicamente inviabilizadas e silenciadas e estão tendo seus direitos violados recorrentemente”, afirma o pesquisador Dias.

Quanto à faixa etária, 87% das pessoas têm entre 18 e 59 anos. Os idosos representam 10% das pessoas em situação de rua e as crianças e adolescentes, 3%. A maior parte (47%) tem ensino fundamental incompleto. Outros 17% possuem Ensino Médio completo, enquanto 11% não sabem ler ou escrever.

Há uma década, em 2012, o número de pessoas de situação de rua era de 12.775. Desde então, o número cresceu, ano após ano.

“Só em 2021 houve uma redução nos registros de população em situação de rua. Com a pandemia, os municípios tiveram dificuldade em registrar isso, por algumas razões, como equipamentos públicos fechados e funcionários do SUAS [Sistema Único de Assistência Social], que fazem esses cadastros, que não são, até hoje, grupos prioritários para vacinação”, explica o coordenador do POLOS-UFMG.

Fonte: Portal G1