ANÁLISE-Aperto monetário do Fed é senha para “dar o fora” de ações dos EUA


Por Sujata Rao e Lewis Krauskopf

LONDRES/NOVA YORK (Reuters) – Os mercados de ações dos Estados Unidos, depois de desfrutarem de sua melhor sequência de três anos em mais de duas décadas, podem em breve ter que ceder o primeiro lugar.

Com o banco central norte-americano se preparando para aumentar as taxas de juros pela primeira vez em quase quatro anos, o capital está começando a se espalhar das ações norte-americanas –sensíveis às taxas de juros– para outras partes do mundo onde os preços dos ativos estão mais baratos e potencialmente mais resilientes.

A queda de quase 10% do S&P 500 acumulada neste ano superou as perdas da maioria dos índices fora dos EUA, e alguns avaliam que as saídas recentes de investimentos desse mercado, as primeiras em um mês de acordo com o Boa, são apenas o começo.

Análise do Goldman Sachs de oito ciclos de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed) desde 1975 parece apoiar essa visão.

O banco concluiu que as ações europeias superaram os pares dos EUA em 4 pontos percentuais em média ao longo de seis meses após o primeiro aumento de juros pelo Fed.

Também observou uma clara rotação para os chamados setores de valor, como bancos e commodities, que estão mais bem representados em índices referenciais de ações europeus e de mercados emergentes.

“O que isso significa é dar o fora dos Estados Unidos”, disse Mike Kelly, chefe de multiativos globais da PineBridge Investments. “Trata-se de vender ativos de ‘duration’ (uma medida de risco) mais longa, por isso estamos com subexposição às ações dos EUA.”

Ações de “duration” longo, em poucas palavras, são aquelas cujos preços são impulsionados por expectativas de lucros potenciais futuros e, portanto, se saem bem quando as taxas de juros estão baixas.

As empresas de tecnologia dos EUA –com suas avaliações exorbitantes, medidas pelo quociente preço-lucro (PL)– são um excelente exemplo e respondem por mais de um terço do S&P 500.

Durante anos, essas ações foram um ímã de investimento, beneficiando-se de taxas de juros baixíssimas e, recentemente, das mudanças causadas pela pandemia, com mais pessoas passando a trabalhar, fazer compras e jantar em casa.

Do montante de 1 trilhão de dólares que fluiu para ações no ano passado, os fundos dedicados aos EUA ficaram com um terço. Eles também teriam recebido uma fatia generosa dos quase 500 bilhões de dólares absorvidos por fundos com mandato global, segundo o Deutsche Bank.

Agora Kelly diz que os mercados estão em um ponto de inflexão, longe de quando “o P/L (preço lucro) subiu e as taxas de juros caíram”.

Dado que cinco empresas de megacapitalização responderam por um terço do desempenho do S&P 500 no ano passado, setores não amados dos EUA também devem se beneficiar da rotação.

Martin Schulz, gestor sênior de portfólio da Federated Hermes, disse que já estava com posição acima da média em mercados internacionais desenvolvidos no outono passado (no Hemisfério Norte), apostando em uma ampla recuperação econômica global.

“A ciclicidade dos mercados europeus, os mercados japoneses… acreditamos que serão os grandes beneficiários dessa recuperação globalizada de curto prazo.”

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Fonte: Mix Vale