Vítimas da Covid-19 no Rio são homenageadas com monumento memorial em cemitério no Caju


Passados seis meses de uma pandemia que já matou 17.575 moradores do Estado do Rio — até esta sexta-feira —, os parentes destas vítimas poderão agora homenageá-las num grande monumento memorial, batizado de Memorial In-finito, que foi instalado numa área verde revitalizada do Crematório e Cemitério da Penitência, no Caju, e que será inaugurado no próximo domingo.

Na estrutura artística de 39 metros e quase três toneladas de aço oxidado, pensada pela arquiteta Crisa Santos, as famílias que perderam seus entes queridos para o coronavírus em qualquer canto do estado poderão requisitar à administração do cemitério e, provando que o familiar perdeu a vida para a Covid-19, receberão a autorização para colocar seu nome para sempre no memorial. De acordo com o cemitério, o único custo fica por conta do adesivo especial com o nome da vítima da doença, no valor de R$ 125. A obra também forma bancos, onde as pessoas podem repousar e interagir com ela.

Neste domingo, quando a obra será apresentada, o nome de pelo menos 30 vítimas do coronavírus já estarão na parte da estrutura reservada para as homenagens. Famílias de mortos pela Covid que foram enterrados no cemitério da Penitência receberam o convite para que fossem os primeiros a prestar a homenagem a seus familiares no monumento.

Uma das pessoas que aderiu à ideia foi Giselle Marie Diniz Peixoto. Ela perdeu o pai, o militar reformado do Exército, Geraldo Diniz, de 81 anos, no dia 24 de maio. Ela lamenta que o pai, idoso, não tenha aceitado bem as recomendações de prevenção contra o coronavírus, o que, acredita ela, tenha culminado no contágio da doença. Para ela, o memorial dá, de imediato, o sentimento de imortalidade às vítimas da Covid-19.

— A minha ideia é convidar minhas tias e toda a família para que possamos voltar ao cemitério, para sentarmos um pouco no monumento, meditarmos, relembrarmos os bons momentos do meu pai. O ambiente é ideal para essa obra, transmite muita paz e uma serenidade que permite essa religação com quem já partiu — comentou.

Obra passa por últimos ajustes: funcionários trabalham para que monumento seja apresentado no próximo domingo em live
Obra passa por últimos ajustes: funcionários trabalham para que monumento seja apresentado no próximo domingo em live Foto: Divulgação

No pico da pandemia do novo coronavírus a arquiteta Crisa Santos peregrinou pelos cemitérios do Brasil em busca de histórias para fundamentar as suas pesquisas no campo da neuroarquitetura, aplicada por ela de forma inédita no setor cemiterial. Foi então, que idealizou o monumento.

— Diferente da função de um memorial, esse foi concebido para homenagear todas as pessoas que não tiveram o direito de se despedir das pessoas que amam, através dos ritos fúnebres —, afirmou Crisa.

O projeto arquitetônico foi doado pelo Coletivo Crisa Santos Arquitetos à direção do Cemitério da Penitência, que investiu R$ 300 mil na execução da obra. A concepção do memorial começou em junho e envolveu cerca de 50 profissionais de diversos estados e áreas de atuação. A peça passou por processo industrial e ganhou curvas e relevos, antes de desembarcar no último dia 9 de setembro no Cemitério da Penitência, onde vai passar pelas etapas de fundação e paisagismo. A área da intervenção foi revitalizada para receber o projeto.

Concepção

A estética fluida da escultura é uma metáfora à eternidade. Erguida em módulos, a obra é composta por desenhos em espiral e linhas circulares que têm como significado a perenidade. A arquitetura inclui bancos e passagens que dão o sentido de pertencimento do mundo.

— A idealização da obra a céu aberto foi para oferecer um local em que os visitantes possam meditar e se conectar com quem partiu. Isso ajuda a ressignificar a morte, especialmente na pandemia, que inviabilizou as despedidas —, explicou Crisa, que possui especialização em neurociência pela PUC/RS e há dez anos estuda o comportamento de enlutados, em parceria com médicos, psicólogos e outros especialistas.





Fonte: G1