Primeira humorista negra de sucesso na TV brasileira, Marina Miranda é homenageada em livro da Funarte

A Fundação Nacional de Artes – Funarte acaba de lançar o livro Marina Miranda – Além da “Crioula Difícil”, de Clóvis Corrêa, tributo à comediante e cantora, que fez sucesso nas décadas de 1970 e 1980. Hoje com 90 anos, ela foi a primeira humorista negra que alcançou destaque na televisão brasileira – famosa ao lado de Tião Macalé, no programa cômico Balança mas Não Cai, e em outros. Com prefácio de Ricardo Cravo Albin, a narrativa-reportagem, apresenta a trajetória da artista, em teatro, cinema, rádio e TV.

Na obra, com base em entrevistas e documentos, o autor traça um perfil da humorista e retrata sua caminhada profissional, tendo com como pano de fundo a história da televisão brasileira, e de outros artistas – inclusive o célebre e hilariante Tião Macalé, com quem Marina Miranda consagrou-se no quadro Crioulo e Crioula Difícil.“Grande Otelo de Saias” e “Josephine Baker brasileira” foram algumas das expressões usadas para definir a atriz, no período de seu maior sucesso.

A atriz também recebeu homenagem da Funarte no dia em que completou 90 anos, 30 de setembro, através de um vídeo de lançamento do livro. Disponível no canal da Funarte no Youtube, o material, que registra o bate-papo com o autor, e no qual atores convidados lêem trechos da obra, já está acessível ao público.

Marina Miranda iniciou a carreira nos anos 1950, cantando ópera na Rádio Nacional. Mas consagrou-se como intérprete de marchinhas, o que alavancou sua carreira de comediante. Ao todo, foram 70 anos de trabalho artístico. Em 2019, ela recebeu a Medalha Chiquinha Gonzaga, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro a mulheres que se destacam na defesa de causas democráticas, humanitárias, artísticas e culturais. A atriz tem uma filha, Sylvia Miranda.

RICARDO CRAVO ALBIN, BRUNO MAZZEO E TOM FARIAS COMENTAM

“Marina começou por onde raríssimos negros têm a coragem de se iniciar: o canto lírico, quase sempre objeto de preconceitos culturais e artísticos. E sobretudo raciais” comenta o musicólogo e pesquisador Ricardo Cravo Albin, no prefácio. O estudioso acrescenta que, a artista se consagrou como cantora de marchinhas interpretando “os folguedos mais simplificados e mais amados pelas ruas e pelo povo simples”. Para Cravo Albin, foi a conexão direta com a “grandeza da miscigenação brasileira” que alavancou a carreira de comediante de Marina. “O personagem que ela construiu na televisão, apresentando-se como a ‘Crioula Difícil’, terá sido das mais corajosas afirmações pessoais. Conquistou todo um país ao lado de Tião Macalé, fazendo do célebre programa Balança mas Não Cai um ícone da era do rádio, a perfeita transposição para a então ainda iniciante televisão”.

“Uma história contada com arte e doçura, técnica e respeito ao personagem tem tudo para encantar e seduzir o leitor. Este, sem dúvida, é o ponto alto de Marina Miranda: além da “Crioula Difícil”,[…] sobre uma das mais importantes atrizes e comediantes da história da teledramaturgia brasileira. Não é por menos que, na empolgação da leitura, rimos e nos emocionamos de uma maneira muito especial com uma história de vida envolvente, seus altos e baixos, suas alegrias e choros”, ressalta o jornalista e escritor Tom Farias. “Escalada para a televisão, os papéis cômicos moldaram a sua carreira, transformando-a, como se dizia à época, na ‘Grande Otelo de saias’. É sobre esta Marina Miranda – referência pelo seu largo sorriso, sua voz marcante e seus belos turbantes na cabeça – que se debruça, com competência, Clóvis Corrêa”, diz o jornalista.

Bruno Mazzeo, no texto de contracapa, comenta: “Marina Miranda é parte do imaginário de quem, como eu, viveu a infância ali pelos anos oitenta e começo dos noventa. Eu sei, ela continuou frequentando humorísticos (e novelas) de sucesso. Mas é que minhas memórias me remetem a quando era criança e começava a descobrir minha paixão pelo ofício que seguiria pela vida. Ficava vidrado naquele desfile de astros que passavam por programas como Balança mas Não Cai e Os Trapalhões, em que a dupla Marina Miranda/Tião Macalé brilhava no deboche. ‘Ô, Crioula Difícil’, dizia o parceiro antes de finalizar com o seu “Nojento, tchã” — um marco do humor politicamente incorretíssimo.”.

O AUTOR

Dramaturgo, roteirista e produtor cultural, o jornalista carioca Clóvis Corrêa trabalhou em rádio e TV. Escreveu para os jornais Papo Teatral, Metrô Press, O Pontual e O Globo. Através da Fábrica de Dramaturgia Domingos de Oliveira, começou a escrever textos teatrais, em parceria com Alexandre Morcillo. Suas primeiras peças foram: Cem Anos de Machado de Assis e a adaptação do livro Galvez, Imperador do Acre, de Márcio Souza. Foi coautor da montagem infantil Um Amor de Circo e das comédias Um Dia de Madame, Baixou um Elvis em Mim e O Último Capítulo. No cinema, foi roteirista do curta-metragem Chapa Quente, dirigido por Ricardo Brasil para o projeto Enquadros Negros.

EDIÇÕES FUNARTE EM 2020

Marina Miranda – Além da ‘Crioula Difícil’ é o primeiro de quatro livros que a Fundação Nacional de Artes planejou para 2020. Eles continuam a tradição da Funarte de difundir os itinerários de nomes consagrados da atividade artística, além de livros técnicos na área, por meio da Gerência de Edições do Centro de Programas Integrados da entidade. As três outras publicações a serem lançadas até o fim do ano são: O Mundo do Som, um manual para piano, de Claudio Soares; Carta ao Sol, coletânea de contos de Susana Fuentes; e Gesto Flamenco, de Danielle Zill, um estudo sobre esse estilo de música e dança.

ATORES LEEM TRECHOS DA OBRA

O vídeo de lançamento conta com as participações da atriz Maria Ceiça e dos atores Deo Garcez e José Araújo, cada um lendo um trecho do livro. Na conversa, Clóvis Corrêa cita episódios do itinerário de vida e carreira de Marina e, ainda, histórias de bastidores da produção do livro, fruto de um esforço de pesquisa, dada a pouca quantidade de informações disponíveis sobre a artista. Entre as fontes, o autor menciona os acervos do jornal A Noite e da TV Rio, além de entrevistas com o produtor e ator Haroldo Costa e o compositor João Roberto Kelly, entre outros.

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Fonte: Redação / Plantão
Fotos: divulgação