Prefeitura de São Pedro afasta secretária-adjunta de Cultura após caso de intolerância religiosa

Juliane (à dir.) desabafou nas redes sociais: “a gente é sempre atacado” – Crédito: Reprodução

PUBLICADA ORIGINALMENTE NA FOLHA DOS LAGOS

A Prefeitura de São Pedro da Aldeia afastou do cargo na terça-feira (08/12) a secretária-adjunta de Cultura, Edlúcia Marques, após um caso de intolerância religiosa, ocorrido na noite de segunda (07/12), durante uma sessão pública do edital ‘Cultura Viva’, para a liberação de recursos referentes à Lei Aldir Blanc para artistas do município.

Proponente do projeto ‘Cultura Afro-Brasileira: A Grandiosidade da diversidade no Brasil’, Juliane Carvalho disse que Edlúcia afirmou que não reconhecia manifestações de matriz africana como atividades culturais. A agora ex-secretária-adjunta fazia parte da banca de avaliadores responsáveis pelos pareceres do projeto.

Frequentadora de um centro religioso de matriz africana, Juliane disse que não precisava do ‘reconhecimento’ da então secretária-adjunta, pois isso era feito pela lei. Segundo ela, Edlúcia retrucou dizendo que daria ‘zero’ para o projeto, mesmo após os colegas de banca terem decidido pelo deferimento. Advertido por um colega que a nota deveria ter uma justificativa plausível, Edlúcia teria dito: “Pode vir, pode jogar a macumba”. O clima na sessão pública foi de indignação após a frase.

– A gente que é de matriz africana é sempre atacado. A gente tem que estar sempre brigando, lutando por uma coisa que é natural – desabafou Juliane, em vídeo postado nas redes sociais. Ainda na tarde de terça-feira, a Prefeitura emitiu nota sobre o afastamento de Edlúcia, cujos votos nos pareceres foram anulados.

“A Prefeitura lamenta o ocorrido na sessão pública para julgamento das propostas culturais do Prêmio São Pedro da Aldeia de Cultura Viva, na Casa da Cultura, e repudia qualquer tipo de discriminação, se solidarizando com todos que se sentiram ofendidos pelo comportamento da servidora. A gestão municipal reforça que políticas públicas igualitárias devem ser baseadas em princípios de respeito e valorização da diversidade”, diz o texto.

Pouco depois, a Prefeitura postou um vídeo em que Edlúcia Marques se retrata, embora não se refira diretamente aos participantes do projeto. – Venho aqui pedir desculpas a quem eu possa ter magoado e constrangido com alguma das minhas falas. Nesse momento, o que importa é a retratação, o pedido de desculpas. Espero que não vá para o coração. Em momento nenhum, eu quis magoar ou constranger alguém – disse.

O caso foi parar na delegacia (125ª DP), onde um registro de ocorrência foi registrado. As integrantes do projeto afirmam que irão ‘até o fim’. As investigações estão em andamento e testemunhas serão ouvidas, além da própria Edlúcia.

No começo da noite de terça, a Prefeitura divulgou uma lista preliminar com os projetos deferidos e o de Juliane está entre eles. Ao todo, 59 projetos culturais foram inscritos na seleção, que vai conceder prêmios de R$ 5 mil a R$ 28 mil para projetos promovidos por agentes culturais do município.

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Fonte: Folha dos Lagos
Fotos: divulgação