PF apreendeu R$ 55 mil em operação que envolveu líder do governo e filho dele



Dinheiro estava dividido em vários envelopes. Delegado suspeita de lavagem de dinheiro. Nesta terça (24), relator enviou documento para análise da Procuradoria Geral da República. O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e o filho dele, deputado Fernando Bezerra Coelho Filho (DEM-PE)

Valter Campanato/Agência Brasil e Wilson Dias/Agência Brasil

Relatório parcial elaborado pela Polícia Federal e encaminhado nesta terça-feira (24) ao Supremo Tribunal Federal (STF) aponta a apreensão de R$ 55 mil, em dinheiro vivo, na casa do deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho (DEM-PE). Os valores, diz a PF, estavam armazenados em envelopes de forma fracionada.

O parlamentar é filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Pai e filho foram alvo de operação da polícia federal na última quinta-feira (19). A PF aponta a suspeita da lavagem de dinheiro.

A reportagem procurou a defesa dos parlamentares e aguarda um retorno.

“A forma de acondicionamento dos valores ganha contornos mais relevantes ao se cotejar com os documentos apreendidos no gabinete do deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho, onde também foram encontrados envelopes bancários e extratos apontando a utilização da técnica de lavagem de dinheiro denominada ‘smurfing’, que é utilizada para, em tese, realizar a dissimulação dos valores depositados, conforme se observa nas imagens extraídas do Auto de Exploração de Material Apreendido”, afirma o delegado Wedson Lopes, da Polícia Federal, que comandou a operação.

O delegado pondera ser necessária uma melhor análise para devida conclusão sobre o que foi apreendido.

“Esclareço que, à medida em que os exames periciais sejam concluídos, esta autoridade policial encaminhará a Vossa Excelência outras informações a respeitos dos elementos de informação coletados nos endereços vinculados aos parlamentares ora investigados”, afirmou.

Relator do caso, o ministro Luís Roberto Barroso enviou nesta terça o relatório para análise da Procuradoria Geral da República (PGR). A PGR poderá pedir novas medidas investigativas a partir da análise parcial da Polícia Federal.

No relatório, a PF afirmou que apreendeu no gabinete da liderança do Senado, onde Bezerra Coelho atua, um HD de um servidor com uma planilha suspeita, “contendo uma relação de doadores ocultos”.

“Ainda como resultado preliminar das diligências executadas por ocasião da deflagração da Operação desintegração, destaco neste expediente que por meio da ferramenta de busca eletrônica, tanto no gabinete parlamentar do Senador FERNANDO BEZERRA DE SOUZA COELHO, como no gabinete da liderança, que também é utilizado pelo parlamentar, também foram encontrados documentos que se relacionam diretamente com os fatos em apuração”, disse o delegado.

Segundo ele, um “exemplo de dado localizado no gabinete da liderança que chamou a atenção desta equipe de investigação foi uma planilha contendo uma relação de doadores ocultos”.

O delegado repetiu ser necessário avaliar com mais cautela o material: “Mais uma vez é preciso ressaltar que somente após a conclusão dos exames periciais e análises respectivas será possível compreender as razões de tais documentos estarem acondicionados num HD utilizado por um servidor lotado no gabinete da liderança do governo.”

A operação no Congresso Nacional em endereços vinculados ao senador Fernando Bezerra Coelho foi pedida pela Polícia Federal, mas a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, foi contra. Dodge considerou não haver elementos de que o senador escondesse informações.

O fato de o Supremo ter autorizado buscas contrariando a PGR foi destacado por senadores. O Senado recorreu da decisão de Barroso, responsável por autorizar a operação.

Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, é investigado por propina

Suspeita sobre o senador

Fernando Bezerra Coelho e Fernando Bezerra Coelho Filho foram alvos da operação Desintegração, que se baseou em delações premiadas de outra operação, a Turbulência, deflagrada em junho de 2016.

Um dos delatores é o empresário João Lyra, apontado em investigações como operador financeiro de supostos esquemas criminosos em Pernambuco.

Conforme as investigações, o senador recebia dinheiro ilegal de empresas, que, por sua vez, obtinham dinheiro de empreiteiras com interesses em obras, como a transposição do Rio São Francisco, no período em que Bezerra foi ministro da Integração Nacional, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em nota, a defesa de Bezerra disse que “a única justificativa” para a investigação de Bezerra seria “a atuação política e combativa do senador contra determinados interesses dos órgãos de persecução penal”