Manchas de óleo vão impactar meio ambiente por 20 anos na Região dos Lagos diz relatório da Marinha

Manchas de óleo vão impactar meio ambiente por 20 anos na Região dos Lagos diz relatório da

Um ano após o maior desastre ambiental da costa brasileira, pescadores ainda enfrentam problemas de saúde e dificuldades para se manter. Relatório da Marinha sobre óleo que apareceu no litoral foi enviado à PF com pelo menos 10 suspeitos. Pesquisadores afirmam que meio ambiente ainda sofrerá impactos pelas próximas duas décadas.

“Ainda hoje a gente sente essa coceira nos olhos. Antes desse derramamento, desse petróleo chegar ao nosso rio, nós não sentíamos. Hoje, a gente sente uma coceira na pele. Pelo menos eu, quando entro na água, minha pele ainda fica irritada. Outros pescadores tiveram até ferimentos na pele. Na época foi muito difícil e continua sendo. Hoje, ainda existe essa rejeição, essa discriminação com o nosso peixe, o pescado que a gente pesca aqui.”

O relato é da pescadora Maria Vale, de Fortim, no Ceará. Ela foi uma das voluntárias que usou as próprias mãos pra tirar o óleo que não parava de chegar à praia. O maior desastre ambiental da costa brasileira completa 1 ano no domingo, sem muitas respostas.

A Pastoral dos Pescadores afirma que, além da coceira nos olhos e na pele, quem vive do pescado ainda hoje sente dor de cabeça, tontura e falta de ar. A Secretária-executiva, Ormezita Barbosa, diz que a Fiocruz tem monitorado os impactos na saúde e que outro problema é a falta de dinheiro. A Pastoral afirma que 30% dos 65 mil pescadores registrados, que apareciam na lista oficial, não receberam os dois salários mínimos prometidos pelo governo. Quando as coisas pareciam voltar ao normal, veio a pandemia de coronavírus.

“A gente mapeou muitos casos de famílias que não receberam o auxílio emergencial do petróleo e não receberam o auxílio emergencial do coronavírus. Você imagina o acúmulo de problemas… A necessidade de comprar alimentos, de comprar remédios. As pessoas ficaram sem essa condição.”

A Marinha concluiu a primeira fase das investigações sem indicar um culpado. O relatório foi enviado à Polícia Federal na segunda-feira, com uma lista de navios suspeitos. A Marinha afirmou que o óleo é mesmo de origem venezuelana e teria sido lançado de uma embarcação em julho do ano passado, 40 dias antes da mancha no litoral da Paraíba.

O Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha diz que as informações vão ajudar a Polícia Federal a explicar o que aconteceu. O Contra-almirante Lampert não informou quantos navios são suspeitos, mas disse que a lista passou de milhares para menos de 10.

“A avaliação da dispersão do óleo, de como esse óleo chega ao Brasil, tudo isso levou a conclusões de que esse óleo foi lançado a leste do Brasil, a uma faixa de cerca de 700 km. A partir daí, os navios que trafegaram naquela região, em determinado período, foram navios de interesse na investigação. Essas conclusões foram entregues à Polícia Federal e essa lista aponta, ordenadamente, algumas hipóteses, probabilidades e alguns suspeitos.”

Em novembro, a Polícia Federal indicou que o navio grego Boubulina era o principal suspeito do crime, mas um mês depois a Marinha afirmou que não tinha provas contra a embarcação. Na semana passada, a Marinha também descartou a possibilidade levantada pela Universidade Federal de Alagoas, de que o óleo pudesse ter vindo do Golfo da Guiné, na costa da África. Procurada pela CBN, a PF afirmou que o inquérito ainda está em andamento.

O óleo atingiu 11 estados brasileiros e continua aparecendo até hoje. No mês passado, a Marinha recolheu vestígios em Alagoas, Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Norte. Tudo indica que o material estava parado, no fundo do oceano. O presidente do Instituto Bioma Brasil, Clemente Coelho Jr., afirma que o material está na natureza e que a contaminação deve durar pelo menos duas décadas.

“Muitos fragmentos, muitas manchas pequenas, ainda nas praias. Muita coisa se enterrou, muita coisa ficou escondida nos corais e reaparece. Fragmentos minúsculos, do tamanho de grãos de areia ou até menores, foram observados nas praias e dentro do trato digestivo de pequenos organismos, pequenos crustáceos. O material está presente. Como um desastre desta monta não possui um culpado, não se descobre quem causou esse dano para essa região toda?”

O óleo sujou praticamente metade do litoral, do Maranhão ao Rio de Janeiro, e 5 mil toneladas foram recolhidas desde agosto do ano passado. A CBN procurou o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, mas nenhum se manifestou.

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©Plantão dos Lagos
Fonte: Rádio CBN
Fotos: divulgação