Falta de infraestrutura de acesso à internet é entrave para agricultura digital para 61% dos produtores




Pesquisa da Embrapa, em parceria com Sebrae e Inpe, afirma que somente os grandes produtores estão conseguindo investir em melhoria da conectividade nas propriedades.
Jacto Agrícola/Divulgação
A ausência de infraestrutura de conectividade nas áreas rurais ainda é o principal entrave hoje para o desenvolvimento da agricultura digital, segundo 61,4% dos profissionais da área, afirma uma pesquisa da Embrapa, Sebrae e Inpe.
O levantamento foi feito com mais de 750 produtores rurais, empresas e prestadores de serviço, em todos os estados mais o Distrito Federal (DF).
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“Neste momento, somente os grandes produtores estão conseguindo investir em soluções para melhorar o acesso à internet nas propriedades”, afirma o estudo.
Acesso às redes sociais
Apesar das dificuldades de acesso, 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola, mesmo que o investimentos nessas soluções ainda assustem 67% deles.
Além disso, mais de 70% dos produtores rurais entrevistados afirmam que acessam a internet para interesses gerais sobre agricultura. Já as redes sociais, como o Facebook, e os serviços de mensagem, como o WhatsApp, foram apontados por 57,5% deles como meios para obter ou divulgar informações da propriedade, comprar insumos ou vender sua produção.
Cerca de 40% dos produtores vêm usando essas novas tecnologias como canal para a compra e venda de insumos e da produção e, em torno de um terço deles, utiliza soluções digitais com o objetivo de mapear a lavoura e prever riscos climáticos.
“Outras aplicações das tecnologias aparecem em número menor, mas vemos como áreas com tendência de crescimento aquelas voltadas para o bem-estar animal, citada por 21,2% dos respondentes; e para certificação ou rastreabilidade dos alimentos, mencionada por 13,7% deles”, explica o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (SP) Édson Bolfe, que coordenou o estudo.
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Tecnologias no campo
Bolfe conta que as soluções para melhorar o planejamento e a gestão da propriedade, seja por aplicativo ou plataformas web, foram apontados como os principais desejos de agricultores e prestadores de serviços que participaram da pesquisa.
“Mas há também uma forte expectativa por tecnologias que dependem de inovações em sensores e outros equipamentos e técnicas mais avançadas, como inteligência artificial, internet das coisas, automação, robótica, big data, criptografia e blockchain”, destaca o pesquisador.
Satélites e drones em expansão no agro
Série JN Inovação, drones na agricultura
Reprodução/Globo
Outra tecnologia com potencial de expansão nos próximos anos são as baseadas em dados ou imagens geradas por sensores remotos, como os satélites e drones. Cerca de 37% das empresas e prestadores de serviços entrevistados já atuam nessa área. A tecnologia também já é utilizada por 17,5% dos produtores rurais.
Para a pesquisadora do Inpe Ieda Sanches, o levantamento mostrou ainda um interesse em soluções para a agricultura a partir do sensoriamento remoto, tanto aéreo quanto orbital. São aplicações para detecção e controle de plantas daninhas, pragas e doenças, falhas de plantio e para estimativa de produção e produtividade.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Instrumentação (SP) Lúcio André de Castro Jorge, o mercado global de drones para agricultura de 2016 a 2020 foi da ordem de US$ 32,4 bilhões. “Nesse período, o aumento no uso de drones na agricultura foi de 172%. A projeção da expansão até 2025 é exponencial”, revela.
Para ele, a pesquisa mostrou essa tendência. “Se considerarmos novos lançamentos de sensores previstos nos nanosatélites e nos microsatélites, em 2022 deverá haver um salto significativo no uso dessas tecnologias”, calcula.
O pesquisador lembra que recentemente houve uma explosão de demandas por uso de drones na pulverização agrícola e no controle biológico.“Com a regulamentação da legislação para uso dos drones nessas aplicações [em consulta pública neste momento] espera-se que haja uma melhor utilização da tecnologia.
Acredita-se que os pulverizadores costais sejam substituídos por drones, principalmente pela redução de contaminação de operadores e melhor eficiência das aplicações. No controle biológico, várias culturas se beneficiarão da tecnologia, inclusive com menos impacto ambiental”, explica.
Para ele, os pequenos e médios produtores dependem muito de políticas públicas que favoreçam a inserção de tecnologias como essa. Uma alternativa apontada pelo pesquisador para os pequenos é a adoção da tecnologia via cooperativas de crédito e prestadores de serviço, que poderão atender vários grupos de uma região.
Castro Jorge informa que o mercado relativo apenas à fabricação de drones é de US$ 12 bilhões em negócios, com geração de emprego para mais de 100 mil profissionais no Brasil, sendo 26% só na agricultura, um negócio de US$ 2 bilhões no País até 2020. Assim, o pesquisador acredita que os preços dos veículos aéreos não tripulados devem se tornar mais acessíveis, com a disponibilização de treinamentos acompanhando a demanda, permitindo a adoção pelos pequenos produtores.



Fonte: G1