Entenda como ex-policial foi morto em Curitiba em trama do tráfico internacional; “Estamos falando de máfia”


Uma trama que envolve o tráfico internacional de drogas, o desaparecimento de um esloveno e a morte de ao menos três pessoas em Curitiba, entre elas um ex-policial civil. O esquema, que serviria facilmente de base para o enredo de uma série policial, foi desvendado pela Polícia Civil do Paraná (PCPR),  após oito meses de investigações. O chefe da organização internacional e o gerente dele, que moravam em Camboriú (SC) e teriam dado as ordens das execuções, estão foragidos. Eles são procurados pela Interpol.

A investigação da PCPR começou com a morte do ex-policial civil Samir Skandar e seu funcionário Alvari de Paula Silva. Eles foram assassinados com vários disparos no dia 9 de novembro de 2019, em um barracão no Bairro Alto, em Curitiba. A partir deste duplo homicídio, a polícia descobriu que Samir foi morto porque a organização de tráfico internacional de cocaína, da qual fazia parte, descobriu que ele tinha sido policial.

Local da morte de Samir e Alvari em 2019 – Barracão na Linha verde – Foto Banda B

“O Samir nunca havia contado para a organização internacional que tinha sido policial. Assim que alguns carregamentos de cocaína foram interceptados no Paraná, os chefões do tráfico começaram a caçar quem poderia ter entregue o  esquema. Foi então que descobriram que Samir foi policial. Temos um áudio em que, dias antes da morte, ele admite que trabalhou na polícia”, relatou a delegada Tathiana Guzella.

Segundo a polícia, o principal suspeito de ter executado Samir e o funcionário dele, Alvari, que foi morto apenas por estar ao lado do ex-policial, seria o sérvio identificado como Marjan, encontrado morto dias depois, com o corpo boiando em um lago em Campo Magro, na região metropolitana.

“Marjan pode ter sido o executor do duplo homicídio a mando dos chefões do tráfico internacional. Ele e um amigo esloveno, que está desaparecido, se mudaram de Camboriú para Curitiba dias antes da morte de Samir. E acreditamos que Marjan assumiu o lugar do Samir na organização sendo o responsável pela remessa de 240 quilos de cocaína. Esta droga, vinda da Bolívia e de altíssima qualidade, foi colocada em uma carga de sulfeto metálico que estava pronta para sair do Porto de Paranaguá até o Porto da Antuérpia, na Bélgica. Mas esta droga foi interceptada pela polícia”, disse a delegada.

Os chefões

Segundo a delegada, o chefão da organização criminosa seria  Hernandes Oliveira da Silva, o Mike, e o gerente do grupo seria  Luka Maric. Os dois são procurados pela Interpol e, de acordo com a delegada, teriam ordenado as mortes de Samir e Marjan.

Hernandes Silva (Mike) é apontado como chefão da organização de tráfico internacional – Reprodução

“Estes dois estavam no comando desta organização extremamente rica. Estava tudo pronto para que mandassem 1.420 quilos de cocaína de Curitiba para o aeroporto de Lisboa e, de lá,  para a Europa. Mas a polícia interceptou este carregamento, o que irritou os chefões. Eles desconfiaram de Samir, que acabou morto. O funcionário foi assassinado porque estava ao lado no momento. Mas, nas investigações, descobrimos também que Samir não tinha  a intenção de mandar a cocaína, como queria a organização. Ele planejava aplicar um golpe no grupo ficando com os valores”, afirmou a delegada.

Luka é apontado como o gerente da quadrilha – Reprodução PCPR

Prisão em Camboriú

O suspeito preso esta semana em Camboriú (veja o momento da prisão abaixo), seria integrante do grupo e admitiu ter entregue em um hotel na Avenida Paulista, em São Paulo,  dois pacotes com drogas e dinheiro para que o piloto que iria comandar  um jato G550, de grande autonomia de voo, de Curitiba até a Bélgica, carregado de droga.

“Um dos pacotes tinha quatro pacotes de cocaína, avaliada em 90 mil dólares. O outro tinha R$ 150 mil em dinheiro. Era o pagamento ao piloto. Este jato foi locado  por R$ 1,3 milhão. Mas a ideia da quadrilha era experimentar o avião para comprar ou um novo por R$ 65 milhões, ou um usado por R$ 35 milhões. Mas esta remessa não aconteceu porque a droga foi interceptada pela polícia”.

Vídeo com o momento da prisão do suspeito em Camboriú:

Polícia encontrou armas escondidas na cama de uma criança na casa do suspeito em Camboriú:

Alegria ao sair da cadeia

A delegada Guzella ainda divulgou um vídeo que mostra o momento em que o chefão Mike é libertado da prisão em Santa Catarina. Ele aparece cantando com amigos e comemorando a libertação feita por um erro do sistema penitenciário catarinense.

“O Mike foi preso em SC por dois mandados. Um pela morte de Samir e Alvari, em Curitiba, e outro por uma tentativa de feminicídio contra a própria esposa. Ele conseguiu a revogação do mandado deste crime de feminicídio, mas havia o duplo homicídio aqui no Paraná. Ainda assim, um funcionário, que me parece já foi punido, o colocou em liberdade. Desde então, não foi mais visto e, junto com o Luka, é procurado pela Interpol”.

A delegada finaliza dizendo que trata-se de uma máfia. “Estamos falando de uma máfia de tráfico internacional que passa a droga vinda da Bolívia, passando pelo Paraná e seguindo para a Europa. Tem todas as vertentes de uma trama com policiais infiltrados e todo enredo de uma grande organização criminosa”.



Fonte: Banda B