Cabo Frio, RJ – A saúde pública em Cabo Frio vive um cenário de caos, com demissões em massa em hospitais, postos de saúde desassistidos, escassez de exames e um tempo de espera que pode chegar a cinco horas em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). As queixas, antes restritas a corredores de hospitais, agora ecoam nas ruas, com a população e profissionais da saúde expressando profunda indignação.
Nesta quarta-feira, 21 de maio, a situação atingiu um novo patamar de tensão. Funcionários do Hospital da Mulher, demitidos abruptamente e sem aviso prévio, buscaram respostas na Prefeitura, após não encontrarem responsáveis na Secretaria de Saúde. A técnica de enfermagem Nathalia Barros cobrou diretamente o prefeito, Dr. Serginho, conhecido por suas frequentes publicações em redes sociais, mas a resposta foi um silêncio “ensurdecedor”.
Hospital da Mulher em Risco e Caos no São José Operário
A onda de demissões atingiu cerca de cem profissionais no Hospital da Mulher, o que, segundo relatos, está comprometendo diretamente a segurança de pacientes e recém-nascidos. A preocupação se agrava com a constatação de que substitutos emergenciais demonstram inaptidão, como a dificuldade em manipular a colocação de soro.
Ainda mais alarmante foi a demissão de todos os funcionários do Hospital São José Operário às 14h da mesma quarta-feira. A ausência de profissionais para substituição imediata levanta questionamentos sobre a responsabilidade em casos de emergência no trauma ou qualquer intercorrência com pacientes. “E se ocorresse alguma emergência no trauma? Ou algum paciente se sentisse mal? Quem iria se responsabilizar?”, questionou uma fonte próxima à situação, pedindo anonimato.
UPAs e Postos de Saúde Afundam na Crise
A crise se estende às UPAs, onde a população enfrenta longas filas e atendimento precário. A moradora Tânia, do bairro Guarani, relatou que, ao procurar a unidade do Parque Burle, encontrou pacientes que aguardavam desde as 12h, sendo atendida somente após as 17h.
No Hospital do Jardim Esperança, o cenário não é diferente, com falta de profissionais, insumos básicos e respeito com a população. A moradora Edilene, mãe de dois filhos especiais, precisou ir embora sem atendimento após horas de espera, um retrato cruel do descaso.
Profissionais Demitidos sem Pagamento: Boicote à “Saúde de Qualidade”
A situação se agrava com a notícia de que os profissionais demitidos foram informados por suas coordenações que não receberão pelos dias trabalhados. Essa postura agrava a crise e desrespeita os trabalhadores, muitos deles em situação de vulnerabilidade.
A indignação da população contrasta diretamente com as promessas de campanha do prefeito Dr. Serginho. Em seus vídeos e discursos, ele prometia uma “saúde de qualidade” para os cidadãos, com foco na atenção básica, exames e acolhimento. O slogan “a vida vai melhorar” parece hoje uma ironia amarga para os cabo-frienses que assistem ao desmonte da saúde pública.
Até mesmo os defensores mais leais da atual gestão demonstram desilusão e começam a se posicionar contra a administração. Nos bastidores, a fala corrente é de que a gestora da pasta da saúde não tem autonomia, e que “alguns vereadores eleitos continuam no esquema de ‘colocar quem querem'”, sugerindo interferências políticas na gestão.
A expectativa em torno da atual gestão era grande, mas em apenas cinco meses, setores essenciais da administração municipal, como a saúde, mostram-se em franco declínio. A falta de resposta à população por parte da Prefeitura é “vergonhosa e supera até as maldades descritas no livro ‘O Príncipe’ de Maquiavel”, segundo analistas locais.
Procurada pela reportagem, a Comunicação da Prefeitura de Cabo Frio não se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta edição. Em meio à crise na saúde, o prefeito Dr. Serginho lançou hoje o calendário de eventos do município, o que reforça a percepção de que, para a atual gestão, “tudo é uma questão de prioridade”, e a saúde da população não parece estar no topo da lista.