Boate de PM e deputado onde polícia investiga estupro no RJ foi multada por realização de festa clandestina, diz Prefeitura | Região dos Lagos


A boate da qual o deputado Filipe Poubel (PSL) e o capitão da PM Diogo Souza da Silveira são sócios em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, foi multada pela Prefeitura no dia 23 de maio depois que equipes de fiscalização constataram um evento em andamento e pessoas sem máscara, desrespeitando as determinações de um decreto vigente à época.

A polícia investiga um caso de estupro que teria acontecido na boate no dia 8 de maio, na véspera do Dia das Mães. A vítima denunciou o crime na Delegacia da Mulher de Cabo Frio e disse que foi estuprada por dois funcionários do estabelecimento.

A mulher conta que saiu do Rio e foi até Cabo Frio passar o fim de semana com a família. No dia, encontrou amigos e foi a uma festa clandestina no Buda Lounge. A entrada, segundo ela, era pela cozinha – e ninguém podia usar o celular.

‘Nunca imaginei que isso pudesse acontecer’, diz mulher que denunciou estupro em boate

O caso foi mostrado no RJ2 desta terça-feira (6) e, horas depois, os sócios publicaram fotos nas redes sociais em que aparecem na boate. Em uma das imagens, os sócios aparecem brindando. Em outra, que teria sido tirada no dia do suposto estupro, Diogo cobriu o rosto da suposta vítima e escreveu: “Só aguardando as verdades dos fatos! Toda a verdade! Quem não deve não teme!”

Filipe Poubel (E) brinda com Capitão Diogo; na foto da direita, o PM escreveu: ‘Quem não deve não teme’ — Foto: Reprodução

Segundo a prefeitura, equipes de fiscalização foram à boate após receber denúncias de uma festa clandestina. Por volta das 2h da manhã do dia 23 de maio, os fiscais encontraram o evento em andamento. Na ocasião, a festa foi encerrada e o estabelecimento notificado e multado em R$ 5 mil.

Ainda segundo o município, “o processo administrativo referente ao estabelecimento foi encaminhado para a Procuradoria-Geral do Município, que avalia a pertinência legal para a proposição de ação na Justiça, em virtude de reiterados descumprimentos às normas municipais”.

A polícia já esteve na boate para perícia e a liberou para funcionamento. Na manhã desta quarta-feira (7), havia viaturas da Polícia Civil estacionadas na frente do estabelecimento. A delegacia de Cabo Frio informou que nenhuma diligência sobre esse caso foi realizada nesta quarta-feira pela 126ª DP.

O G1 aguarda retorno dos sócios sobre a multa aplicada pela Prefeitura.

Carros de polícia na manhã desta quarta-feira (7) na frente da boate onde crime de estupro é investigado em Cabo Frio — Foto: Arquivo pessoal

O caso foi registrado na delegacia da mulher de Cabo Frio. O RJ2 tentou entrevistar a delegada, mas a polícia respondeu que a investigação está em sigilo. A equipe de reportagem apurou que, até esta terça-feira (6), oito pessoas haviam prestado depoimento.

Só em julho, mais de um mês depois que o registro de ocorrência foi feito, policiais estiveram na boate e apreenderam o sofá para que uma perícia fosse feita.

A vítima fez um exame toxicológico e deixou o vestido, que foi usado no dia, no Instituto Médico-Legal, mas o resultado do laudos ainda não saiu.

Segundo a advogada Letícia Delmindo, a investigação não avança e a boate segue em funcionamento.

“É mais do que necessário o comparecimento de todos para auxiliar nessa investigação. Mas o cenário que aparece é outro, proprietários não aparecem em sede policial, permanecem em silêncio e quando se apresentam colocam como se a mulher fosse culpada. Não juntam as câmeras de segurança, o sofá onde foi o delito não é apresentado. E o pior: [o local] continua funcionando como se nada tivesse acontecido”, diz a advogada Letícia Delmindo.

“Além do prejuízo que eu estou tendo, ainda estou abalada. Eu quero resolver, quero a responsabilidade, a resposta.”

O RJ2 teve acesso ao depoimento dos funcionários que foram acusados pela vítima. Um deles disse que abordou a mulher, foi correspondido e que ficou com ela por um tempo próximo ao balcão da boate.

À polícia, o funcionário negou ter tido relação sexual e disse ter sido ameaçado de morte por traficantes da comunidade onde mora caso ele tivesse “culpa no cartório”. Ele negou todas as acusações da vítima.

O outro funcionário disse que não esteve onde supostamente aconteceu o caso, no segundo andar, que não sabe quem esteve no local e que não conhece a vítima.

Capitão Diogo também prestou depoimento. Ele disse que a mulher insistiu em falar com ele, e se insinuou, dizendo que queria beijá-lo. O dono disse que foi para um dos camarotes, para evitar as investidas, e que depois disso não a viu mais. Meia hora depois, ele viu que estava acontecendo “um tumulto”.

Capitão Diogo contou que a mulher veio falar com ele novamente, dizendo estar com vergonha. O policial disse que a mulher estava consciente, que a questionou sobre o que tinha acontecido, mas que ela não falava. Ele afirmou não se lembrar se a mulher estava chorando.

O deputado Filipe Poubel já foi intimado para depor, mas não compareceu à delegacia. Ao RJ2 ele disse não ter sido notificado, mas que está disposto a falar.

O RJ2 foi atrás do deputado na Assembleia Legislativa, mas não o encontrou. Ele enviou um vídeo no qual disse que no dia da acusação a boate recebia uma festa particular, sem bilheteria e que ele estava lá para cuidar da parte administrativa. O deputado disse ainda que não foi notificado oficialmente para o depoimento e que se compromete a falar de maneira voluntária para “prestar todos os esclarecimentos possíveis”.

“Não sou homofóbico, inclusive tenho funcionários no meu gabinete que são homossexuais”, disse ela ao RJ2.

A mulher afirma que os donos do local estão se isentando da responsabilidade pelo que acontece no estabelecimento e por seus frequentadores.

“Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer lá dentro. Eu achei que fossem se responsabilizar pela segurança de quem estava lá. Não foi isso que aconteceu, estão se isentando de responsabilidade. Os dois donos, um capitão da polícia e um deputado, eles têm conhecimento da lei. E está sendo totalmente o contrário que está acontecendo”, diz a vítima.

Polícia investiga denúncia de estupro em boate em Cabo Frio
Polícia investiga denúncia de estupro em boate em Cabo Frio

Polícia investiga denúncia de estupro em boate em Cabo Frio



Fonte: G1