Aulas de equitação melhoram crises de ansiedade em crianças durante a pandemia em Maricá

Aulas de cavalgada têm sido terapêuticas para crianças em Maricá, na Região Metropolitana do Rio. Entre julho e dezembro, houve um aumento de 70% no número de alunos de um rancho no município. A maior parte da procura é para crianças entre 5 e 10 anos de idade.

A garotada tomou conta da pista de areia. São crianças que foram afetadas por causa do distanciamento social e que vão para a escola de equitação para gastar energia. Para a Maria Fernanda Alves, de 5 anos, o que não falta é coragem. A pequena já está aprendendo a dar os primeiros galopes.

“Eu corro com o cavalo, faço tambor…” Quando questionada se tem medo do animal, a resposta é objetiva: “Não!”

A empresária Milene Malta, mãe da Maria, explica que o início da pandemia foi um período de difícil adaptação, mas a cavalgada ajudou a aliviar a tensão do isolamento.

“Ela teve algumas crises de ansiedade, porque a gente saia pra trabalhar e ela não podia acompanhar a gente. Ela ficou muito triste dentro de casa… então a gente viu aqui uma grande oportunidade para tirar ela da frente do telefone, do tablet”, conta Milene.

Os proprietários de um dos principais ranchos de Maricá explicam que a procura por essa atividade ao ar livre aumentou no segundo semestre de 2020, quando o número de matrículas cresceu em cerca de 70%.

“A pessoa que vem pra cá não precisa ter um cavalo. A gente faz as aulas numa pista, um local controlado, em que fica um instrutor ao lado. Crianças menores de 12 anos usam um capacete que a gente fornece”, explica Alessandro Souza, dono do espaço.

Alessandro explica ainda que durante as aulas são ensinados inicialmente três andamentos diferentes.

“O passo é o andamento inicial, mais lento. O trote é o intermediário e o galope já é o mais rápido”.

Adriana Cotrim de Souza, proprietária do rancho, explica que as aulas de equitação são destinadas a pessoas que querem aprender apenas a montar ou praticar o hipismo rural.

“A gente ensina a equitação básica, os princípios da equitação, para se entender o funcionamento do animal de uma forma muito simples. As pessoas ficam até um pouco surpresas. Mas também existem muitos comandos ali pra se ter um controle”, disse Adriana.

Maria Fernanda Alves, de 5 anos, está apreendendo a dar os primeiros galopes em aula de equitação em Maricá — Foto: Anna Beatriz Lourenço/Inter TV

A equitação trás inúmeros benefícios à saúde, como fortalecimento dos músculos dos braços e das costas, além de melhorar a capacidade cardiopulmonar. A atividade ajuda a corrigir a postura e também faz bem para a autoestima e para a saúde emocional.

A busca por atividades ao ar livre e que não provoquem aglomeração também é um motivo que explica o crescimento na procura. Além da Maria Fernanda, outras crianças também foram matriculadas nas aulas nos últimos meses.

A agente de viagem Michele Santos afirma que inscreveu o filho na escola de equitação para ampliar o contato dele com a natureza. O pequeno Natan Santos, de 7 anos, está na aula há 6 meses.

“Ele gosta muito dos animais. Eu busquei a atividade pelo esporte em si, porque eu acho importante que a criança tenha disciplina, aprenda a lidar com os animais, que crie um respeito”, diz a mãe do Natan.

Para o Henrique de Andrade, de 9 anos, o mais difícil é galopar. “Eu acho que é porque tem que bater mais, mas é o que eu acho mais legal”.

O Lucas Gonçalves, de 7 anos, acabou de começar e se diverte com as aulas.

“Eu fico dando volta naqueles cones. É legal, só quando eu cheguei que eu tava um pouquinho nervoso”.

Além dos novatos, o rancho também tem alunos mais antigos. Um deles é o Renato Cunha, que também está em busca dos benefícios da equitação. Renato não só participa das aulas como também passa tempo com os animais e os alimenta.

Ele é aluno há quase 12 anos por orientação médica, e para o pai, o resultado da terapia tem sido satisfatório.

“Não há dinheiro que pague isso”, diz o engenheiro civil Luiz Renato Cunha.

Vinicios Ari, empresário, que faz aulas duas vezes na semana, acredita que, para quem mora no tumulto da área urbana, essas aulas no campo são como um escape.

Henrique de Andrade, de 9 anos, faz aulas de equitação em Maricá durante a quarentena — Foto: Anna Beatriz Lourenço/Inter TV

“Está sendo uma fuga, já que eu moro no centro da cidade de Marica, onde tem carro, poluição… desde moleque sempre gostei de cavalos, de corrida e também dessa adrenalina. Eu comecei (a fazer aulas) quando eu tinha uns 13 anos e daí nunca mais larguei”, contou.

Os cavalos mansos são treinados especificamente para os iniciantes, que andam acompanhados. Se já é difícil para os alunos, para os instrutores o desafio é maior ainda.

“Controlar tanto o domínio quanto a criança gente tem que controlar os dois porque se não corre demais outro corre de menos e a gente tem que controlar a moçada”, afirma o instrutor Antônio Luiz de Moraes.

A pista de areia para treinamento mede 40x90m e comporta todas as modalidades com cavalos do rancho. Além da equitação o lugar também oferece um acompanhamento para cavaleiros que queiram se profissionalizar e participar de competições.

O rancho, que fica na Serra do Espraiado, em Maricá, foi criado em 1995 e tem 30 baias para hospedagem dos cavalos em dois pavilhões. A ração predominante é a Quarto de Milha. Depois da alimentação, os animais tem acesso livre ao pasto, onde ficam a noite toda soltos, se preparando para mais um dia de treinamento.

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