Fiat Argo Trekking 1.8: primeiras impressões




Hatch compacto traz visual bacana e até pneus de uso misto. Só que versão com câmbio automático chega associada a um motor que não entrega desempenho nem economia de combustível. Fiat Argo Trekking 1.8
André Paixão/G1
A versão aventureira do Argo, chamada de Trekking, parece ter feito sucesso. Não satisfeita em oferecer o hatch com visual aventureiro com motorização 1.3 e câmbio manual, a Fiat resolveu expandir a linha e lançar uma configuração que combina um motor mais forte com a transmissão automática, cada vez mais popular em carros compactos.
O upgrade no motor também representa aquele salto na tabela de preços. Assim, o Argo Trekking passa dos R$ 62.490 da versão 1.3 para R$ 69.990 do 1.8.
O conjunto mecânico é a única diferença dos modelos.
Tabela de concorrentes do Fiat Argo Trekking
Fotos: André Paixão, Marcelo Brandt/G1 e Divulgação
Ambos compartilham a lista de equipamentos de série, que inclui: ar-condicionado, direção elétrica, vidros e travas elétricos, rodas de 15 polegadas com pneus de uso misto, central multimídia de 7 polegadas, sensor de ré e volante com regulagem de altura.
A unidade avaliada ainda trazia alguns opcionais: câmera de ré (R$ 1.200) e o Kit Tech (R$ 3.600), que contempla acesso e partida sem a necessidade de chave nas mãos, ar-condicionado digital, computador de bordo com tela de 7 polegadas, sensores crepuscular e de chuva e retrovisor interno antiofuscante.
Fiat Argo Trekking 1.8
André Paixão/G1
Com isso, o preço salta para R$ 74.850. Por um lado, se distancia dos R$ 62.490 da versão com motor 1.3 básica. Mas fica perigosamente próximo do Jeep Renegade de entrada, que traz a mesma combinação de motor e câmbio e custa R$ 77.490.
Nem economia, nem desempenho
Com o 1.8 debaixo do capô, o motorista pode até ter pretensões de que o Argo vá empolgar. Os números também reforçam essa expectativa. O motor de 4 cilindros da família E-Torq entrega 139 cavalos e 19,3 kgfm – 30 cv e 5,1 kgfm de torque extras em relação ao 1.3 Firefly.
Só não espere uma mudança expressiva no desempenho. Apesar da maior cilindrada, potência e torque, o aventureiro foi feito para quem gosta de uma condução mais pacata.
Fiat Argo Trekking 1.8
André Paixão/G1
Prova disso é a diferença ínfima no tempo de aceleração de 0 a 100 km/h: 0,4 segundo a favor do 1.8, que cumpre a prova em 10,4 segundos, contra 10,8 segundos do 1.3.
Há duas razões principais para que a potência extra não se sobressaia. A primeira é a diferença de peso de 100 kg, com o 1.8 levando a pior. A segunda é que o câmbio automático é mais “preguiçoso” do que um motorista realizando as trocas manuais.
Esse comportamento da transmissão também está associado ao acerto voltado para o conforto, oferecendo trocas de marcha suaves e em baixas rotações.
Fiat Argo Trekking 1.8
André Paixão/G1
A 60 km/h, em vias planas, o hatch pode rodar em sexta marcha. Mas, na hora que o Argo precisa de agilidade, há uma certa demora na transmissão para fazer reduções.
Talvez a morosidade seja por conta de outra prioridade no gerenciamento: a redução do consumo de combustível.
Só que nem isso ajudou a conter o apetite voraz do motor 1.8, conhecido exatamente por ser um apreciador de gasolina e etanol.
Segundo dados do Inmetro, ele faz 6,6 km/l de etanol na cidade e 8,6 km/l na estrada. Com gasolina, as médias são um pouco melhores: 9,4 km/l e 11,9 km/l, respectivamente.
Desempenho e consumo só devem melhorar quando o Argo ganhar o motor turbo que a Fiat está terminando de desenvolver. Porém, como as prioridades são SUVs e picapes, o compacto ainda deve preservar o 1.8 aspirado por algum tempo.
Flerta com o off-road
Ângulos de ataque e saída do Argo Trekking são melhores até do que o de alguns SUVs
André Paixão/G1
O “kit aventureiro” do Argo Trekking traz bons ângulos de ataque e saída, 21° e 31,1°, respectivamente, e altura mínima para o solo de 21 cm.
Ele sequer chega perto do “primo” distante Jeep Renegade, mas tem melhores atributos para encarar uma trilha do que SUVs compactos como Chevrolet Tracker, Nissan Kicks, Hyundai Creta e Honda HR-V, por exemplo. E nunca é demais lembrar que o Argo é um hatch compacto.
A capacidade de enfrentar terrenos acidentados ainda é reforçada com pneus de uso misto, Pirelli Scorpion ATR, na unidade avaliada.
Pneus do Fiat Argo Trekking 1.8 são de uso misto
André Paixão/G1
Aqui, a decisão da Fiat pode ser questionada. Apesar de entregar alguma vocação no off-road, os pneus de uso misto também têm suas desvantagens.
Uma delas é aumentar o consumo de combustível, que já não é o ponto forte do Argo. Além disso, em velocidades mais altas eles fazem mais barulho de rodagem.
Por fim, são bem mais caros do que similares “urbanos”. Em uma rápida pesquisa na internet, foi possível encontrar os Pirelli Scorpion ATR na medida do Argo (205/60 R15) por aproximadamente R$ 560.
Enquanto isso, os pneus que equipam o Argo Precision, na mesma medida, são vendidos por cerca de R$ 400. Em um jogo completo, a diferença pode chegar a R$ 640.
Entre os hatches com pegada aventureira, apenas o Hyundai HB20X, já testado pelo G1, também entra na onda dos pneus de uso misto. Enquanto isso, Ford Ka FreeStyle, também avaliado, e Renault Sandero Stepway “calçam” pneumáticos convencionais.
No fim das contas, pneus de uso misto em um hatch compacto vão servir mais para dar um visual bacana.
Nesse quesito, não só por conta dos “calçados”, o Argo Trekking se sai bem na foto. A “maquiagem” da Fiat incluiu um rack de teto, adesivos e detalhes escurecidos, como as capas dos retrovisores e o teto pintados de preto.
Montagem com os detalhes visuais do Fiat Argo Trekking
André Paixão/G1
Os elementos mais legais, no entanto, são os emblemas da Fiat também em preto. O padrão se repete na cabine, onde os bancos receberam estofamento exclusivo com o nome da versão bordado. O assento, porém, poderia ser mais confortável.
De modo geral, o acabamento do Argo Trekking é bom. O interior é um dos mais modernos entre os carros compactos, combinando elementos redondos, como as saídas de ventilação centrais com teclas que remetem à aviação.
A central multimídia de 7 polegadas tem o estilo “flutuante” e interface amigável e elegante, mas ainda não traz o espelhamento de celulares sem fio, como na similar presente na nova Fiat Strada.
Central multimídia do Argo Trekking
André Paixão/G1
Vale a pena?
A resposta é depende.
Com os opcionais da unidade avaliada, o Argo Trekking custa pouca coisa a menos que um Jeep Renegade, maior, mas com o mesmo conjunto mecânico. A escolha pelo Fiat só se justifica se o futuro dono quiser um carro compacto.
Além do mais, tanto Argo como Renegade são adequados para quem busca uma condução mais mansa, sem se importar com desempenho ou consumo de combustível.
Fiat Argo Trekking 1.8
André Paixão/G1
Agora, se o pé do motorista for um pouco mais pesado, talvez seja melhor procurar na concorrência. Nesse aspecto, Ford Ka FreeStyle e Hyundai HB20X se saem melhor, ainda que também tenham suas falhas.
No caso do Argo, o excesso de apetite e a falta de fôlego só devem ser reparados quando a Fiat lançar os novos motores turbo. Mas ainda não há uma previsão para que eles cheguem no compacto.



Fonte: Auto Esporte