Avaliação: Mini Cooper S elétrico tem autonomia limitada


Dianteira Mini Cooper S E elétrico 2022

Compacto custa 12% a mais que hatch a gasolina e pode ser recarregado em tomada comum, mas possui alcance inferior a 200 km em uso cotidiano

O Mini Cooper S E, primeiro elétrico da marca de origem britânica, me fez voltar aos tempos em que eu brincava com carrinhos de controle remoto. A lembrança, entretanto, foi despertada por dois sentimentos opostos ao dirigir o modelo. De um lado, a diversão dos tempos de criança é resgatada pela essência lúdica do compacto. Em contrapartida, a ansiedade gerada pela autonomia curta do Cooper elétrico também remete aos brinquedos de antigamente, que esgotavam a bateria no momento mais divertido da brincadeira.

Antes de detalhar minha experiência ao volante do Cooper S E, vale lembrar que o modelo estreia no Brasil esta semana em três versões: Exclusive (R$ 239.990), Top (R$ 264.990) e Top Collection (R$ 269.990). Se considerarmos o Cooper S a combustão, que tem tabela inicial R$ 214.990 no acabamento Exclusive, o Mini elétrico chega com preço apenas 12% maior – uma relação custo-benefício atraente para quem está decidido a entrar no mundo dos plugáveis. Na etapa de lançamento, os clientes ganharão o Wallbox da marca (que custa R$ 7.900) e as 3 primeiras revisões grátis.

Na comparação com o Cooper S tradicional, de três portas, o Cooper S elétrico mantém exatamente as mesmas medidas em comprimento (3.850 mm), largura (1.727 mm) e distância entre eixos (2.495 mm). A diferença aparece na altura, 18 mm maior no elétrico (1.432 mm), por conta da suspensão ligeiramente elevada para acomodar com segurança a bateria de tração.

Ainda que tenha 190 kg extras no peso em ordem de marcha (1.365 kg), o Cooper S E possui centro de gravidade 30 mm mais baixo que o modelo a combustão graças ao posicionamento das baterias no assoalho, em forma de T, onde ficariam a tubulação de escapamento e o tanque de combustível. Por conta disso, o espaço na cabine e no diminuto porta-malas (211 litros) manteve-se inalterado.

Desde a versão básica, o Cooper elétrico traz de fábrica ar-condicionado digital de duas zonas, central multimídia de 8,8”com serviços conectados, quadro de instrumentos digital de 5”, teto solar panorâmico, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré e faróis full LED. A versão Top avaliada acrescenta itens como sistema de estacionamento automático, som Harman/Kardon, head-up display, chave presencial, faróis matriciais direcionais, assistente de mudança involuntária de faixa e frenagem autônoma com detecção de pedestres. A variante Collection diferencia-se pela ausência de teto solar e opção de pintura do teto em três cores.

Autonomia declarada

O Mini Cooper S E 3 portas troca o 2.0 turbo, a gasolina, de 192 cv e 28,5 kgfm, por um motor elétrico de 184 cv de potência e 27,5 kgfm de torque. A aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 7,3 segundos, enquanto a velocidade máxima é limitada a 150 km/h, segundo dados de fábrica. O modelo traz os modos de condução Sport, Mid, Green e Green+ , que entregam respostas ao acelerador mais ou menos ágeis e interferem instantaneamente na autonomia.

A energia é fornecida para o motor elétrico por uma bateria de 32,6 kWh de capacidade bruta de armazenamento (sedo 28,9 kWh de capacidade líquida). Com consumo homologado de 18 kWh/100 km, a autonomia do modelo é de 234 km pelo ciclo de testes global WLTP. Para quem utiliza o carro somente para ir e voltar do trabalho, uma carga semanal no próprio Wallbox pode ser suficiente. E barata: segundo a Mini, uma carga completa da bateria pode custar, em média, R$ 30.

O lado “bom” da bateria de menor capacidade é a agilidade de recarga, sendo necessárias 2 horas e 30 minutos para chegar a 80% do nível total em carregadores Wallbox de 11 kW (corrente alternada). O compacto também é compatível com plugues de corrente contínua, para carregadores de 50 kW, o que permite baixar o tempo de recarga (de até 80%) para 36 minutos.

Boa sacada da Mini é oferecer, de série, a opção de carregador doméstico de emergência, com plugue de três pinos compatível com o padrão brasileiro. Desta forma, basta conectar o cabo do modelo a qualquer tomada 220V (com aterramento) para iniciar a carga do modelo, que pode levar entre 12 e 14 horas.

Autonomia no mundo real

Ao volante, o Cooper S E tem comportamento próximo ao modelo convencional, com boa estabilidade em curvas e direção com assistência elétrica na medida certa (leve apenas em manobras). O ajuste firme da suspensão, aliado aos duros pneus run flat, transmitem à cabine as imperfeições do asfalto.

No início de nossa avaliação, retiramos o modelo com carga completa da bateria (100%). O computador de bordo indicava autonomia de 185 km. Em um trajeto que incluiu trechos urbano e rodoviário, optamos por não recarregar o modelo em nenhum momento para avaliar a autonomia em uso real. A central multimídia até indica um círculo de alcance no mapa de navegação integrado, mas o uso pouco prático do equipamento faz o motorista optar pelo espelhamento de mapas via Apple CarPlay (com ou sem fio).

Outro recurso que auxilia a administrar a autonomia é o ajuste de regeneração de energia em frenagens, com dois níveis (baixo e alto). No segundo, a desaceleração do modelo é intensa ao tirar o pé do acelerador, o que reduz a necessidade de uso do freio. Aliás, o Mini Cooper S E traz acionamento eletromecânico do freio de estacionamento, mas deve a função de retenção automática (auto hold) em paradas.

Em um trajeto feito somente com o motorista a bordo e sem carga no porta-malas, usamos o pedal do acelerador com parcimônia e tivemos que optar por rodar com ar-condicionado desligado (e vidros fechados!) a maior parte do tempo, a fim de tentar conter a rápida queda do nível de carga da bateria. Ao final do test-drive, de 169 km ao todo, devolvemos o Cooper S E no mesmo local de partida com 12% de bateria e 13 km de alcance – o que indicaria autonomia real de 182 km, próxima aos 185 km sugeridos no início do teste. O consumo, entretanto, foi de 14,7 kWh/100 km, índice melhor do que o divulgado pela marca.

Nossa análise final é de que o Mini Cooper S E é um modelo para uso exclusivamente em ambiente urbano, já que a baixa autonomia restringe a utilização rodoviária normal – afinal, qual proprietário estaria disposto a rodar com ar-condicionado desligado e vidros fechados?

Para quem deseja utilizar o carro no dia a dia mas não abre mão de viagens esporádicas, o híbrido plug-in Countryman S E All4 (R$ 259.990 iniciais) pode ser a opção mais indicada para os entusiastas da eletrificação. Ele é o único modelo da marca capaz de rodar até 52 km em modo elétrico (WLTP) e superar os 500 km de autonomia em modo híbrido. Uma questão de escolhas.

Ficha técnica

• DADOS DE FÁBRICA
Mini Cooper S E Top 2022
MotorDianteiro, elétrico
Cilindrada
Potência184 cv
Torque27,5 kgfm
CâmbioAutomático, tração dianteira
Suspensão (dianteira / traseira)Indep. McPherson/Indep. Multibraço
Pneus e rodas205/45R17
Freios (dianteira / traseira)Disco ventilado/Disco
Peso (kg)1.365
Comprimento (mm)3.850
Largura (mm)1.727
Altura (mm)1.432
Entre-eixos (mm)2.495
Volume do porta-malas (litros)211
Autonomia (km)234 (ciclo WLTP)
Preço básico (versão avaliada)R$ 264.990

Fotos: Gustavo de Sá/Revista Carro e Divulgação



Fonte: Revista Carro