Avaliação: Ford Bronco Sport é SUV de verdade e vale o que custa


Ford Bronco

O design “quadradão” faz clara referência ao Ford Bronco original – que foi vendido nos EUA entre 1966 e 1996 e ficou bastante famoso por ter sido usado pelo ator O.J.Simpson na famosa fuga da polícia. Meio esquisito, talvez, com faróis e grade avantajados, mas certamente bem original, ele claramente remete a um SUV clássico – e não a um desses muitos crossovers modernos, meio cupê, meio perua, meio sei-lá-o-quê que temos por aí.

Aqui, precisamos abrir um parênteses: a reencarnação do Ford Bronco acabou virando dois modelos distintos. Além do Bronco puro e duro, um SUV sobre chassi para off-road pesado (rival do Jeep Wrangler — leia aqui a avaliação), há este Bronco Sport avaliado aqui. Assim como os tais crossovers modernos, ele usa construção com monobloco, mas tem um estilo bem mais “raiz” (entenda a diferença entre os SUVs da Ford clicando aqui). E não só estilo, como logo veremos.

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Ford Bronco

O porte é similar ao do Jeep Compass, mas o design é mais “quadradão”O Bronco Sport chega ao Brasil, e, ao menos por enquanto, só na versão Wildtrak, de R$ 264.690. Mais caro que seu maior rival, o Jeep Compass Trailhawk TD350 (R$ 224.304), ele mira também modelos “premium” como o Audi Q3, o BMW X1, o Mercedes-Benz GLA e o Land Rover Discovery Sport, além do potente híbrido Volvo XC40, nossa Compra do Ano 2021.

Após um teste off-road (leia mais abaixo) e alguns dias de convivência – primeiro na cidade e depois por estradas de diversos tipos –, o Bronco Sport se mostrou bem mais interessante do que qualquer um deles. Pode não ser o mais chique, o mais tecnológico ou o mais econômico, porém nos convenceu pelos pequenos detalhes, pelo conjunto mecânico e pela dinâmica, além da ótima capacidade off-road. Um SUV multiuso, versátil e cheio de personalidade.

Ford Bronco Sport: sensações de SUV

Ao entrar na cabine do Ford Bronco Sport, o banco estava posicionado lá embaixo – tão baixo que assustei. Mas o ajuste é amplo, e subi até ficar bastante alto, como deve ser em um SUV. E o volante também tem ajuste generoso, então, qualquer que seja sua altura preferida, você encontrará uma posição confortável de guiar. As portas com apoios de braços e superfície retas remete a utilitários-esportivos clássicos, ajudando a criar um excelente “clima de SUV”. Cooperam para esta sensação os bancos bicolor marrom/preto, que mesclam couro perfurado e camurça – tudo bem “country” (e o aquecimento foi conveniente ao encarar a serra, com 12oC e janelas abertas). Já os acabamentos internos misturam revestimentos macios nas partes altas com superfícies duras, melhores de lavar, mais abaixo – e, debaixo dos carpetes, tudo é plastificado/emborrachado (e muito mais fácil de limpar após as trilhas).

A tela multimídia recebe o motorista com uma animação que mostra cavalos, lama e pedras, convidando para a aventura. Com tela sensível ao toque de 8”, é pequena para os padrões atuais, mas achamos que os outros é que estão exagerando. O que importa mais é a funcionalidade. O sistema Sync 3 é fácil de usar, e na tela dele cabe tudo que é preciso saber – até porque, em meio aos instrumentos analógicos, outra tela colorida, de 6.5”, mostra uma infinidade de informações.Abaixo do multimídia, um bom porta-objetos, e, mais abaixo, o carregador de celular por indução.

A lista de equipamentos inclui, entre muitas coisas, ar-condicionado dual-zone (com três níveis diferentes no modo automático e saídas traseiras) e partida remota, além de um sistema de som da renomada Bang & Olufsen com dez alto-falantes e 1.000 W, roteador wi-fi embarcado e duas tomadas AC 120V – uma para o banco traseiro e outra no porta-malas. Só faltou um teto-solar panorâmico (tem um que é até grande, porém “comum”).

A tampa traseira permite abrir apenas o vidro para acesso mais fácil a objetos colocados na prateleira/divisória do porta-malas (veja abaixo)

A cabine não é muito ampla, mas acomoda razoavelmente bem uma família – tem espaço similar ao do Jeep Compass, que também tem dimensões externas quase iguais. Já para as bagagens, são 580 litros até o teto, com uma divisória versátil que separa o espaço ao meio ou pode ser colocada para baixo (ou, ainda, deslizada para virar uma mesinha, meio para fora do carro – com iluminação por LEDs que ficam na tampa). Criativo.

Ford Bronco Sport: ao gosto do motorista

Ao volante, a primeira impressão também é de se estar em um SUV de verdade. As suspensões são macias e confortáveis, contando com a ajuda dos pneus todo terreno 225/65 R17. Já o capô tem ressaltos bem visíveis pelo motorista – e que ajudam a sempre saber bem onde a frente do carro está (o que é bastante útil em estradas apertadas e nas trilhas).

Na hora de sair da garagem, no entanto, o comando giratório do câmbio não é uma boa ideia: diversas vezes acabei o confundindo com o seletor, também giratório, de modo de condução. Já o freio de mão é eletrônico e automático, com a prática função auto-hold.

Já para quem curte sistemas de direção semiautônoma, há alerta de colisão, leitor de placas, luz alta automática e assistente de faixa ativo – que atua quando o piloto automático adaptativo está ligado, centralizando o SUV na faixa (como sempre, as mãos precisam ficar no volante). Sem ativar o ACC, o alerta de mudança de faixa só vibra o volante para alertar o motorista descuidado).

Em movimento, o conjunto motriz com motor 2.0 turbo de 240 cv e 38 kgfm (3.000 rpm) e câmbio automático de oito marchas com tração integral (sob demanda e com diferencial traseiro com dupla embreagem) não decepciona. A aceleração de 0-100 km/h leva só 8 segundos; nem parece que o SUV pesa 1.800 kg. Mas é claro que ele cobra no consumo: na cidade, não passamos de 7 km/l, e na estrada, limite de 120 km/h, foi bem difícil passar dos 10 km/l (a nota só é B por estar na categoria Fora de Estrada).

Para encarar qualquer terreno, o Bronco Sport tem sete modos de condução, sendo quatro off-road (leia boxe). Nas estradas de terra de fácil e média dificuldade, o modo Normal já eu conta de tudo – só usamos o controle de trilha em uma descida mais forte e com erosões, para evitar escorregadas (e ele funcionou primorosamente). E aquela subida que a Toro avaliada nesta edição não superou de jeito nenhum? Bem, o Bronco Sport subiu sem titubear: para ele, não pareceu ser um obstáculo nem precisei ativar o modo Lama/Terra (que desativa o sistema ESP e ativa o 4WD lock – bloqueio da tração 4×4).

E nada como ter modos de condução bem distintos: o Eco só deixa o carro meio “morto”, como sempre, mas o Sport… que surpresa! O Bronco Sport reagiu com ainda mais rapidez aos comandos dos pedais e volante, cruzando a parte asfaltada da serra em tempo recorde. O melhor é que as suspensões, apesar do curso longo para off-road, controlam a rolagem da carroceria de modo surpreendente, sem pregar sustos no motorista como costuma acontecer em carros com centro de gravidade alto e grande distância do solo. A transmissão também passa a segurar as marchas – só usei as aletas para antecipar reduções antes de curvas mais fechadas (se preferir, apertando um botão no comando, o modo manual é ativado).

Ford Bronco
Rápido, capaz no off-road e bom de guiar, ele peca apenas no consumo
CONCLUSÃO

No fim, o Ford Bronco Sport é um SUV que fica sozinho no mercado, combinando estilo, capacidade off-road e esportividade de maneira única em sua faixa de preço. Em relação ao Jeep Compass Trailhawk, não tem a economia e a autonomia do motor a diesel – tampouco o alto ruído e a tributação e custos de manutenção e seguro elevados. Em relação aos modelos premium, pode pode não ser tão racional na combinação de desempenho e economia como o Volvo XC40, ou tão luxuoso quanto o Mercedes-Benz GLA, mas leva ampla vantagem na capacidade fora de estrada e na personalidade. Se dinheiro não é problema, trata-se de um belo SUV médio, muito mais versátil e divertido do que a média. Um ponto fora da curva.


Off-road
SUV de verdade

Para garantir aventuras fora de estrada sem problemas, o Ford Bronco Sport tem tração integral sob demanda, bloqueio do diferencial traseiro e vetorização de torque, além de chapas de aço na parte inferior da carroceria e quatro modos de condução fora de estrada, escolhidos pelo seletor G.O.A.T. (Sigla que forma a palavra “cabra”, mas significa “supere qualquer terreno”. Eles alteram parâmetros da direção, da transmissão, do motor e dos controles de tração/estabilidade.Ford Bronco

No teste que realizamos na pista da Ford em Tatuí (SP), focamos nos quatro modos off-road. O “Escorregadio” atua para fornecer mais tração e melhorar a aderência, enquanto no “Areia” a transmissão usa marchas mais baixas. Ainda há o “Rock Crawl”, para terrenos irregulares com pedras soltas, e o “Lama/Terra”. Neste último, os controles eletrônicos de tração e de estabilidade ficam menos restritivos.

Há ainda o controle de trilha – ou piloto automático off-road –, que comanda acelerador e freio tanto no plano quanto em subidas e descidas e se desliga automaticamente quando se supera os 68 km/h. Outro equipamento interessante é a câmera frontal 180º (que se liga automaticamente até 25 km/h nos programas Areia, Lama/Terra e Rock Crawl) para mostrar os obstáculos à frente. O Bronco Sport também não passa apuros em valetas/lombadas: são 22,3 cm de vão do solo, além de ângulo de entrada de 30,4º, de saída de 33,1º e de transposição de rampa de 24,4º. O SUV suporta inclinações laterais de até 20º e longitudinais de 25º, com capacidade de imersão de 60 cm. Se tudo der errado, há ganchos para reboque no para-choque dianteiro.Ford Bronco

As linhas de design são “quadradonas” e um logotipo na lateral identifica a versão top (“trilha selvagem”, em tradução livre).

Ford Bronco Sport Wildtrak

Preço básico R$ 264.690
Carro avaliado R$ 264.690

Motor: quatro cilindros em linha 2.0, 16V, turbo, injeção direta
Cilindrada: 1999 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 240 cv a 5.500 rpm
Torque: 38 kgfm a 3.000 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados (d) e discos sólidos (t)
Tração: integral, bloqueio do diferencial traseiro
Dimensões: 4,386 m (c), 1,938 m (l), 1,797 m (a)
Entre-eixos: 2,670 m
Pneus: 225/65 R17
Porta-malas: 580 litros
Tanque: 64 litros
Peso: 1.718 kg
0-100 km/h: 8s
Vel. máxima: 180 km/h
Consumo cidade: 8,3 km/l
Consumo estrada: 10,1 km/l
Emissão de CO2 151g/km
Consumo nota B
Nota do Inmetro: D
Class. na categoria: B (Fora de Estrada)

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Fonte: Motor Show