Quem passou pela Praia da Barra da Tijuca nesta terça-feira dificilmente não notou o “tapete” verde de gigogas que cobriam o espelho d’água que se estendiam do Quebra-Mar até as areias do Posto 1. O excesso dessa vegetação, que se multiplica de forma acelerada em águas muito poluídas, apareceu inicialmente nas lagoas do bairro, e a chegada delas ao mar é consequência da danificação proposital da ecobarreira do Itanhangá, que fica na Lagoa da Tijuca: segundo o Inea, a estrutura foi cortada em várias partes, levando resíduos flutuantes e gigogas das lagoas da Barra para a praia.
O biólogo Mario Moscatelli explica que, quando chove, a água da chuva leva o esgoto e detritos dos rios da região para as lagoas. Segundo ele, além da praia, há um grande volume de gigogas no sistema lagunar impedindo a passagem de barcos.
— Na sexta-feira, já tinha observado um volume gigantesco de gigogas descendo dos rios para a Lagoa de Jacarepaguá e, de lá, para a Lagoa da Tijuca. Isso é reflexo da chuva, que limpou os rios e levou esgoto puro para as lagoas. Essas plantas aquáticas se multiplicam de forma acelerada no esgoto: funcionam como se fossem filtros, agem até positivamente, mas possuem esse aspecto negativo. Hoje, a maré estava alta e, sem as ecobarreiras, as gigogas foram empurradas para a praia — detalha o especialista.
O sistema lagunar da região da Barra da Tijuca é constituída por rios que, em sua totalidade, já viraram valões de esgoto. Segundo Moscatelli, é provável que alguém tenha tentado atravessar de barco o ”colchão” de gigogas e, ao ver que não conseguiria, cortou a ecobarreira. Afirma ainda que, ao vistoriar o local nesta terça-feira, não viu nenhuma máquina operando nas lagoas para retirar a vegetação:
— A Lagoa da Tijuca está intrasitável. Se for comprovado que foi um corte intencional, isso gerou um impacto ambiental, de saúde pública e econômico gigantescos. Calculo que, só nesta terça-feira, apareçam, pelo menos, 50 toneladas de gigoga e lixo misturados na praia. Sendo que, pela minha estimativa, há um volume cinco vezes maior do que esse de gigogas dentro da Lagoa da Tijuca que ainda vai escoar para a praia. Isso vai depender do movimento de maré e vento. Todo esse esgoto é oriundo de bairros que estão entre o maciços da Pedra Branca e da Tijuca.
Segundo a Comlurb, a remoção das gigogas que chegam na praia da Barra está sendo feita por uma equipe de 14 garis e, na tarde de hoje, foi iniciada uma remoção mecanizada das plantas com carregadeira e sete caminhões basculantes. A operação prosseguirá ao longo da quarta-feira até que toda gigoga seja removida.
Entretanto, Moscetelli garante que “já tem um grande volume de gigogas no Canal da Joatinga só esperando a maré descer e levar para a praia”, o que deve estender o trabalho da Comlurb até o fim de semana.
— Pela quantidade de gigogas que vi nos canais e lagoas, calculo que, pelo menos, serão de dois a cinco dias de trabalho limpando a praia. Considero fundamental que se apure a causa desse fato para que se iniba atos de delinquência contra as ecobarreiras, evitando esses impactos negativos — conclui.
O Inea, responsável pela gestão das lagoas e pela ecobarreira do Itanhangá, informa que uma equipe está trabalhando para recompor a estrutura danificada e que o serviço está previsto para ser concluído ainda na noite desta terça-feira. Diz ainda que irá apoiar a Comlurb no recolhimento das plantas aquáticas espalhadas na beira da praia, mas não informou se há algum planejamento para limpeza das lagoas.
Fonte: G1