Vibradores, lubrificantes e acessórios para uso sexual pensados e criados por mulheres. Acabar com o preconceito e criar produtos que levem ao prazer. É isso que faz uma startup de bem-estar sexual criada por duas mulheres em 2018 e que cresceu 400% nos últimos 3 anos.
Izabela Starling e Heloisa Etelvina, na época um casal, não se viam representadas pelos produtos eróticos disponíveis. Decidiram, então, criar os seus próprios. Foi assim que nasceu a pantynova, um sex shop virtual, com um conceito bem diferente.
“A gente comprava muitos sex toys e se sentia mal porque os ambientes que ofereciam esse tipo de produto tinham um vínculo com a pornografia e eram intimidadores para as mulheres”, conta Izabela.
Além disso, os produtos eram, na maioria das vezes, criados por homens e não eram pensados para a anatomia do corpo da mulher. Foram 2 anos de estudo para a dupla criar dois produtos: a cinta peniana, conhecida como strapon, e o dildo, item que imita o formato de um pênis.
Já no primeiro mês de vendas, a empresa conseguiu fechar as contas, igualando o custo total com a receita. Ou seja, o negócio tinha procura.
“A resposta foi muito rápida e aí a gente entendeu o quanto esse segmento era realmente carente de um outro tipo de abordagem”, diz Izabela.
Informação e representatividade
Hoje, além dos strapons e dildos, a pantynova fabrica e vende também 15 tipos de vibradores e uma linha de lubrificantes veganos. Produz também muito conteúdo sobre bem-estar sexual, com informações sobre o tema.
Um dos 15 modelos de vibrador vendidos pela pantynova — Foto: Divulgação
Para as idealizadoras da empresa, a partir de 2019, temas relacionados à sexualidade feminina começaram a ser mais abordados. Para elas, movimentos como o “Me Too”, onde mulheres denunciam casos de abuso sexual, e a disseminação do feminismo na internet ajudaram a impulsionar o desejo das mulheres de terem mais controle sobre o próprio corpo e de se conhecerem mais.
“A nossa marca é importante porque tem representatividade. É pra dizer: ‘olha, a gente tá aqui, a gente existe’. É muito engraçado esse conceito de diversidade, porque a gente coloca como padrão o homem hetero e cis, e tudo que é oposto a isso é diversidade. Mas não é, a gente é padrão também”, afirma Heloisa.
As empresárias lembram que, em geral, as mulheres no Brasil têm menos acesso a financiamentos e investimentos. No segmento de produtos eróticos é ainda pior, porque há muito preconceito envolvido. Mas Izabela e Heloisa têm algo muito importante contando a favor: o interesse do público por seus produtos.
Além das vendas em crescimento no site próprio, uma prova dessa procura é o interesse de grandes varejistas em vender os produtos do segmento. Magazine Luiza, Renner e Amaro são alguns exemplos. Além disso, outras pequenas marcas têm surgido com o mesmo objetivo.
“Acho que não tem ninguém antes da gente com essa abordagem e ficamos muito felizes de ver várias marcas surgindo. Tem muito espaço ainda pra novos produtos. Quanto mais pessoas tiverem no setor, mais vozes vão falar disso e mais pessoas vão ser atingidas”, diz Izabela.
Para Izabela e Heloisa, é preciso dar voz às mulheres no mundo dos negócios — Foto: Kamilla Nunes
As donas da pantynova ainda acham um absurdo a maioria das startups brasileiras serem geridas por homens. A solução? Dar voz às mulheres – e isso pode acontecer no sentido inverso. Se os grandes investidores ainda não validam as mulheres, tem uma peça chave que sabe da importância delas: o consumidor.
“Vejo que quem compra um sex toy tem a preocupação de comprar de empresas de mulheres. A gente, como consumidor, deveria ter essa preocupação com tudo e comprar mais de empresas geridas por mulheres. Isso mudaria o entorno e as grandes corporações seriam obrigadas a repensar quem eles colocam no poder”, conclui Izabela.
Fonte:G1