Os ataques da Rússia à Ucrânia, iniciados na madrugada de quarta-feira (24), acendem um sinal de alerta para um possível aumento nos custos de frete marítimo, assim como problemas nos desembarques de fertilizantes no Porto de Santos. Com isso, segundo especialistas no tema, dependendo da duração do conflito no Leste da Europa, até a safra brasileira de commodities pode ser impactada, caso haja falta dos insumos importados.
As ofensivas da Rússia foram feitas por terra, ar e mar. Kiev e Kharkiv, as duas maiores cidades da Ucrânia, foram bombardeadas e atacadas com mísseis. Trata-se do maior ataque de um país europeu contra outro do mesmo continente desde a Segunda Guerra Mundial.
Em resposta, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que distribuiu armas aos ucranianos. Já a Rússia justifica a ação militar para proteger separatistas e ameaçou quem tentar interferir. A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu o recuo das tropas e diversos países condenaram os ataques.
De acordo com o economista Helio Hallite, o Brasil tem uma corrente de comércio, que é a soma das exportações e importações, da ordem de US$ 438 milhões com a Ucrânia, com um superávit a favor do nosso País de US$ 15 milhões. Segundo ele, a partir de Santos, há exportações, principalmente, de açúcar, milho, café, carne bovina, frango e amendoins.
O especialista em comércio exterior não acredita em paralisação de operações nos portos russos. “Não creio que as operações entre Brasil e Rússia sejam afetadas enquanto esse conflito estiver restrito entre esses dois protagonistas. Não penso na hipótese de uma terceira guerra mundial. Um evento dessa magnitude seria mais trágico que a pandemia”, destacou Hallite.
Já o economista Fabrizio Pierdomenico aponta que o conflito entre Rússia e Ucrânia trará efeitos colaterais de curto, médio e longo prazos. Mas isso tem relação direta com tempo que a crise durar. Ontem, já houve grande variação do preço do barril do petróleo, que chegou a custar US$ 105. Segundo o especialista, isso contamina os preços em todos os mercados, podendo causar reajustes de taxas de fretes marítimos, rodoviários e ferroviários, representando inflação ao consumidor final.
Navio com maior carga de fertilizantes no Porto de Santos, no litoral de São Paulo — Foto: Divulgação
O maior risco, segundo Pierdomênico, tem relação com insumos. “Tanto a Rússia quanto a Ucrânia são importantes fornecedores de fertilizantes. Porém, é um tipo de compra que se tem estoque. Não é uma compra diária, como trigo e petróleo. Se essa guerra se prolongar, paralisando as indústrias russa e ucraniana, podemos ter desabastecimento de fertilizantes no mercado mundial”.
Se isso ocorrer, segundo ele, os impactos podem ser muito fortes para a economia brasileira, uma vez que o agronegócio necessita desses insumos para garantir a produção. Com isso, no Porto de Santos, além das importações de fertilizantes, as exportações de cargas como soja e milho também poderão ser impactadas.
“Podemos falar que a guerra deve causar desabastecimento global de milho e trigo. Quem tem vai segurar seus estoques e a Ucrânia, que tem market share relevante, não vai fornecer. Com o trigo, poderá haver desabastecimento no médio prazo e um aumento de preços, já que estamos falando de um item que está na cesta básica do consumo”, afirmou Pierdomenico.
O coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Fabiano Menezes, também aponta impactos relacionados a essas cargas.
“A Ucrânia é um grande produtor de milho e trigo no mercado mundial. Juntos, Rússia e Ucrânia produzem cerca de 30% do milho que o mundo compra. Evidente que o Brasil é um player maior nesse setor, mas dependendo de chuvas que possam afetar a produção local, pode ter uma dependência maior de outras áreas que cultivam trigo e milho. Pode encarecer o pão na padaria, o milho, o etanol. Pode haver uma necessidade, e para o Brasil seria interessante, porque vai haver uma oferta de produção”.
Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (Tiplam), da VLI, no Porto de Santos, SP — Foto: José Claudio Pimentel/G1
VÍDEOS: Mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias
Fonte:G1