“Por favor, não jogue lixo na rua, porque quando chove a chuva leva o lixo para o nosso Rio Carioca, e os peixes comem e falecem”, dizia o cartaz feito a muitas mãos por crianças de 7 anos, com a ajuda da professora Sarah Ligia Coelho Machado, da Escola Municipal Guararapes Cândido. O painel, ilustrado com desenhos, foi colocado no muro do colégio e replicado por ruas e vielas das comunidades do Cosme Velho. Fez parte de uma iniciativa piloto de educação e conscientização ambiental envolvendo alunos e professores de 27 unidades públicas e privadas na área da bacia do Rio Carioca.
A experiência, deflagrada em 2015, apresentou resultados promissores e a prefeitura, em parceria com a Planetapontocom — organização social que atua no desenvolvimento de soluções para a educação —, lança hoje o projeto “Esse Rio é Meu”. O programa envolverá todos os 40 mil professores e 620 mil estudantes das cerca de 1.500 unidades da rede municipal, buscando melhorar as condições dos 267 cursos d’água da cidade, ao longo de dois anos.
— Para os gestores, criamos uma série de conteúdos. Com as crianças, tudo depende de onde estudam e das faixas etárias. Mas as primeiras atividades serão de diagnóstico. Elas vão conhecer o rio no trecho onde estão. Depois, vão identificar problemas: se tem esgoto, lixo, se as margens estão ocupadas. Esse processo de reconhecimento tem um conteúdo que orienta. Nas salas de aula, os alunos vão olhar para os recursos disponíveis e ver o que querem e o que podem fazer para resolver esses problemas — explica Silvana Gontijo, presidente da Planetapontocom. — As crianças vão ser estimuladas a serem protagonistas desse processo de transformação.
Interdisciplinar
Segundo Silvana Gontijo, os trabalhos serão interdisciplinares, ou seja, permeados pelas diversas matérias da grade escolar:
— Ao propor uma solução para um problema de um rio, o aluno estará aprendendo língua portuguesa, geografia, ciência, história, matemática… Todos os conteúdos curriculares estarão associados ao processo de recuperação e de renaturalização de um rio.
Moradora de Campo Grande e aluna do 4° ano da Escola Municipal Dom Meinrado, Melanie Damásio da Silva, de 10 anos, está ansiosa pelo início do projeto:
— Vai ser legal. Vou ver de perto o Rio Cabuçu. Costumo passar de carro. A pé, é difícil. Acho que jogam muito esgoto nele. Lixo, não tenho certeza.
Metade das escolas da rede começa as atividades no próximo ano letivo. Para as demais, o projeto chega em 2023. No momento, passam por treinamento professores de 125 unidades que ficam próximas às bacias do Piraquê Cabuçu (Zona Oeste) e da Pavuna; e dos rios Comprido, Guandu, Maracanã, Piraquara (Realengo), Carioca, Macacos (Jardim Botânico) e Rainha (Gávea). Os pontos foram escolhidos como prioritários por comitês especializados.
Quanto ao Rio Carioca, Silvana lembra que o curso d’água ainda é muito poluído, mas um trecho — entre a Rua Alexandrino e a Favela dos Guararapes, até entrar debaixo da terra — está em melhores condições por conta do trabalho piloto feito com as crianças:
— Aquilo era um lixão, você não via a água do rio. E foi limpo. Não só de resíduos sólidos, houve a coleta do esgoto residencial que foi jogado para a rede. Isso foi um trabalho realizado a partir dessa pressão feita.
Conscientização
Para a professora Sarah, que participa da iniciativa desde 2015, o maior ganho foi a conscientização das crianças, que influenciam seus pais. O programa, que foi paralisado durante a pandemia, retomou lentamente, mas ganha força no próximo ano letivo.
— Nossos alunos entenderam que o rio vai parar na Praia do Flamengo, que eles frequentam, e que é preciso cuidar dele — diz Sarah.
Mais uma consequência da ação no Carioca foi o tombamento do rio — que deu nome a quem nasce da cidade — pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac), em 2019.
Para o secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Cavaliere, o novo projeto é fundamental para o cumprimento de metas assumidas pela prefeitura:
— Na Década de Restauração da ONU (2021-2030), a cidade mostra que está comprometida com a preservação de seus ativos ambientais. Com o projeto “Esse Rio é Meu”, as novas gerações vão construir os caminhos para a proteção das águas da cidade.
O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, aposta em parcerias que vão além dos muros das escolas:
— O novo projeto chega para somar e reforçar a importância da mobilização e da busca por soluções de forma colaborativa, com a participação das comunidades escolares e suas famílias. Iniciativas que estimulem a conscientização ambiental de nossos alunos sempre serão apoiadas e incentivadas pela secretaria.
Fonte: G1