Nos últimos dois anos, 66 das 92 cidades do Rio de Janeiro receberam mais de R$ 300 milhões com as chamadas emendas do relator, como mostra um levantamento exclusivo do RJ2 (RJTV/Globo) e do Contas Abertas.
Todo deputado federal tem direito a emendas parlamentares – recursos que devem ser investidos no estado de origem para melhorias em saúde e educação. Em 2019, o governo federal criou um artifício novo: as emendas de relator.
Especialistas ouvidos pelo RJ2 dizem que o governo usa para garantir uma base de apoio, mas que nem sempre estão de acordo com os interesses públicos.
O orçamento é distribuído sem transparência e critérios claros – no mundo político, é tido como o pagamento de um toma lá, dá cá. Têm direito ao repasse o parlamentar que vota de acordo com os interesses do governo, mas é impossível saber, por exemplo, quem foi o deputado responsável pela indicação do repasse.
A população não tem como cobrar ou fiscalizar a aplicação. Por ser tão nebulosa, essa verba já ganhou até apelido: orçamento secreto.
Duque de Caxias foi a cidade que mais recebeu dinheiro: R$ 58.229.209 (veja a lista completa de cidades e valores no fim da reportagem). A maior parte do dinheiro foi para o Fundo Municipal de Saúde da cidade.
São Gonçalo também recebeu mais de R$ 58 milhões (R$ 58.137.178) no Fundo Municipal de Saúde. O RJ2 teve acesso a análises dessas contas feita por técnicos da CPI da Pandemia, que constataram que o dinheiro chegou, mas ficou invisível porque não é possível identificar como ou com o que foi gasto.
São João de Meriti e Magé receberam cada uma mais de R$ 29 milhões.
Veja no fim da reportagem a lista de valores por município, e o que dizem as prefeituras citadas na reportagem.
Votação no STF
Na última sexta-feira, a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber suspendeu o pagamento das emendas de relator. Ela alegou falta de transparência no processo.
O assunto entra em votação na terça e na quarta-feira no plenário virtual do Supremo.
“A Controladoria-Geral da União, em função de toda essa polêmica, ela fez uma análise de situação que havia sobrepreço e que havia, mais do que isso, havia corrupção”, diz Castello Branco.
Quanto recebeu cada município:
- Duque de Caxias – R$ 58.229.209,00
- São Gonçalo – R$ 58.137.178,00
- São Joao De Meriti – R$ 29.562.054,00
- Magé – R$ 29.357.641,00
- Belford Roxo -R$ 22.793.402,36
- Rio de Janeiro – R$ 17.204.746,57
- Mesquita – R$ 8.027.051,00
- Campos dos Goytacazes – R$ 6.850.000,00
- Barra do Pirai – R$ 6.210.000,00
- Paracambi – R$ 6.120.555,00
- Nilópolis – R$ 5.911.956,00
- Itaboraí – R$ 5.400.000,00
- Nova Iguaçu – R$ 2.834.139,95
- Nova Friburgo – R$ 2.800.000,00
- Três Rios – R$ 2.800.000,00
- Barra Mansa – R$ 2.504.900,00
- Tanguá – R$ 2.041.455,00
- Santo Antonio de Pádua – R$ 2.019.000,00
- Armação dos Búzios – R$ 1.988.955,00
- Itaguaí – R$ 1.669.970,00
- Vassouras – R$ 1.550.986,01
- Cachoeiras de Macacu – R$ 1.526.055,00
- Volta Redonda – R$ 1.490.047,00
- Miguel Pereira – R$ 1.400.017,00
- Paraíba do Sul – R$ 1.371.339,00
- São Fidelis – R$ 1.305.000,00
- Guapimirim – R$ 1.243.512,00
- Engenheiro Paulo de Frontin – R$ 1.185.834,05
- Resende – R$ 1.155.000,00
- Queimados – R$ 1.115.688,92
- Iguaba Grande – R$ 1.065.110,00
- São Pedro da Aldeia – R$ 1.042.736,23
- Rio Claro – R$ 1.030.000,00
- Silva Jardim – R$ 976.144,00
- Natividade – R$ 805.000,00
- Cabo Frio – R$ 700.000,00
- Laje do Muriaé – R$ 605.000,00
- São Francisco de Itabapoana – R$ 605.000,00
- Itaocara – R$ 555.000,00
- Rio das Flores – R$ 550.000,00
- Rio Bonito – R$ 505.000,00
- Itaperuna – R$ 455.000,00
- Duas Barras – R$ 435.852,00
- Porciúncula – R$ 425.864,36
- Rio das Ostras – R$ 405.000,00
- Petrópolis – R$ 402.082,81
- Teresópolis – R$ 400.000,00
- Sumidouro – R$ 400.000,00
- São Joao da Barra – R$ 400.000,00
- Paty do Alferes – R$ 377.172,59
- Bom Jesus do Itabapoana – R$ 355.000,00
- Quissamã R$ 325.209,77
- São Jose de Ubá – R$ 284.558,00
- Trajano de Morais – R$ 266.850,00
- Varre-Sai – R$ 255.000,00
- Porto Real – R$ 214.681,40
- Miracema – R$ 205.000,00
- Italva – R$ 205.000,00
- Carapebus – R$ 204.208,97
- Conceição de Macabu – R$ 200.000,00
- Parati – R$ 169.010,00
- Pirai – R$ 100.000,00
- Carmo – R$ 52.410,00
- Cantagalo – R$ 28.822,63
- Angra dos Reis – R$ 24.740,10
- Mendes – R$ 24.055,20
O que dizem as prefeituras?
Caxias: “A Prefeitura de Duque de Caxias, através da Secretaria Municipal de Saúde, confirma o recebimento pelo Fundo Municipal de Saúde dos valores citados e informa que os recursos foram usados no custeio de despesas, como o pagamento de prestadores de serviços terceirizados de recursos humanos, medicamentos, correlatos e laboratórios. Com relação ao repasse para estruturação de unidades de atenção à saúde, a SMS informa que o serviço ainda será licitado e que o processo encontra-se em tramitação. A Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias esclarece que não tem a informação sobre quais políticos atuaram para o repasse desses valores ao município”.
São Gonçalo: “A Secretaria Municipal de Saúde de São Gonçalo informa que as emendas recebidas são destinadas à manutenção e estruturação dos serviços de saúde e são para uso exclusivo do custeio da estrutura municipal de saúde, que envolvem compra de insumos, pagamentos de fornecedores e contratos de prestação de serviços da Pasta, além de investimentos como aquisição de equipamentos e obras, conforme o objeto pactuado no ato do projeto da emenda. No caso das emendas mencionadas, os recursos foram utilizados basicamente para estruturar e manter o funcionamento de duas unidades de saúde exclusivas para atendimento de pacientes com covid-19 no município. Somente no Hospital de Retaguarda Gonçalense, foram abertos leitos com respiradores e equipamentos para atendimento a pacientes graves de covid. Houve reforço no atendimento nas unidades de atenção básica, em especial para a campanha de vacinação contra o novo coronavírus. Da proposta – 11884903000107- Média e Alta Complexidade, no valor de R$ 22.005.000,00, já foram gastos R$ 21.521.357,56. Da proposta 11884903000107 – Atenção Primária no valor de R$ 36.000.000,00, já foram usados R$ 10.430.523,95. Para a proposta 11884903000107 – Média e alta Complexidade, no valor de R$ 132.178,00, há processo licitatório em andamento”.
Magé: “Não temos acesso a documentos que comprovem onde os recursos recebidos em 2020 foram utilizados pela gestão anterior. O total de R$ 2.500.017,00, recebidos em 2021, foram creditados nas contas do município a cerca de um mês. Neste curto período de tempo ainda não foi possível concluir os trâmites licitatórios para a utilização. Porém, trata-se de recursos com utilização carimbada para a rede de média e alta complexidade de saúde.”
Belford Roxo: “A Prefeitura de Belford Roxo informa que a verba de R$ 11.993.492,36 é oriunda de emendas e foi destinada à reativação das obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento 2 ( PAC2) nos bairros Shangrilá e São Leopoldo. O Fundo Municipal de Belford Roxo informa que em relação às Emendas Parlamentares para incremento temporário de custeio, referente à assistência ambulatorial e hospitalar, foram aplicados nas ações da Atenção Básica, compra de medicamentos e insumos, ações da Média a Alta Complexidade em relação ao pagamento dos serviços de saúde complementar regidos pela Lei Federal n° 8.080/1990, visando a ampliação do acesso à saúde da população, em atendimento às diretrizes do Sistema Único de Saúde. As emendas foram provenientes das ações de diversos deputados federais da bancada do Estado do Rio de Janeiro.”
Rio: “Tratam-se de emendas de relatoria e não direcionadas, em que não é identificado o autor principal e não há uma destinação específica para os valores. Os recursos serão aplicados pela Secretaria Municipal de Saúde no custeio da rede pública. Os R$ 5.399.931 serão empregados em unidades hospitalares que prestam serviços de média e alta complexidade (MAC). Os R$ 2 milhões na Atenção Primária à Saúde, parte deles já planejados para reforma estrutural da base de apoio em Campo Grande da Coordenação de Vigilância Ambiental em Saúde, responsável pelas ações de combate às arboviroses (dengue, zika e chikungunya) na Zona Oeste da cidade.”
Nenhuma das prefeituras informou as empresas beneficiadas pelos recursos federais e nem quais deputados fizeram as indicações. Nós não recebemos respostas ainda da prefeitura de São João de Meriti.
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- Fonte: Portal G1
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