Quando comprou o casarão centenário onde Jacob do Bandolim deu seus primeiros acordes, na Lapa, o empresário Sergio Castro não esperava retorno a curto prazo. Com a região central do Rio esvaziada, imaginava que precisaria ao menos esperar a pandemia passar até que surgissem interessados. Mas foi surpreendido: o prédio estava em reforma quando chegou a proposta de aluguel. Era o sinal verde para a aquisição de outras duas construções, também alugadas em pouco tempo. E esse vigor imobiliário nem é o único que volta a pulsar no coração da cidade. Enquanto a prefeitura inicia ações do projeto de revitalização Reviver Centro, a iniciativa privada age para devolver o antigo ritmo à região.
— Acham que o Centro está morto. Mas bastou cuidarmos dos imóveis abandonados para aparecerem interessados — diz Claudio Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis.
Entre as novidades, na cultura, o presidente da Associação de Amigos do Museu das Belas Artes, o advogado Fernando Kalache, tem planos de criar um aplicativo que servirá de guia turístico para o Centro. Na gastronomia, empresários como Marcelo Torres, dono de casas como Giuseppe e Giuseppe Grill, mantêm portas abertas mesmo com a queda no faturamento. São apostas de que a virada na região, tida como prioridade do prefeito Eduardo Paes, saia do papel.
Kalache, por exemplo, foi convidado por Paes a participar das reuniões do Gabinete de Crise do Centro, criado para gerir o pacote de mudanças que, entre os pontos, promete dar ao lugar uma atmosfera de bairro residencial. E a metamorfose prometida já começa a ganhar as ruas.
Mão na massa
A Praça Marechal Floriano e seu entorno, na Cinelândia, foi a área escolhida para a estreia das medidas do Plano Urbano Reviver Centro. Os bancos quebrados foram substituídos. As árvores, podadas. E as escadarias da Câmara dos Vereadores e do Theatro Municipal, antes encardidas, recuperaram a imponência. Nas últimas semanas, uma força-tarefa de 200 funcionários de secretarias e órgãos municipais atuaram em conjunto para limpeza, ordem urbana e conservação do local. É a primeira “área de excelência urbana” do plano, explicou o secretário municipal de Planejamento Urbano, Washington Fajardo:
— É um espaço muito representativo do potencial de mudança do Centro. A Cinelândia também enfrenta desafios, mas ainda tem negócios que resistem e oferece um conjunto de atratividade e de monumentos.
A relevância histórica e turística do local também é destacada por Paes, que diferencia o programa atual do que marcou seus primeiros mandatos no município:
— Óbvio que vivemos um momento econômico crítico, mas precisamos entender que a cidade tem que ter organização. O Centro é muito simbólico. Nós estamos chamando de “área de excelência urbana”, que não tem nada a ver com choque de ordem.
Entre as melhorias realizadas nesses primeiros passos, a Cinelândia e o Boulevard Rio Branco receberam reforço de 172 luminárias de LED . Entre outras medidas, foi intensificada a presença da Guarda Municipal para atuar sobre o comércio irregular e ilegal. E equipes do programa Acolhe Centro fizeram, em 12 dias, 1.241 atendimentos a moradores de rua.
Monumentos também passaram por transformação, com limpeza e manutenção dos bustos de Getúlio Vargas, Paulo de Frontin, Juscelino Kubitschek e Francisco Serrador (além das esculturas Pax e Ao Nunca Mais). A pavimentação no local também foi recuperada, inclusive a de pedras portuguesas.
— É um trabalho coordenado, intensificado, e a gente não vai mais embora. Passa a ter uma rotina, por exemplo, como varrição e limpeza com a Comlurb— diz Fajardo. — Essa nossa primeira área de excelência urbana também funciona bem como um laboratório para coordenar as equipes (que atuarão no Centro) — completa.
Fonte: G1