Já imaginou uma final de campeonato de futebol acontecendo no Estádio Edson Arantes do Nascimento – Rei Pelé, no Rio de Janeiro? Se depender de um projeto de lei publicado nesta quarta-feira, dia 3, no Diário Oficial do Estado do Rio, isso pode acontecer. De acordo com o PL, que ainda precisa ser votado na Casa, o nome do maior jogador de todos os tempos seria dado ao estádio do Maracanã.
A autoria do projeto é do deputado André Ceciliano (PT), presidente da Alerj. A justificativa é dar a Pelé uma homenagem ainda em vida. “O Maracanã foi palco de grandes momentos do futebol brasileiro e mundial, como o milésimo gol de Pelé. Assim sendo, mais do que justa uma homenagem a uma pessoa reconhecida mundialmente pelo seu legado no futebol brasileiro e pela prestação de relevantes serviços no país”, diz um trecho do texto. As placas contendo o nome do estádio também fariam menção ao milésimo gol do Rei do Futebol.
Com a possível mudança do nome do estádio, apenas o complexo esportivo na totalidade — que inclui o ginásio do Maracanãzinho e o estádio de atletismo Célio de Barros — é que seria chamado de Jornalista Mario Filho. A atriz Crica Rodrigues é terminantemente contra a retirada do nome de seu tio-avô do estádio.
— Eu não respondo pela família, que é bem grande. Eu falo por mim. Acho despropositado porque, resumindo a história, batizar o maior estádio do mundo de Mario Filho é o mínimo de reconhecimento que ele tem não só na história do futebol, mas dos esportes brasileiros como um todo. O Brasil é conhecido como país do futebol por causa de uma pessoa chamada Mario Filho. Foi ele que disse que o Brasil tinha que ter um estádio mundial e quem lutou para que a Copa de 1950 viesse para o Brasil — explica Crica. — O Pelé tem um milhão de homenagens no Brasil inteiro, que são mais que merecidas. Se Pelé é o Rei do Futebol foi porque, para que ele reinasse, o Mario Filho brigou para que ele tivesse esse palco para reinar. O Maraca só existe devido ao Mario Filho.
Já para a jornalista e escritora Angélica Basthi, que escreveu a biografia “Pelé: estrela negra em campos verdes”, o ex-jogador mineiro de Três Corações merece que o estádio tenha o seu nome:
— Acho uma homenagem linda e justa, ainda nos seus 80 anos. É um equívoco pensar que o Pelé pertence apenas ao Santos. Estamos falando de um ícone do futebol mundial, considerado o maior jogador de todos os tempos. Deve receber este reconhecimento em vida.
De acordo com o historiador Luiz Antonio Simas, que está para lançar um livro sobre aquele já foi o maior estádio de futebol do mundo, a mudança de nome seria um “equívoco brutal” porque Mario Filho foi de uma importância decisiva para que o estádio saísse do papel. O jornalista, junto de Ary Barroso, na Câmara de Vereadores, enfrentou diversas oposições, especialmente do governador Carlos Lacerda, para que o estádio fosse construído no Maracanã. Se não fosse por essa luta, o estádio poderia ter sido construído em Jacarepaguá e teria metade da capacidade.
— Além disso, acho que nem vai adiantar. O estádio chegou a ser chamado de Estádio Mendes de Moraes e Estadio Municipal. Desde o início, porém, a população só o chamava de Maracanã ou, com mais intimidade, Maraca. E já temos, inclusive, o estádio Rei Pelé em Maceió — disse Simas.
Mario Filho, que era chamado pelo irmão dramaturgo Nelson Rodrigues de “inventor das multidões”, também foi o criador dos Jogos da Primavera, da mística do nome Fla x Flu, do torneio de peladas do Aterro do Flamengo, e também patrocinou o primeiro desfile em cortejo das escolas de samba. O jornalista também trabalhou no GLOBO entre as décadas de 1930 e 1940, e foi um dos criadores do Jornal dos Sports.
— Esse estádio, de construção infame em virtude dos crimes que envolveram a destruição do velho Maracanã, não merece mais esse golpe contra a memória. Ao menos ninguém sugeriu trocar por “Estádio Sérgio Cabral”, o responsável pela criança — acrescenta o historiador.
Fonte: G1