Um centro cultural de pesquisa de matriz bantu e de preservação da memória do babalorixá baiano João Alves Torres Filho, o Joãozinho da Gomeia. Esse é o objetivo da Comissão de Preservação e Tombamento da Memória Gomeia, formada por religiosos e descendentes espirituais do sacerdote, que morreu em 19 de março de 1971 e comandou o Terreiro da Gomeia, no bairro Jacatirão, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, desde 1948.
O processo de tombamento do terreno deve ser concluído este mês. Após a conclusão do estudo técnico pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), o relatório seguiu para a Secretaria estadual da Casa Civil e Desenvolvimento Econômico, de onde será encaminhado para a assinatura do governador em exercício Cláudio Castro. Depois, a Secretaria estadual de Cultura e Economia Criativa determina o tombamento provisório.
— Nossa preocupação é preservar a memória do meu pai de santo. Depois, começar a construir o centro cultural. A gente não pensa só na cultura afro, mas em toda a comunidade daqui — afirma Mameto Seci Caxi, filha de santo, herdeira espiritual de Joãozinho da Gomeia, e presidente da Associação dos Descendentes da Ndanji Gomeia (Adengo).
Após o tombamento, a Comissão quer buscar parcerias para começar as intervenções no terreno. Segundo a comissão, o templo religioso está seis metros abaixo do terreno.
— Já contamos com emendas parlamentares e pretendemos definir o calendário de atividades no ano que vem — afirmou Rafael Lêmba Dyala, coordenador da Comissão.
A Secretaria da Casa Civil disse que o estudo será analisado pelo governo, que tomará a decisão até o fim do mês.
No último dia 30, o Ministério Público Federal (MPF) realizou reunião com a secretária de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Danielle Barros, e representantes da Comissão Gomeia, para acompanhar o andamento do processo de tombamento do Terreiro da Gomeia. O procurador da República Julio José Araujo Junior ressaltou que o MPF espera que o tombamento se concretize este ano:
— Trata-se de uma medida fundamental para evitar a tentativa de realizar construções na área, como ocorreu este ano, e representa uma etapa importante para a realização de projetos que valorizem a memória naquele espaço.
Leia também: MPF pede explicações ao prefeito de Belford Roxo sobre acusação de intolerância
Para Mãe Seci, o terreiro é mais do que um legado cultural. Ela nasceu no terreno. Sua mãe biológica também foi filha de santo de Joãozinho:
— Quando ele veio de Salvador, trouxe 47 filhos de santo. Entre eles, minha mãe. Quando ele morreu, eu tinha 10 anos e me tornei a sucessora espiritual do terreiro.
Apesar da missão religiosa, Mãe Seci não pôde assumir a sucessão. Devido a divergências internas, o terreiro encerrou as atividades cinco anos após a morte de Joãozinho. O imóvel é da Prefeitura de Duque de Caxias, que, segundo a religiosa, se comprometeu a fazer a limpeza uma vez por mês.
Anúncio de creche e busca arqueológica
Em junho deste ano, o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, anunciou a construção de uma creche. Diante do anúncio, o Ministério Público Federal (MPF) pediu explicações a Reis e às secretarias municipais de educação e cultura. No dia 18 de julho, foi realizado o ato Abraço em Defesa do Terreiro da Gomeia. Uma semana depois, a prefeitura desistiu de construir a creche no espaço.
Em 2015, o terreiro voltou a ser notícia quando um grupo de arqueólogos fez escavações em busca de vestígios e objetos da práticas de religiões afro-brasileiras.
Fonte: G1