
onald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso na Assembleia Geral da ONU
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terão neste domingo (26) o primeiro encontro bilateral desde o retorno de Trump à Casa Branca.
A reunião será realizada em Kuala Lumpur, capital da Malásia, durante a 47ª Cúpula da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), e marca o primeiro comparecimento de um chefe de Estado brasileiro ao evento.
O encontro, confirmado por diplomatas dos dois países e ainda em fase final de ajustes de agenda, ocorre em um momento de retomada de diálogo após meses de tensão entre Brasília e Washington.
Lula afirmou na sexta-feira (24) que “espera que a reunião aconteça” e que pretende “colocar os problemas na mesa e encontrar uma solução”. Trump, por sua vez, declarou que “a reunião é provável” e que “os países farão muito bem juntos”.
Contexto e tensões anteriores
As relações bilaterais chegaram ao ponto mais delicado em décadas após a decisão do governo norte-americano, em agosto, de elevar as tarifas sobre produtos brasileiros de 10% para 50%.
A medida afetou exportações de café, carne bovina, aço e minério de ferro. Washington justificou o aumento como retaliação ao que Trump classificou de “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado em setembro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.
O governo brasileiro reagiu acusando os Estados Unidos de interferência em assuntos internos.
Lula chegou a afirmar que Trump se comportava “como um imperador”, enquanto o republicano criticou o tratamento dado a Bolsonaro, comparando o caso à sua própria situação judicial.
Além das tarifas, os EUA impuseram sanções a autoridades brasileiras envolvidas no processo do ex-presidente, o que o Planalto tenta reverter desde então.
Durante uma ligação telefônica em 6 de outubro, descrita como “amigável” por assessores de ambos os lados, Lula solicitou a revisão das sanções e convidou Trump para participar da COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro.
Foi nesse contato que os dois trocaram números de telefone e concordaram em se reunir nas próximas semanas.
O diálogo telefônico foi o segundo contato direto entre os dois líderes. O primeiro havia ocorrido em setembro, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, quando conversaram brevemente nos bastidores do evento.
Agenda e temas prováveis
A reunião bilateral na Malásia deverá concentrar-se nas questões comerciais.
O Brasil busca negociar uma redução gradual das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que têm impactado o agronegócio e setores de exportação na B3.
Trump indicou que está aberto a discutir cortes “nas circunstâncias certas”. Outro tema na pauta será a situação na Venezuela.
O governo norte-americano tem realizado ataques a embarcações ligadas ao tráfico de drogas no país, e Lula demonstrou disposição em tratar do assunto, buscando uma posição comum sobre a estabilidade política na América Latina.
Fontes diplomáticas apontam ainda que Lula pretende reforçar a ideia de restaurar as relações entre “as duas maiores democracias do Ocidente”, discutir cooperação energética e de segurança, e reiterar o convite a Trump para a COP30.
O tema Bolsonaro não deverá estar no centro das discussões, já que, segundo o Itamaraty, o governo brasileiro não interfere no Judiciário.
Cúpula da ASEAN e impacto esperado
A 47ª Cúpula da ASEAN reúne, além de Lula e Trump, líderes como o premiê chinês Li Qiang, o presidente russo Vladimir Putin, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, o premiê indiano Narendra Modi e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.
As discussões se concentram em comércio, segurança regional e transição energética — área em que o Brasil busca ampliar sua participação internacional.
Após o “degelo” observado desde a chamada de outubro, diplomatas esperam um encontro de tom pragmático, com foco em resultados econômicos.
Caso haja avanço nas negociações, a reunião poderá representar o início da normalização das relações bilaterais e abrir caminho para visitas oficiais — de Trump a Brasília ou de Lula a Washington — nos próximos meses.
IG Último Segundo


