Em Miami, a única vitória do Japão sobre o Brasil


Ronaldo Fenômeno curte o clima dos EUA em 1994.
Reprodução Instagram/@ronaldo

Ronaldo Fenômeno curte o clima dos EUA em 1994.

Era um belo dia do Verão de 1996 em Miami. O Brasil enfrentaria o Japão pela primeira fase dos Jogos Olímpicos de Atlanta. Sim, naquelas Olimpíadas os grupos da primeira fase do futebol masculino foram espalhados pelo Leste dos EUA, e o Brasil caiu justamente em Miami, onde já havia uma grande comunidade brasileira. Fui ao jogo, sem saber que a única vitória do Japão sobre o Brasil era uma grande armadilha do destino.

Clima de Copa

Eu me sentia em casa. Tinha vivido naquela linda cidade por alguns meses no ano anterior. Mas, desta vez, viajei do Brasil só para ver a nossa Seleção. Lá encontrei um velho amigo brasileiro, que passava boa parte do ano na Flórida, e combinamos de ir juntos assistir a estreia contra os japoneses.

Chegamos no Orange Bowl já tomado de verde-e-amarelo, e fomos à procura do nosso lugar, para despertar nossa brasilidade. Mas, descobrimos que os nossos assentos eram exatamente colados com a pequena e simpática torcida do Japão. O que ainda não sabíamos é que aqueles poucos japoneses fariam tanto barulho para incentivar a sua seleção, absolutamente o tempo todo.

“Nippon! Nippon!”

Debaixo de um calor de 30ºC, nos deixamos levar pelo clima cordial e respeitoso dos japoneses e japonesas, como de praxe. Batemos palmas ritmadas, ensaiamos o grito de “Nippon!” — nome de guerra que costumam usar nos esportes — e nos divertimos de uma forma inesperada com adversários aparentemente inofensivos. Afinal, haviam cruzado meio mundo para estar ali, inocentemente, torcendo contra o futebol tetracampeão do mundo. Com um time sub-23, é verdade, mas que tinha Dida, Aldair, Rivaldo, Roberto Carlos e Bebeto, além de Ronaldo Fenômeno esquentando o banco. Era o primeiro jogo oficial entre os dois países, mas o Brasil tinha vencido todos os amistosos anteriores. Quase uma covardia.

Depois de segurar o Brasil durante todo o primeiro tempo e metade do segundo, saiu o inesperado gol do Japão, com Teruyoshi Ito. Sim, os nobres adversários aproveitaram um vacilo da defesa para abrir o placar contra a nossa poderosa Seleção. Ainda otimistas, aproveitamos para parabenizar e até vibrar com os nossos vizinhos de arquibancada, entre um grito e outro de “Nippon! Nippon!”. 

Mas o tempo foi passando e nada do Brasil reagir, mesmo vendo Ronaldo em campo pela primeira vez. Um verdadeiro banho de água fria nos torcedores brasileiros, imagino que a maioria deles vivendo em Miami e matando a saudade do seu país e da sua seleção. O jogo terminou mesmo 1 a 0 e, ainda hoje, é a única vitória do Japão sobre o Brasil.

Destino ou coincidência

Só sei dizer que aquele jogo foi um ensaio da eliminação do Brasil na semifinal contra a Nigéria, depois que eu já tinha voltado para casa. E que Ronaldo e Rivaldo, depois de outro trauma em 1998 — onde eu também estava — se consagraram em solo japonês, na final da Copa de 2002.

Às vezes me pego a pensar que, por obra do destino ou simples coincidência, tanto eu quanto meu amigo nos rendemos à cultura japonesa, a ponto de incluir um pouco do Japão nas nossas famílias. Enfim, uma daquelas histórias que só o futebol é capaz de contar.



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