Em 1913, um apaixonado pelo esporte, vindo de Florianópolis, chegou a Santos. Seu nome era Urbano Caldeira. Apesar de residir em São Paulo, foi no litoral que encontrou o time que lhe encantaria para sempre.
A paixão de Urbano pela instituição foi tão intensa que ele se tornou jogador, técnico e dirigente do Santos Futebol Clube. Após seu falecimento, em 1933, foi decidido que o estádio passaria a levar o seu nome. Uma homenagem mais do que justa a um dos grandes pilares da história santista.
Das primeiras arquibancadas de madeira ao estádio que viu o nascimento de um Rei e teve a Rainha Marta, a Vila cresceu junto com o clube e o futebol brasileiro. Mais do que concreto e ferro, a identidade da Vila Belmiro é o torcedor santista.
Ao celebrarmos hoje os 109 anos da Vila Belmiro, rendemos uma justa homenagem a todos que, em mais de um século, construíram a mística do templo construído sobre um solo sagrado, forjado com suor, lágrimas e emoção.
Por ela passaram craques e o maior time de futebol do mundo, o único a parar uma guerra. Gylmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.
Com o meu pai, cresci acompanhando os jogos e vivenciando toda a atmosfera, que também é espetacular, aos arredores do Alçapão. Em seu colo, lembro quando aguardávamos os portões se abrirem faltando 20 minutos para acabar a partida e, mesmo com pouco tempo para o término do jogo, ainda assistimos a gols e viradas históricas do alvinegro praiano.
Ainda de mãos dadas com meu pai, vimos o Rei se despedir ajoelhado na parte central do gramado. Já como presidente, vi a torcida santista voltar a comemorar um título estadual em 2006, após passar quase 22 anos sem o troféu do Campeonato Paulista. Ele desceu de helicóptero com a taça. Inesquecível!
A Vila Belmiro foi palco da primeira Libertadores feminina, em 2009, com o Santos sagrando-se campeão!
A Vila sempre foi um estádio propício para os nossos atletas jogarem, principalmente para lançar talentos. Como presidente, testemunhei de perto o surgimento de Meninos da Vila como Robinho, Diego, Neymar Jr., Ganso.
Esta é uma fonte que não seca. Um campo acostumado a revelar as principais joias do futebol brasileiro.
Em janeiro de 2023, a Vila Belmiro amanheceu diferente. O estádio abriu suas portas para a última despedida com o seu maior ídolo e emocionou milhares de pessoas que marcaram presença. Pelé atuou por 210 vezes no Alçapão e marcou 288 gols. O legado que o Rei deixou é eterno e para sempre ficará vivo no coração de cada santista.
O rebaixamento em pleno Alçapão foi um golpe duro. Ao assumirmos o Santos em 2024, de maneira simbólica, decidimos guardar a camisa 10 durante a disputa da Série B, uma pausa respeitosa em sua memória até o retorno à Série A. Com o acesso garantido e a chegada de Neymar Jr., nosso Príncipe, devolvemos a camisa ao campo, à altura da sua história e da nossa tradição.
O Santos está próximo de colocar em prática um projeto que vai levar a Vila Belmiro ao futuro e colocará o estádio entre os mais modernos do mundo.
A nova Vila Belmiro será um marco para o futebol brasileiro e para a cidade de Santos. Um investimento que está sendo cuidadosamente planejado em todos os seus detalhes para não endividar ou comprometer as finanças do clube.
Assim como o clube, a nossa casa passa por um processo de recuperação. Reconstruir exige tempo, o Santos já passou por diversas fases. E todas as vezes que disseram que era o fim foram começos de novos capítulos. Não estamos apagando um grande incêndio, mas reacendendo a chama.
Agora, estamos prestes a iniciar uma nova era para a Vila, que forma com a sua vizinhança e todo o bairro um organismo vivo, que pulsa a cada jogo. O estádio se transforma, mas o solo sagrado de craques é um só, porque Nascer, Viver e no Santos Morrer é um Orgulho que Nem Todos Podem Ter!
Folha de S.Paulo