Vida em Titã? Geólogo explica no iG Foi Pro Espaço


Imagem de Titã, uma das luas de Saturno, obtida pela sonda Cassini
Crósta, A. P. et al. Icarus, 2021

Imagem de Titã, uma das luas de Saturno, obtida pela sonda Cassini

Um impacto de grandes proporções na lua Titã, de Saturno, pode ter rompido a crosta de gelo da superfície e criado reações químicas capazes de formar moléculas orgânicas, segundo o geólogo Álvaro Penteado Crósta, professor sênior da Unicamp, durante entrevista ao podcast iG Foi Pro Espaço  desta quarta-feira (08).

Crósta, referência em Geologia Planetária, detalhou como a cratera Menrva é o ponto central da pesquisa publicada na revista Icarus, que reacende o interesse sobre a possibilidade de vida extraterrestre em Titã, considerada um dos locais mais parecidos com a Terra.

Segundo o pesquisador, a cratera, identificada a partir de imagens da missão Cassini, expõe material do interior de Titã que normalmente estaria inacessível devido à espessa camada de gelo que recobre a lua.

Um impacto de grandes dimensões poderia romper a crosta que tem até uma centena de quilômetros de espessura e colocar o oceano embaixo em contato com a superfície gelada ”, explicou o geólogo. Titã possui processos geológicos ativos e uma atmosfera densa, tornando-a adequada para estudos sobre a existência de vida em ambientes extraterrestres.

A Cassini, missão lançada no início dos anos 2000, permitiu mapear cerca de 60% a 70% da superfície da lua e coletar dados essenciais sobre sua geologia, hidrologia e criovulcanismo, ou seja, vulcões de gelo que podem transportar materiais do oceano subterrâneo à superfície.

Crósta detalhou que o criovulcanismo em Titã poderia trazer gelo de água, metano e dióxido de carbono do interior da lua para a superfície. “ Esses mecanismos de comunicação entre o oceano e a superfície favoreceriam o desenvolvimento de formas de vida em Titã ”, afirmou.

A lua também apresenta mares e rios de metano líquido nos polos, e sua crosta de gelo cobre um oceano interno possivelmente salgado, mantido líquido pela pressão e pelo calor do núcleo rochoso.

Missões futuras

A pesquisa sobre Titã também serve como preparação para a missão Dragonfly, programada para explorar áreas específicas da lua a partir de 2029. O objetivo será procurar sinais de vida fossilizada de microrganismos que podem ter emergido do oceano subterrâneo e se preservado na superfície.

Crósta enfatizou que, embora a Dragonfly não vá retornar amostras à Terra, seus sensores a bordo permitirão análises mais avançadas do que as realizadas pela Perseverance em Marte.

Experiência internacional e colaboração científica

Crósta, que também trabalhou como pesquisador visitante no Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, comentou sobre a importância da ciência aberta e da colaboração internacional.

Os dados da NASA são disponibilizados para qualquer pessoa, inclusive para estudantes de graduação e pós-graduação no Brasil, que podem desenvolver projetos e dissertações a partir deles ”. 

O pesquisador destacou que cortes orçamentários recentes na agência americana podem prejudicar pesquisas e atrasar missões futuras.

A entrevista foi transmitida nesta quarta-feira (08), às 18h, no canal do YouTube do Portal iG.



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