Saiba quem é o cineasta carioca que desapareceu em flotilha humanitária rumo a Gaza




Veja último vídeo enviado por cineasta carioca à família antes desaparecer rumo a Gaza
O cineasta e ativista carioca Miguel Viveiros de Castro está desaparecido desde quarta-feira (1º), após a interceptação da ‘Global Sumud Flotilla’ por forças navais israelenses. O grupo com mais de 40 embarcações participava de uma missão humanitária rumo à Faixa de Gaza.
Miguel embarcou no barco Catalina e levava alimentos e remédios à população palestina sitiada. A flotilha tinha cerca de 500 pessoas. Horas antes de perder contato com a família, ele gravou vídeos relatando tensão e medo diante da aproximação de embarcações israelenses.
“Estão se aproximando, a qualquer momento a gente vai jogar os telefones na água. Então… tá começando”, disse Miguel, em tom de alerta.
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Documentarista e militante
Miguel Viveiros de Castro construiu sua carreira no cinema documental com foco em movimentos sociais, direitos humanos e causas ambientais.
Miguel Viveiros de Castro estava em missão humanitária rumo à Faixa de Gaza, quando a embarcação foi interceptada pelo governo israelense.
Reprodução redes sociais
Seu primeiro destaque internacional veio com “Brad, Uma Noite Mais nas Barricadas”, um filme sobre o assassinato do videoativista Brad Will no México, durante a rebelião popular em Oaxaca, em 2006.
O filme foi exibido em festivais na Argentina e premiado em países como México, Turquia e Itália.
Outro trabalho de impacto foi “Tornallom”, que retrata a resistência de uma comunidade rural em Valência, na Espanha, contra a especulação imobiliária. O documentário acompanhou os últimos dois anos de luta da comunidade La Punta e também recebeu prêmios internacionais.
Em território brasileiro, Miguel dirigiu “Piauí Entocado”, sobre o trabalho da arqueóloga Niède Guidon na Serra da Capivara.
Em 2015, lançou “Mundurukânia – Na Beira da História”, um filme sobre os povos Munduruku e os impactos de hidrelétricas e mineração na Amazônia.
Ele também é autor de “Em Busca da Caixa-Preta do Golpe de 64”, que resgatou memórias de militantes sindicais e revelou bastidores das lutas que antecederam a ditadura militar no Brasil.
Alguns dos filmes produzidos por Miguel Viveiros de Castro, com foco em movimentos sociais, direitos humanos e causas ambientais.
Reprodução
Veja os filmes de Miguel de Castro:
Mundurukânia, Na Beira da História – documentário sobre aldeias indígenas na Amazônia, lançado em 2015, com trilha sonora de Carlos Malta & Pife Moderno.
Piauí Entocado – sobre o trabalho da arqueóloga Niède Guidon na Serra da Capivara, dando voz à população local.
Tornallom – retrata a resistência da comunidade La Punta, em Valência, contra a especulação imobiliária. Premiado na Espanha, México, Turquia e Itália.
Brad, Uma Noite Mais nas Barricadas – sobre o assassinato do videoativista Brad Will durante a rebelião popular em Oaxaca, no México, em 2006.
Em Busca da Caixa-Preta do Golpe de 64 – investigação sobre os bastidores da luta sindical antes do golpe militar no Brasil.
Desaparecimento e denúncia
Desde a noite de quarta-feira, Miguel não fez mais contato com a família. A coordenação da flotilha afirma que o veleiro Catalina não aparece em nenhuma das listas oficiais de embarcações interceptadas, mas ele é considerado “possivelmente detido”. Em comunicado, os familiares rejeitaram o termo ‘possivelmente’.
“Não aceitaremos a palavra ‘possivelmente’. Não aceitaremos a neutralidade cúmplice. Exigimos ação, denúncia e verdade”.
Eles cobram do governo brasileiro e de organismos internacionais a confirmação imediata do paradeiro de Miguel e o reconhecimento formal de seu desaparecimento. Em nota pública, os familiares de Miguel Viveiros de Castro denunciaram o desaparecimento como um crime e exigiram respostas concretas.
“Miguel não é número, não é abstração. É uma vida, é uma pessoa, é um brasileiro desaparecido em meio a uma operação que ataca não apenas Gaza, mas também aqueles que ousam romper o cerco”, diz o comunicado assinado por Marta Viveiros de Castro e Luiz Rodolfo.
A família apresentou três exigências principais:
Que o desaparecimento de Miguel seja reconhecido formalmente;
Que autoridades brasileiras e internacionais atuem de imediato para esclarecer seu paradeiro;
Que a verdade seja estabelecida, sem “subterfúgios linguísticos” como “possivelmente interceptado”.
“A incerteza é devastadora. É uma forma de sofrimento que destrói por dentro, que impede a família de respirar, que torna cada minuto uma tortura”, afirmam os familiares.
Vídeo antes de sumir
Horas antes de desaparecer durante a missão humanitária da ‘Global Sumud Flotilla’ rumo à Faixa de Gaza, o cineasta carioca Miguel Viveiros de Castro enviou à família um vídeo em que relatava tensão e medo diante da aproximação de embarcações israelenses. (Veja no início da reportagem).
“Estão se aproximando, a qualquer momento a gente vai jogar os telefones na água. Então… tá começando”, disse Miguel, em tom de alerta.
Miguel Viveiros gravou um último vídeo antes de sumir com a flotilha rumo a Gaza
Arquivo pessoal
O vídeo foi gravado por volta das 23h da noite da última quarta-feira (1º), ao se aproximar da costa de Gaza. Na mesma noite, ele já havia registrado ataques com jatos de água contra os barcos da flotilha.
Em outro vídeo enviado à família no Brasil, esse gravado no período da tarde de quarta-feira, Miguel relatou o clima de tensão após ataques sofridos pela flotilha e alertou para a possibilidade de sequestro.
“Vai começar a noite daqui a pouco e vem o momento mais perigoso. Eu espero amanhã poder dar um novo informe dizendo que tá tudo bem, gravando nas praias de Gaza”, disse.
“Se isso não acontecer, provavelmente, a gente foi sequestrado e tá preso em Israel esperando deportação”, afirmou em um dos vídeos enviados à tarde.
Família sente orgulho
Em entrevista exclusiva ao g1, Luiz Rodolfo Viveiros, o pai de Miguel, falou sobre o orgulho que sente do filho e sobre a angústia que cresce a cada hora sem notícias. Conhecido como Gaiola, ele relatou os momentos de aflição desde a perda de contato com o filho.
“Eu tenho uma sensação dividida: um enorme orgulho pelo meu filho desempenhar esse papel em uma causa humanitária e pacífica, mas, por outro lado, uma grande apreensão, ansiedade, angústia para saber onde ele está”, comentou Luís Rodolfo.
Segundo ele, Miguel mantinha contato constante com a família desde o início da viagem, a cada dez minutos, como parte de um protocolo de segurança.
“A última vez foi ontem. Sabíamos que poderia cair a comunicação. Se eles não atendessem mais, era porque tinha acontecido alguma coisa. Fiquei tentando a madrugada toda”, contou.
Israel intercepta flotilha com ajuda humanitária para Gaza
A nota da família cita que havia 15 brasileiros que estavam na flotilla, e que 13 aparecem como sequestrados. “Dois não aparecem — e Miguel é um deles”, diz o texto.
Segundo atualização divulgada pela coordenação da missão, 12 brasileiros foram confirmados como sequestrados pelas forças israelenses e levados ao porto de Ashdod, entre eles parlamentares como a deputada Luizianne Lins (PT) e a vereadora Mariana Conti (Psol).
De acordo com o grupo, o cineasta Miguel de Castro teve sua comunicação interrompida no dia 2 de outubro, às 03h30, não tendo sido confirmada sua interceptação e a embarcação também está desaparecida.
“Israel atacou embarcações desarmadas, carregando ajuda humanitária e voluntários de dezenas de países, em mais uma grave violação do direito internacional. Exigimos a localização imediata de João Aguiar e Miguel de Castro, que foram atacados em águas internacionais pelas forças israelenses.”, dizia o comunicado dos organizadores da flotilha.
Governo brasileiro condena detenção
O governo brasileiro condenou “nos mais fortes termos” a interceptação ilegal e a detenção arbitrária de embarcações da Flotilha Global Sumud por forças israelenses, ocorrida na madrugada desta quarta-feira (1º), em águas internacionais.
Em nota oficial publicada na noite desta quinta, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o Brasil “exorta o governo israelense a liberar imediatamente os cidadãos brasileiros e demais defensores de direitos humanos detidos”.
Segundo o comunicado, a Embaixada do Brasil em Tel Aviv notificou formalmente o governo de Israel sobre a inconformidade com a operação militar.
O Itamaraty também destacou que a ação representa uma “grave violação ao direito internacional”, incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, e reiterou que operações humanitárias devem ser autorizadas e protegidas por todas as partes envolvidas em conflitos.
Barco da Global Sumud navega perto da ilhota Koufonisi, na Grécia, em 26 de setembro de 2025
REUTERS/Stefanos Rapanis
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