Entenda os danos no corpo provocados pela ingestão de metanol


O Metanol é altamente tóxico
Reprodução/Procon SC

O Metanol é altamente tóxico

Embora seja quimicamente muito parecido com o etanol – o álcool presente nas bebidas – a degradação no corpo humano provocada pelo metanol é muito diferente, podendo ser fatal em pouco tempo, após sua ingestão.

Nos últimos dias, casos de mortes suspeitas e internações por causa de intoxicação por metanol, evidenciaram os sérios riscos à saúde da utilização ilegal desse agente na adulteração de bebidas alcoólicas.

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A maioria dos casos se concentram no estado de São Paulo, mas mortes suspeitas estão sendo investigadas também em Pernambuco.

Especialistas ouvidos pelo Portal iG explicaram a dinâmica da intoxicação por metanol e porque o atendimento médico rápido pode salvar a vida de quem ingere a substância tóxica.

O médico legista, radiologista e gastroenterologista Roger Ancillotti, diretor do Centro Estadual de Diagnóstico por Imagem e professor de Ciências Forenses da PUC Rio de Janeiro, explica que o metanol, assim como todos os álcoois, é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal.

E, por ser altamente tóxico, é de metabolismo hepático; ou seja, é rapidamente absorvido para o sangue e chega ao fígado, onde é convertido em algumas enzimas e é tranformado em formaldeído, o ácido fórmico ou o conhecido formol.

“Esse formol, o ácido fórmico, provoca uma acidose sanguínea muito grave – acidez excessiva do sangue – e atinge principalmente órgãos do sistema respiratório e o sistema renal, provocando uma insuficiência renal grave e depois a morte”, descreve o médico.

Depressão do sistema nervoso central

Ainda segundo ele, o ácido fórmico causa também uma depressão do sistema nervoso central – composto pelo cérebro, cerebelo e pela medula nervosa.

Isso provoca confusão mental, convulsões, crises convulsivas, tipo crises epiléticas e pode levar a coma.

A médica e química Gabriela Goldstein frisa a degradação do organismo a partir do ácido fórmico.

“É um ácido que vai descompensar a hemodinâmica, o equilíbrio metabólico. Quando ele aumenta esse pH do sangue, ele vai mudar vários outros fatores, como contração de músculos, capacidade do coração se contrair, capacidade do cérebro”, acrescenta, em entrevista ao iG.

Ela aponta também os danos diretos na perda da produção de energia na mitocôndria celular.

“No fígado, quando o ácido fórmico causa a perda da produção de energia pelas mitocôndrias celulares, as células do fígado conseguem se regenerar. A mesma coisa pode acontecer em outros órgãos, que têm o poder de regeneração, O nervo óptico, por exemplo, não se regenera. Por isso, entra em colapso e a pessoa pode ter uma cegueira irreversível”, diz.

Ainda segundo a médica, 10 ml de metanol já são suficientes para causar toxidade no organismo.

“É uma dose muito baixa de metanol que pode fazer uma intoxicação grave, levando à morte. Mas a acidez metabólica pode ser corrigida, por isso, a importância de atendimento urgente”, salienta.

Antídotos

Os dois antídotos para intoxicação por metanol, que são utilizados no tratamento de emergência, é o etanol farmacêutico intravenoso ou uma substância chamada fomepizol, que não é fabricada atualmente no Brasil.

O Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira (30) que trabalha para trazer ao país o fomepizol, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), já que o remédio não possui registro no Brasil.

Apesar do uso do etanol farmacêutico na veia ser eficiente, especialistas alegam que o fomepizol é mais seguro e atua diretamente ao inibir a enzima que transforma o metanol em ácido fórmico.

Atendimento rápido

O médico Alvaro Pulchinelli, médico toxicologista e diretor técnico da Toxicologia Pardini, do Grupo Fleury, destaca a importância do atendimento médico rápido e eficaz.

Ele reforça que a intoxicação por metanol é muito grave, já que se trata de um álcool utilizado em processos industriais como solventes e em vários outros processos, incluindo a produção de combustível.

“No início, essa intoxicação se parece muito com uma embriaguez comum. A pessoa, então, fica com a fala arrastada, o julgamento alterado, reflexos diminuídos, um andar cambaleante. Porém, ao contrário da intoxicação pelo etanol, essa intoxicação progride. Por isso, ao suspeitar que se consumiu uma bebida possivelmente falsificada e esses sintomas apareceram é importante procurar auxílio médico o mais rápido possível para ser feita uma avaliação”, ressalta Pulchinelli.

O tratamento poderá reverter a ação devastadora do metanol com o uso dos antídotos – ácido etílico intravenoso ou o fomepizol. E o prognóstico será melhor se o diagnóstico for precoce.

“Não há tratamento caseiro para essa intoxicação. Não adianta esperar passar os sintomas, perder tempo tentando ingerir muita água ou tomar qualquer medicamento que possa, em tese, cortar a ressaca ou a bebedeira. As consequências de uma intoxicação não tratada são gravíssimas. É muito importante buscar atendimento médico”, conclui Alvaro Pulchinelli.



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