entenda os efeitos no Brasil


Os efeitos da La Niña podem variar de um ano para o outro
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Os efeitos da La Niña podem variar de um ano para o outro

Nas últimas semanas, o Oceano Pacífico Equatorial tem registrado variações de temperatura que sinalizam uma possível chegada do fenômeno climático conhecido como La Niña.

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Segundo a Agência Meteorológica dos Estados Unidos (NOAA), a temperatura do mar na região central do Pacífico chegou a -0,5 °C na última semana de setembro, que é exatamente o limite para caracterizar esse resfriamento da La Niña.

No entanto, ainda não é possível dizer que ela já se instalou, uma vez que a baixa nas temperaturas precisa se manter por pelo menos quatro semanas consecutivas. Por agora, a situação é de “neutralidade”, segundo a NOAA, que aponta 71% de chance para o cenário continuar nas próximas semanas.

La Niña x El Niño

“A La Niña se caracteriza pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico. É um fenômeno oceânico-atmosférico, ou seja, uma interação que acontece entre as águas superficiais do oceano e a atmosfera, que impacta nas condições de chuva e temperatura de todo o globo”, explica o meteorologista Celso Oliveira, da Tempo OK, ao Portal iG.

Além do La Niña, existe outro fenômeno relacionado à temperatura das águas do Pacífico: o El Niño. Ele é o oposto, quando o oceano fica mais quente.

“Apesar de serem fenômenos contrários, nem sempre os impactos são exatamente opostos”,  diz Oliveira. Isso ocorre porque cada evento interage de forma diferente com a atmosfera, o que faz com que os efeitos variem de região para região e de evento para evento.

Ele adiciona que, nas últimas décadas, a comunidade científica passou a reconhecer que os impactos dos dois fenômenos podem variar bastante, “o que indica o quão difícil é relacionar os efeitos desses fenômenos com as mudanças climáticas e como isso deve impactar os eventos futuros”.

A La Niña costuma ocorrer a cada 2 a 7 anos e durar de 9 meses a 1 ano, enquanto o El Niño surge a cada 5 a 7 anos e pode se estender por 1 a 2 anos – ou seja, historicamente, cada um aparecia cerca de uma vez a cada 20 anos. Segundo Oliveira, estudos indicam que essa frequência pode dobrar até o final do século XXI, passando para um episódio a cada 10 anos.

“Nos próximos anos, os eventos também podem ser mais intensos do que os que acontecem hoje”, conclui.

Como o La Niña pode afetar o Brasil?

De acordo com Oliveira, os efeitos clássicos da La Niña no Brasil variam conforme a região.

“No Sul, a tendência é de redução e irregularidade das chuvas, que pode resultar em períodos prolongados de estiagem e temperaturas elevadas. Já no Nordeste a chuva aumenta em quantidade, com volumes que podem causar inundações, erosões no solo e enchentes”, diz.

Ele explica que o Sudeste também pode registrar uma redução nas chuvas, já que a La Niña posiciona o corredor de umidade mais ao norte, o que favorece as precipitações entre o Espírito Santo, norte de Minas Gerais e metade sul da Bahia. Nas outras áreas, o esperado é predomínio de tempo firme e temperaturas elevadas.

Na prática, a La Ninã pode trazer alguns prejuízos para a população: no campo, a estiagem no Sul pode afetar a agricultura, por exemplo. Já no Nordeste, o excesso de chuvas pode alagar plantações e até causar transtornos urbanos, como enchentes e alagamentos.

A energia elétrica também pode ficar mais cara nos lugares onde a chuva diminui. Segundo a Climatempo, os reservatórios das hidrelétricas podem cair, o que aumenta a dependência das termelétricas – que são mais caras. Essa variação toda reflete diretamente no valor da conta de energia.



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