
Haddad e Hugo Motta
O governo Lula planejou um tiro de canhão eleitoral com a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
O projeto promete beneficiar 10 milhões de brasileiros e deixou uma encrenca na mão do Congresso: na véspera das eleições, não seria muito popular se posicionar contra um beneficio para tanta gente.
Lula montou algumas trincheiras no terceiro mandato como presidente. Uma delas é o da justiça tributária.
Diferentemente do discurso de conciliação dos mandatos anteriores, desta vez ele não faz tanta questão de afagar os mais ricos. Pelo contrário, não perde a chance de apontar o dedo na cara e explicar de onde vem tanta desigualdade no país.
Mas o projeto tem um problema de saída. Para isentar tanta gente, o dinheiro precisa vir de algum lugar. Isso explica a campanha do governo pela taxação das fortunas dos mais ricos.
É aí que a coisa se complica.
O projeto de isenção do IR só avança com os votos do centrão. O centrão só consegue eleger os seus se tiver o voto dos mais pobres no ano que vem. Mas todos ali legislam mesmo para quem financia suas plataformas eleitorais: a fatia mais rica da população brasileira. Ou seja: eles mesmos. Ou os parentes. Ou os apoiadores de campanha.
Ninguém ali está disposto a dar um tiro no próprio pé para ajudar Lula a se reeleger em 2026.
Mas não podem falar isso em voz alta. Usam, então, a conversa de responsabilidade fiscal. É um jeito bonito de dizer que se Lula quer ficar bem com a classe média e média baixa ele que movimente o cobertor curto de seu eleitorado e mexa no orçamento da Saúde e da Educação.
Para o centrão e a direita, era melhor que o Estado nem oferecesse serviços em escolas e hospitais. Seria um filão a mais para grupos empresariais dos setores das quais são sócios ou ligados por outras vias.
Em resumo: todos querem ficar bem com o eleitor, mas ninguém quer cortar na própria carne. Essa é uma batalha que está só começando.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG
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