
Terceira morte devido intoxicação por metanol foi confirmada em São Paulo
A Polícia Federal entrou em campo, nesta terça-feira (30), para apurar o possível envolvimento do crime organizado com a adulteração de bebidas alcoólicas com metanol.
Até o momento, dez casos de intoxicação são investigados. Três deles acabaram em morte.
A conexão entre o envenenamento e os tentáculos do PCC foi levantada no fim de semana pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação. Segundo a entidade, a operação da PF que lacrou postos de combustíveis que vendiam gato por lebre (ou melhor, 90% de metanol misturado a gasolina) pode ter levado a facção a mudar o mindset. O produto, que já era proibido se usado acima de 5% nos combustíveis, passou, segundo a lógica, a alimentar a indústria da bebida adulterada. Daí o aumento de casos de notificações em poucos dias.
Andrei Rodrigues, diretor geral da PF, disse que o inquérito recém-instaurado se explica pela possível conexão com investigações recentes feitas no Paraná, que se conectaram com outras duas em São Paulo e mostraram o funcionamento da cadeia de importação de metanol pelo Paranaguá.
É parte do trabalho dele, mas há razões para imaginar que a ligação é improvável. O próprio secretário da Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, descartou de cara a conexão.
De fato, mesmo a atividade criminosa tem alguns limites de atuação. Um deles é a necessidade de fidelizar a clientela, mantendo-a viva.
Uma das mortes confirmadas foi a de um advogado de 45 anos que acordou desorientado, sem conseguir enxergar, e foi levado ao hospital pela mulher e a mãe. Ele sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu pouco depois.
Os sintomas batem com o que especialistas descrevem como efeito da ingestão de metanol no corpo. É, realmente, destruidor.
Para se ter uma ideia, uma pessoa viciada em crack tem 30% de chances de morrer nos primeiros cinco anos do vício.
O metanol é usado para produção de solventes, plásticos, tintas e biodiesel.
De acordo com especialistas, não é seguro para consumo humano mesmo em pequenas quantidades. O risco não é a ressaca no dia seguinte. É a perda da visão ou da própria vida.
Há outro detalhe. Os brasileiros consomem, em média, 13 litros de álcool por ano. Um tanque de combustível, desses que enchemos de tempos em tempos, comporta cerca de 55 litros. A diferença de escala não permite migrar o produto de um “consumidor” para outro sem prejuízo.
A PF faz o papel dela ao iniciar a investigação e detalhar os tentáculos da venda ilegal do produto.
Mas apontar o dedo do crime organizado nos casos de contaminação é (ainda) paranoia.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG
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