Por que técnicos argentinos não têm o mesmo sucesso no Brasil


Hernán Crespo, do São Paulo (esq.), e Abel Ferreira, do Palmeiras
Reprodução Instagram/@libertadoresbr

Hernán Crespo, do São Paulo (esq.), e Abel Ferreira, do Palmeiras

A eliminação do São Paulo de Hernán Crespo na Libertadores , abre novamente a questão sobre o desempenho dos técnicos estrangeiros no Brasil, principalmente a diferença nos resultados entre os técnicos argentinos e portugueses, principalmente Abel Ferreira, que colocou o Palmeiras em mais uma semifinal. Sem discutir a qualidade do trabalho e a origem dos treinadores, comparamos alguns números e tentamos encontrar algumas respostas para esta pergunta.

Resultados Argentina x Portugal

Nunca um time brasileiro foi campeão da Libertadores ou Sul-Americana com treinador argentino. Na verdade, os “hermanos” só ganharam 1 título da Libertadores treinando clubes estrangeiros. Também só ganharam o campeonato brasileiro, quando Carlos Volante comandou o Bahia no título da Taça Brasil de 1959, portanto há mais de 60 anos, reconhecido somente em 2010.

Alguns chegaram perto de grandes títulos, como Edgar Bauza, que chegou à semifinal da Libertadores de, pelo São Paulo, e Juan Pablo Vojvoda, com o vice da Sul-Americana pelo Fortaleza.

Entre os estrangeiros, fica evidente o destaque dos treinadores portugueses, que ganharam 3 Libertadores, com Abel Ferreira, Jorge Jesus e Artur Jorge, além 4 campeonatos brasileiros e uma Copa do Brasil. 

Curiosamente, por causa da dupla cidadania, treinadores com nacionalidade italiana ganharam 11 títulos brasileiros, com Ruben Minelli, Felipe Scolari, Tite, além do próprio Carlos Valente. Foram também duas Libertadores e uma Sul-Americana.

Qualidade dos treinadores

Mesmo sem discutir a parte técnica, não dá para dizer que os treinadores argentinos não têm muita qualidade. Prova disso é que ganharam 27 títulos da Libertadores — quase todos por clubes do seu país, é verdade. Mas também não dá para ignorar que a reconhecida qualidade dos jogadores argentinos pesou.

Embora alguns treinadores lendários do país vizinho não tenham trabalhado no Brasil, dois deles passaram pela seleção da Argentina: Jorge Sampaoli, antes de Atlético-MG, Flamengo e Santos, e Edgar Bauza, logo que saiu do São Paulo. Nesse ponto, os portugueses estão um pouco à frente, com Artur Jorge, António Oliveira e Paulo Bento comandando a seleção de Portugal.

Outros treinadores da Argentina chegaram com títulos da Libertadores e da Sul-Americana na bagagem — quase sempre por times do seu país —, mas não conseguiram repetir o feito comandando clubes brasileiros. São eles: Edgar Bauza (Libertadores com San Lorenzo), Hernán Crespo (Sul-Americana com Defensa y Justicia), Ramón Dias (Libertadores com River Plate), Luis Zubeldía (Sul-Americana com LDU) e Antonio Mohamed (Sul-Americana com Independiente).

Entre os portugueses, cinco ganharam a liga de Portugal, mas não haviam conquistado a Europa, onde a concorrência é bem maior, naturalmente.

Barreira da língua

Outro fator que pode ajudar a explicar a falta de títulos importantes é a barreira da língua. Embora o brasileiro consiga compreender o Espanhol (e vice-versa), não dá para dizer que é a mesma coisa. Comparar os resultados dos técnicos portugueses — apesar das diferenças do Português falado na Europa — pode alimentar esta questão.

Aposta em jogadores argentinos

É impossível não admitir que os jogadores argentinos têm talento. Também entendemos que os maiores craques da Argentina não atuam ou atuaram no Brasil. Pelo menos os trabalhos de Luis Zubeldía e Hernán Crespo, no São Paulo, mostram que os treinadores confiam no talento do seu país. O time eliminado pela LDU contou com quatro compatriotas de Crespo. Mas também não dá para concluir que isso influenciou no resultado final.

A título de comparação, novamente com os técnicos portugueses, nenhum deles contou com jogadores compatriotas para terem sucesso (ou fracasso). Mas apostaram mais nos jogadores brasileiros, com poucas e importantes exceções.

Curiosamente, o Flamengo, de Jorge Jesus, por exemplo, contou com poucos estrangeiros e nenhum argentino. O Palmeiras de Abel Ferreira gosta de apostar em jogadores latinos, mas — talvez por mera coincidência — não contou jogadores argentinos nas principais conquistas. Flaco López pode estar perto de quebrar esta escrita.

Menor investimento

Se compararmos os investimentos dos clubes treinados por argentinos com aqueles treinados por portugueses, como Flamengo, Palmeiras e Botafogo, a disputa fica um pouco desigual. Mas também é preciso considerar que o sucesso dos treinadores de Portugal contribui para essa diferença.

Quantidade de treinadores

A quantidade de treinadores argentinos em toda a história é menor do que o número de portugueses nos últimos cinco anos — nem todos bem-sucedidos. Mais uma vez, o bom desempenho dos técnicos portugueses interfere diretamente para aumentar essa lacuna.



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