Clubes perdem identidade com camisas de cores nada a ver – 25/09/2025 – O Mundo É uma Bola


É cada vez mais comum. Sintonizo a TV em um jogo e vem a estranheza. Cadê o time que quero ver? Será que errei de canal?

No Campeonato Inglês, Burnley versus Liverpool, o atual campeão da Premier League. Tem um time vestindo camisa vinho e o outro, verde. Cadê o Liverpool, com seu uniforme vermelho?

OK, o vermelho pode confundir visualmente com a camisa do mandante. Pois bem, o segundo uniforme do Liverpool é branco. Só que Salah e companhia estavam trajados de… verde.

Tem justificativa? Até tem, mas é preciso boa vontade para aceitar. O escudo do Liverpool, restrito às cores vermelho e branco na maior parte de sua história de 133 anos, atualmente tem coloração verde, no topo e na base.

Assim, a equipe apelidada de Reds (Vermelhos) optou por atuar naquele jogo com seu terceiro uniforme para esta temporada. É a praga do terceiro kit. Que não é nova, porém agora expande-se a passos largos.

Na Champions League, o Atlético de Madrid, famoso pela camisa com listras verticais vermelhas e brancas, trajou-se todo de azul diante do Liverpool.

O mesmo fez o Arsenal contra o Athletic Bilbao, com um azul mais escuro –o time inglês é conhecido pela camisa vermelha com mangas brancas. Alguém disse que lembrava o Chelsea, rival londrino que se apresenta quase sempre azulado.

O azul desponta como cor da moda para a descaracterização. Inclusive no Brasil.

Neste Campeonato Brasileiro, o Santos dispensou o manto branco e, mesmo jogando como mandante, na Vila Belmiro, apresentou-se de azul-claro. O rubro-negro Sport Recife colocou camisa azul esverdeada no domingo passado, na Ilha do Retiro.

Nesses casos, assim como no de outro rubro-negro –o Milan, que mais de uma vez no Campeonato Italiano, atuando em casa ou fora, trajou um inexplicável amarelo–, nem dá para argumentar que essas cores estão no escudo do clube.

Dirigentes e marqueteiros das equipes dirão que não, mas estou convencido de que a razão de os times irem a campo com vestimentas aberratórias é comercial.

Diferentemente de torcedores mais velhos, os fãs mais novos são mais permissivos em relação a ações novidadeiras. E os jovens são um mercado consumidor forte, estando dispostos a comprar a terceira a camisa do clube do coração por preço salgado –na loja do fabricante das camisas do Santos, a unidade da azul sai por R$ 499,99–, só para dizer que tem.

Cada um compra o que quer e usa o que quer ( “gosto não se discute”), mas para mim, a não ser que o torcedor pretenda ir a um baile ou bloco de Carnaval, é um contrassenso relacionar seu time a uma cor sem identidade com ele.

Dez anos atrás, o alvinegro Corinthians vestiu laranja(?!) em uma partida. Houve rumores de que relançaria neste ano camisa nessa cor. Não será, e sim preta, porém com presença do abóbora (escudo, gola, número). Homenagem ao holandês Memphis Depay, que na seleção de seu país fica alaranjado? Só pode.

Independentemente do motivo, não deveria poder. É uma deturpação que confunde e que desonra a história de cada agremiação. Fere profundamente ir a campo enterrando a tradição.

Vivencia-se o slogan ao contrário de um xampu anticaspa das antigas (Denorex), que tinha aparência e cheiro de remédio: “Parece, mas não é”. Com times de futebol, vigora o “não parece, mas é”.

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Folha de S.Paulo