A terra do leite e do mel


A bandeira de Israel
Levi Meir Clancy/Unsplash

A bandeira de Israel

“Voo charter chega batendo o recorde de imigração em duas décadas” foi o título de um press release que recebi hoje. Ele me remeteu à uma cena que vive na madrugada do dia 13 de outubro de 2023, enquanto eu e meu marido aguardávamos ansiosos, no aeroporto de Roma, o embarque para finalmente retornarmos à nossa vida em  Israel.

A guerra iniciada pelo Hamas no dia 7.10.23 nos pegou de surpresa em plenas férias. Nosso voo de retorno, no dia 10 de outubro, havia sido cancelado: todas as companhias internacionais suspenderam suas operações para o país e a única solução era conseguir comprar passagens em voos de resgate disponibilizados por duas companhias israelenses.

Elas não apenas  custavam caro como também se esgotavam em questão de minutos.

Tela de voos do aeroporto Ben Gurion, em Israel
Miriam Sanger

Tela de voos do aeroporto Ben Gurion, em Israel




“Não vale a pena esperar um pouco?”

Enquanto esperávamos para embarcar na madrugada de 13 de outubro, cansados do atraso da partida, nos sentamos na área de embarque justamente ao lado de um grupo de brasileiros que aguardava para embarcar para São Paulo. Meu marido, israelense, percebeu bem antes de mim que eles falavam português e, expansivo como é, puxou conversa.

Um minuto depois, um deles me perguntou, quase sussurrando (talvez achando que meu marido pudesse entendê-lo):  “Sério mesmo que você quer voltar para Israel no meio da guerra? Não vale a pena esperar um pouco?”

Nem a pau, Juvenal: estávamos loucos para voltar para casa, mesmo sabendo o que nos esperava.

A opção de retardar nossa volta não passou por nossas cabeças. Nem na de dezenas de milhares de israelenses em todo o mundo que pularam imediatamente no primeiro voo que apareceu. Entre eles estavam os que haviam sido convocados pelo exército e os que não haviam. Homens, mulheres, famílias completas. Os que estavam pelo mundo a passeio ou a trabalho. E também aqueles que moram em outros países – mas que, no entanto, nunca deixaram de ser filhos legítimos da terra do leite e do mel (mesmo que às vezes coalhada e endurecida).

Ninguém no mundo podia acreditar em algo assim, e as comparações com a fuga de homens russos e ucranianos, logo no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, eram recorrentes. Em Israel, no entanto, é assim que as coisas funcionam: a casa está em chamas, todo mundo corre para apagar, nem que assoprar seja o máximo que você consiga fazer.

Também o fluxo de novos imigrantes não foi interrompido durante a guerra, e eles continuaram chegando de todas as partes do mundo. Ontem, pela primeira vez desde outubro de 2023, um voo charter completo aterrissou em Israel, com 225 americanos a bordo. Eles colaboraram para que este fosse o mês de agosto recorde em número de imigrantes nos últimos 20 anos, e se juntaram a outros 7 mil novos imigrantes que se mudaram para Israel desde o início da guerra. São 45 famílias, incluindo 125 crianças, e uns tantos solteiros. O mais jovem entre eles tem 9 meses e o mais velho, 72 anos.

Vá entender uma coisa dessas.



IG Último Segundo