
Hiro Onoda (à direita) e seu irmão mais novo, Shigeo Onoda (1944)
Em 1974, o mundo ficou perplexo ao conhecer a história de Hiroo Onoda, um ex-oficial de inteligência do Exército Imperial Japonês, que passou quase três décadas escondido em uma ilha das Filipinas. Para ele, a Segunda Guerra Mundial ainda não tinha terminado.
Onoda havia desembarcado em Lubang, em dezembro de 1944, com uma ordem clara: sabotar a retaguarda inimiga e, sob nenhuma circunstância, se render. Quando os Aliados tomaram a ilha meses depois, ele e outros soldados se embrenharam na floresta. Mesmo após receber panfletos que anunciavam a rendição do Japão, ele acreditava tratar-se de propaganda enganosa.

Folheto Informativo divulgado pelos Estados Unidos, informando as tropas japonesas da rendição do Japão
Três décadas na selva
Nos anos seguintes, Onoda sobreviveu caçando, roubando arroz de moradores locais e vivendo como se a guerra ainda estivesse em curso. Seus companheiros foram se rendendo ou morrendo, até que ele ficou sozinho. Em sua mente, a missão era clara: resistir a qualquer custo.
O mundo já havia mudado quando, em 1974, o jovem explorador japonês Norio Suzuki decidiu procurar três “figuras impossíveis”: um panda, o abominável homem das neves e o soldado que não sabia que a guerra havia acabado. Para espanto geral, Suzuki encontrou Onoda.
Convencê-lo, no entanto, foi outra história. Onoda só aceitou depor as armas quando seu antigo comandante foi levado a Lubang para, pessoalmente, revogar a ordem dada em 1944.
Em março de 1974, aos 52 anos, Hiroo Onoda deixou a selva, com fuzil, granadas e a espada ainda intactos.

Hiroo Onoda (à direita) ofereceu sua espada militar ao presidente filipino Ferdinand Marcos (esquerda) no dia de sua rendição
Do Japão ao Mato Grosso do Sul
Ao retornar ao Japão, Onoda foi recebido como uma figura quase mítica: símbolo de lealdade, obstinação e disciplina. Mas a adaptação à vida moderna não foi fácil.
O Japão dos anos 1970 já era outro país, distante da mentalidade militar em que ele havia parado no tempo.
Pouco depois, ele decidiu começar de novo em terras distantes. O destino escolhido foi o Brasil, mais precisamente o município de Terenos, no estado de Mato Grosso do Sul, onde a comunidade nipo-brasileira o acolheu. Lá, Onoda se dedicou à pecuária e administrou uma fazenda de gado.

Onoda recebeu em 6 de Dezembro de 2006, a medalha de mérito Santos-Dumont da Força Aérea Brasileira. Na foto, em fevereiro de 2010, a Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul conferiu-lhe o título de “Cidadão sul-mato-grossense”.
Foram quase dez anos vivendo no interior do Brasil, em contato com a natureza e longe dos holofotes. Muitos moradores ainda lembram da figura reservada, mas sempre educada, que parecia finalmente ter encontrado algum sossego após décadas de guerra.
Um legado de resistência
Nos anos 1980, Onoda retornou ao Japão e fundou a Onoda Shizen Juku, uma escola de sobrevivência para jovens. Ali, pregava disciplina, autossuficiência e respeito à natureza.
Tornou-se uma personalidade curiosa: ao mesmo tempo celebrado como herói e criticado por não reconhecer plenamente o sofrimento causado durante sua resistência em Lubang.
Hiroo Onoda faleceu em 2014, aos 91 anos, em Tóquio. Sua história continua sendo uma das mais surpreendentes da Segunda Guerra Mundial, um retrato de como a guerra não termina ao mesmo tempo para todos, e de como até um soldado perdido na selva pode acabar encontrando paz em um lugar inesperado, como o interior do Brasil.
IG Último Segundo