Eduardo Corrêa: Fisiculturismo ‘não é meritocracia’ – 14/08/2025 – Músculo


Muito antes de o fisiculturismo se destacar como um dos principais esportes no Brasil, a nação já era representada por Eduardo Corrêa nos palcos mais visados e competitivos do planeta. Com nove participações no Olympia (dentre elas, oito resultaram na ida do atleta à final da competição), ele é tido por especialistas e fãs como o maior nome desse esporte em todo o país.

Ao falar sobre resultados polêmicos que obteve ao longo de sua carreira, Corrêa afirma que o esporte não é meritocrático: “Você tem que entender que o resultado não o define. É um esporte em que se trata de comparação. Um atleta que fez 80% pode vencer um adversário que deu tudo de si. Não é meritocracia, fisiculturismo não é merecimento. A primeira coisa que acontece quando um atleta meu não vence uma competição é ele descer do palco, me abraçar e dizer: ‘Ninguém fez mais dieta que eu, ninguém se esforçou mais que eu’. Eu respondo que não é um campeonato de quem fez mais, é um campeonato de quem entregou um físico melhor no dia. Isso não depende da sua vontade, do seu merecimento. Existem questões genéticas, questões de ambiente. Há outras questões que determinam o resultado, até mesmo a subjetividade da arbitragem. Se o atleta não entende isso, ele sempre será frustrado”.

Esse tipo de experiência, segundo o próprio fisiculturista, ajuda-o com a transição de atleta para treinador pela qual passa no momento. “Aprendi muita coisa, adquiri muita experiência, e trabalhar com esses jovens me dá a oportunidade de utilizar e repassar esse conhecimento. Isso dá todo o sentido para algumas coisas que eu vivi, que me fizeram pensar se eu estava realmente no caminho certo”, destaca.

Atualmente, o atleta catarinense cuida da preparação de diversos jovens fisiculturistas, como João Marques, 19, e Ricardo Lobo, 17, que competem na categoria “teen” da Classic Physique.

Sobre a relação com seus atletas, o fisiculturista de 44 anos aponta que é uma via de mão dupla: “É como se esse ciclo se fechasse, é como se hoje eu pudesse entender os motivos pelos quais eu vivi cada situação, cada aperto. Assim como eu desempenho um papel importante na vida deles, eles são importantes para mim também. Eles me ajudam na questão de me desconstruir e reconstruir, assim eu consigo entender e compreender cada vez melhor as mudanças pelas quais eu tenho passado e aceitar este meu novo papel”.

“É uma relação de aprendizado […] conviver com os meninos, é algo que me dá a oportunidade de repassar toda a bagagem que eu adquiri ao longo da minha vida e da minha carreira. Eles são tão importantes para mim quanto eu sou para eles”, acrescentta Corrêa.

O fisiculturista também não esconde a vontade que tem de ser “ultrapassado” por outros nomes do cenário brasileiro, como Ramon Dino e Rafael Brandão. “Sou muito grato e trabalho para que atletas como eles consigam [vencer o Olympia]. Eu sei que só existe uma forma de eu me perpetuar neste universo, que é ajudar esses atletas a darem continuidade a isso”, pontua.

Por fim, Corrêa conclui que poderia “se apoiar” em seus títulos para sempre, mas garante que sua carreira no esporte não se resume a isso: “Hoje, eu já consegui sair e me desapegar um pouco disso. […] Não é sobre mim, é sobre esta nova etapa: usar o que eu aprendi para ajudar novos atletas, novos sonhos, novas oportunidades. Eu me sinto muito vitorioso e sinto que ganho muito com isso, pois é uma experiência diária que eu tenho: ensinar e aprender sobre essa arte que é o fisiculturismo”.

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Folha de S.Paulo